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PRF terá que cortar na própria carne para manter a confiança do povo

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Andréa Moura (*)

“Prometo, promover com bravura e integridade a justiça e a cidadania, cumprir e fazer cumprir a Constituição e as leis do Brasil, e ainda que riscos eu tenha que enfrentar, honrarei meus deveres de garantir a segurança e a preservação da vida nas rodovias federais e áreas de interesse da União”.

Esse é o juramento que um Policial Rodoviário Federal faz ao concluir o curso de formação. Mas parece que ele foi esquecido pelos policiais que, de maneira desumana, provocaram a morte de Genivaldo de Jesus Santos, 38 anos, nesta quarta-feira, em Umbaúba, interior de Sergipe.

Também foram de encontro à Constituição Federal, a mesma que juraram defender, especialmente contra o Art. 5°, onde está escrito que todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

Em tempos de redes sociais e de celulares “que tudo veem”, não tem como negar o que os três policiais fizeram, tampouco a crueldade com que fizeram: abordagem truculenta a uma pessoa desarmada, que teve mãos e pés amarrados pelos policiais – portanto, não oferecia qualquer tipo de perigo a eles – e que fora jogada dentro do porta-malas da viatura, onde ainda teve usado contra ele spray de pimenta e gás lacrimogêneo, causando-lhe a morte por asfixia.

A PRF é uma instituição briosa, com uma história linda e que não pode ser maculada pelas ações deturpadas (para não usar palavra pior) de policiais cujos tons saíram da harmonia da instituição. Por isso, ela tem que fazer mais que emitir uma nota dizendo que foram empregadas técnicas de imobilização e instrumentos de menor potencial ofensivo para a contenção de uma pessoa que já estava amarrada e jogada no porta-malas da viatura. Tem que fazer mais que somente afastá-los da função.

É preciso cortar na própria carne e, mesmo com dor, assumir que houve má conduta, excesso, que a guarnição agiu de maneira errada, afinal, contra gravações de toda a abordagem que estão espalhadas pelo mundo não há muito o que dizer. Cortar na própria carne é o início de um remédio amargo para essa crise instalada, e que pode ter, dentre as várias consequências negativas, a perda da confiança da população.

Para além de toda a morbidez desse caso, também causou estranheza ver um diálogo em um programa jornalístico de Sergipe, no qual duas pessoas comparavam o caso de Genivaldo com o do norte americano George Floyd, morto por um policial, em 2020, também por asfixia.

Eles diziam que a morte de Genivaldo fora pior que a de Floyd, que morreu sem ar tendo o pescoço sob o joelho do policial. Agora me diga se é possível comparar ações truculentas e mortes por asfixia, uma foi melhor que outra? Morte truculenta é morte truculenta e ponto. O “modus operandi” foi diferente, de igual somente o fato de as vítimas serem pessoas negras, que não ofereciam perigo algum, já rendidas e que morreram por asfixia. De igual: os agressores serem agentes da lei que deveriam protegê-los, não o contrário.

E já que entramos nessa seara desnecessária sobre semelhanças e diferenças entre os casos, vou citar mais algumas diferenças. Nos Estados Unidos, a população de vários estados protestaram nas redes sociais, sim, protestaram, mas também foram às ruas e exigiram justiça, que aconteceu em forma de alterações na lei e na condenação do acusado a 22 anos de prisão.

Aqui, apenas revolta em rede social, alguns lamentos de algumas autoridades também em rede social, uma pequena manifestação dos populares de Umbaúba na manhã desta quinta-feira… e mais nada.

A notícia correu mundo? Correu. Mas, conhecendo um pouco de como as coisas costumam ser nesse Brasil varonil, não acredito muito que os efeitos que surgirão desse lamentável ocorrido sejam, de longe, parecidos com os resultantes do caso George Floyd.

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(*) Andréa Moura é jornalista, mantenedora do Portal Pra você saber

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