… ou Quando a vida ficará tarde demais para nós?
Pernambuco, hoje, não é só cinema. Pernambuco, hoje, é também literatura da melhor qualidade. Aliás, sempre foi assim. Só o nome de um Osman Lins já pesaria em afirmação por todos os meus julgamentos… junte-se a ele um Marcelino Freire, um Miró de Muribeca, uma Luzilá Gonçalves, um Alexandre Furtado, verdadeiros guerreiros da arte da palavra, entre tantos outros poetas e prosadores vivos (e outras centenas de falecidos).
E o que dizer de um Raimundo Carrero? Monstro das letras, simplesmente. Pouco lido, é certo. Por falar nele, no Carrero, convenhamos: é dos grandes prosadores de nosso país. O escritor nascido na cidade de Salgueiro-PE lançou em 2015 o livro ‘O senhor agora vai mudar de corpo’, cujas tentativas de escrita datam de 2010, quando sofreu um acidente vascular cerebral. É justamente acerca de tal questão que o livro versa, ou seja, sobre a nova moldura corporal que o escritor passa a carregar após o AVC.
Carrero demarca a obra supracitada sob o signo do corpo, espaçando seu roteiro dentro de uma mistura dos significados de corpo com as metáforas do crime, das sombras, das fezes, das aranhas, do Cristo, da arte, dos miseráveis, da política, da luz e de la nave (leia o livro, caso queira compreender tudo aqui exposto). Ao final, presenciamos um escritor em processo de dissecação de si para si, mesmo que o sangue escorra para bem longe dos ralos visíveis, mesmo que não hajam cortes ou interceptações mais invasoras na pele. O que dói, na verdade, é a dor na alma.
‘O senhor agora vai mudar de corpo’ lembra-nos logo de cara do Gregor Samsa kafkiano, que se vê desconfigurado, em forma de inseto, e totalmente atordoado por isso. O livro de Carrero é sobre um tipo de metamorfose a que estamos sujeitos, todos nós estamos. Nada muito esdrúxulo e inacontecível. Como bem sabemos, animais mudam de pele. Não somos animais?
Ao passo que detém os leitores dentro de tais detalhamentos corpo-físicos, num esmiuçar bastante protuberante, Carrero burila seu passado com uma pá invisível que escava de maneira profunda suas memórias pernambucano-recifenses. Passeamos, pois, pela história de sua ligação com o movimento Armorial até momentos de extrema intimidade poética, onde o autor nos brinda com referências lítero-artísticas marcantes para a fundação de toda a sua obra.
Indubitavelmente, o livro é um pequeno diamante de nossa literatura contemporânea. Simples, porém inegavelmente aterrador. Um relato sincero de como as coisas podem ficar após um desarranjo de nossa máquina corpórea. Talvez até, um pequeno postulado poético de como se safar de tais agruras, ou mesmo de como dirimir a dor de conversões desta natureza. Dirimir no sentido de amenizar, eu disse. Até porque só conhece a dor quem a possui.
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