Se comes, tu bebes

“Se Comes, Tu Bebes” – Um Velho Crítico e Sua Nova Coluna

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Por Léo Mittaraquis (*)

 

Oh! Gole farto de vinho velho! Fresco há muito no profundo coração da terra, com sabor de flora e verdes prados, dança e canção provençal, alegria queimada de sol!

John Keats

Nos mosteiros, tendemos sempre para uma alimentação saudável e equilibrada, no conhecimento dado pela experiência do passado, a qual reza que um monge deve ser nutrido da maneira mais adequada para servir a Deus.

Irmão Victor-Antoine D’Avila-Latourrete

 

Pois é: este velho crítico cismou de manter uma nova coluna no aconchegante Portal Só Sergipe. Feliz, diga-se de passagem, por ter sido devidamente autorizado pelo editor Antônio Carlos Garcia. A este amigo, manifesto minha gratidão pela sua significativa e essencial confiança.

A coluna anterior, Leitura Crítica, já cumpriu seu papel, já atendeu aos objetivos que eu visava.

O que não significa, de modo algum, que renunciarei à minha sólida cultura clássica. Esta, bem sabido pelos iniciados, leva efeito qualificados diálogos com a cultura culinária e com a cultura vinícola.

Ou seja: manter-se-á, em mim, os sagrados espíritos da arrogância do pedantismo, os quais me são tão caros.

Como meus semelhantes, como “homo culturalis”, trago comigo sonhos, receios, medos e, até mesmo, horrores. Todavia, no mais das vezes, sou desassombrado. Não temo ingressar num dado campo, experimentá-lo, vivê-lo e, em seguida, se porventura me for justificado, abandoná-lo e buscar outro.

Imagem: Pixabay

Doravante, nesta coluna, intitulada “Se Comes, Tu bebes”, tecerei despretensiosas considerações sobre vinho e comida. Em tempo: não sou enólogo, não sou sommelier, não sou chef. Porém, creio, que posso apresentar-me como enófilo, vale dizer, amo aos bons vinhos, e tenho imensa satisfação em aprender cada vez mais sobre o assunto. Quanto à cozinha, bem, lido com o fogão desde os doze ou treze anos… Meus pais iam trabalhar e me incumbiam de preparar sopa e café para a noite. E, com o tempo, outras receitas cotidianas passaram à minha responsabilidade.

Esta formação familiar fez fermentar lenta e longamente, em mim, e crescer como massa para bom pão, o amor apaixonado pela cozinha, pelo ato de cozinhar, de conhecer o como e o porquê de se preparar este ou aquele alimento.

E mais um ponto importante: saber cozinhar é uma das mais antigas e elementares condições de independência pessoal. Ao dominar o básico, o indivíduo pode elaborar pratos deliciosos, até um tantinho sofisticados, com um ovo, um molho de cebolinha e um pedacinho de queijo.

E se souber, e puder adquirir, um vinho mediano, porém honesto, que harmonize com a delicada gororoba… Aí é elevar, por alguns preciosos momentos, a alma ao paraíso.

O ambiente da cozinha é, sem dúvidas, edênico para mim. Tanto mais pelo fato de saber e poder cozinhar para Iara, a Imperatriz Absoluta do Meu Coração.

Quando ficamos juntos pela primeira vez, busquei demonstrar todo meu amor por ela mediante um vinho muito especial e uma receita única criada especialmente para ela. Deu certo. Foi um inesquecível momento de aprovação por parte dela, que a manifestou com o sorriso mais lindo e luminoso, uma supernova a iluminar toda a galáxia do meu ser, até então envolta pela matéria sombria.

Fiat Lux!

E um novo mundo, um novo universo se fez. Realizado, então, flagrei a mim compreendendo que nossa vida, lado a lado, implicaria, sempre, para além de tantas outras coisas boas, beber e comer bem.

Sim, ela ama comer o que eu amo cozinhar. Mas, bem entendido, não alivia se cometo erros (Céus, e quantos…!). Sem perder a classe e a elegância que lhe são tão características, aponta as falhas e me manda de volta para a cozinha.

Consolador, entretanto, é saber que meu score é de noventa por cento de acerto. Como diletante, cultivo a arte culinária por puro prazer.

Disponho de considerável biblioteca sobre o assunto. Os títulos cobrem tanto o campo enológico como o culinário. Sabemos o quanto ambos conversam bem.

Decerto que escrever sobre vinhos e comidas traz riscos bem específicos. Se, por um lado, é em grande parte, o mundo das maravilhas estéticas, do pleno exercício sensorial, das descobertas fascinantes, também é [por sorte, numa escala menor], o mundo dos melindres, das frescurites…

Grupelhos moleculares chatíssimos, os quais confundem elegância e bom gosto com afetação e empáfia.

Mas, como se diz, faz parte do jogo. Prossigamos a beber e a comer bem, então.

Reitero: não sou especialista nos dois campos. Mas os amo e entendo que ambos são intimamente relacionados com a história da Civilização Ocidental. Para mim, pelo menos, tal noção determina parte importante do meu papel na minha cultura, vale dizer, como aprendo, absorvo e cultivo determinadas referências estéticas, filosóficas, éticas e morais.

Portanto, “Se Comes, Tu Bebes” será dedicada, como ficou patente, aos vinhos que bebemos, aos pratos que comemos, e outras coisinhas mais. Sobre os pratos, tanto os que elaboro, como os que consumimos fora de casa.

Incluídos estão todos os campos de conhecimento que se relacionam com a viticultura e com a culinária: a música, a literatura, as belas artes, a história…

Vinho e comida são campos em intersecção. Na minha opinião, não há como pensar um sem o outro. Talvez seja a percepção de um apaixonado. Se assim o é, desejo, de corpo e espírito, mantê-la e cultivá-la.

A coluna abordará tanto pratos e rótulos em si, como a literatura especializada, além de “casos” relacionados. E aí, nóis vê niqui vai dá.

Bem, creio que procedi com uma boa apresentação. Em breve, os gentis leitores poderão ler e avaliar o primeiro artigo sobre vinhos, pratos e publicações afins.

Santé!

 

 

 

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Leo Mittaraquis

Léo Mittaraquis é graduado em Filosofia, crítico literário, mestre em Educação. Mantém o Projeto "Se Comes, Tu Bebes". Instagram: @leo.mittaraquis

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