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Rita Lee nos mostrou o que significa ser verdadeiramente livre

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Cláudio Knapp Ottoni (*)

Sou de uma geração que aprendeu as primeiras palavras ao som de Rita Lee. Não tínhamos noção, naquele momento da infância em que tudo era mágico e impreciso, que estávamos em plenos anos de chumbo. Lá fora havia tortura, censura e arbítrio, mas crescíamos embalados por uma voz única que cantava alegria, rebeldia e liberdade.

Foi assim, como raios de sol em um horizonte escuro, que aquelas músicas chegavam aos nossos ouvidos e faziam vislumbrar um mundo em que as emoções eram complexas, as relações humanas podiam ser malucas, mas a vida podia ser feliz.

Nessa espécie de metaverso colorido do Brasil, quem fazia acontecer e era a maior líder de uma banda de rock era uma mulher com um uivo libertário: “Não venha me dizer do meu compromisso com isso ou aquilo”, “o que eu era ou sou por enquanto é tudo aquilo que eu digo e canto com um pouco de espanto num palco ou num canto”, cantava Rita à frente do Tutti Frutti. “Enquanto uma coisa vai, sempre outra coisa vem”, “eu não tenho hora para morrer, por isso sonho”, “depois da estrada começa uma grande avenida, no fim da avenida, existe uma chance, uma sorte, uma nova saída”, lições para a vida toda ensinadas em músicas com a leveza de um papo de melhor amiga.

“Voe comigo e sinta o que eu sinto”. Sarcástica, irônica, debochada, anarquicamente sábia, Rita nos colocava nesse lugar privilegiado de onde dava para ver tudo bem melhor. O negócio era botar a boca no mundo, cair no colo da Mãe Natureza, dançar para não dançar e ouvir o som maior da cantiga de acordar. E que, ao contrário de seguir o rebanho, muito melhor era o caminho inconformista e original, ainda que tortuoso, da ovelha negra. “Um belo dia resolvi mudar e fazer tudo o que eu queria fazer” deveria entrar para a história dos melhores inícios de canção de todos os tempos. E foi exatamente o que Rita fez.

Cinquenta anos à frente de seu tempo, Rita Lee dialoga com todas as questões da nossa contemporaneidade. Do jeito dela, único e original, Rita lutou as boas lutas, do feminismo à proteção dos animais sem deixar de lado o direito ao prazer, à festa e a ser feliz. “Essa melodia não acaba quando eu parar de cantar”. Não acaba mesmo, Rita. Você nos ensinou o que significa sermos verdadeiramente livres e a sua voz estará dentro de nós para sempre como esse eterno grito de alegria e liberdade.

“Quem morre hoje, nasce um dia, pra viver amanhã, e sempre” (‘Luz del Fuego’ – Rita Lee)

 

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(*) Arquiteto, 45 anos, reside em São Paulo e, obviamente, é fã de Rita Lee.

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