“Se o trabalho é social, por que a riqueza tem que ser privada? ”. Esse é o questionamento que norteia a vida de Vera Lúcia Pereira Salgado, 53 anos, nascida no povoado Cercadinho, em Inajá, sertão de Pernambuco, e hoje uma das candidatas a prefeita de São Paulo, a maior cidade da América Latina, pelo PSTU. Mas para chegar a isso, Vera começou como uma das fundadoras do partido em Sergipe, disputou diversos cargos no Estado e, em 2018, foi candidata à presidência da República, obteve 55.762 votos, o que corresponde a 0,05% num universo de 115.933.000 votantes, terminando em 11º lugar entre 13 candidaturas.
Ela reconhece que foi em Sergipe que aprendeu a dura realidade, “trabalhando desde cedo, onde iniciei minha atuação política, tenho grandes companheiros nas fábricas têxteis, de confecção, calçados, petroleiros, nos movimentos de ocupação, nas lutas, no S.O.S. emprego, em cada centímetro da cidade de Aracaju”. Formada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), Vera chegou a ser do PT, mas saiu do partido em 1992, por defender o impeachment do então presidente Fernando Henrique Cardoso, migrando para o PSTU.
Há dois anos morando em São Paulo, foi escolhida pela cúpula nacional do partido para ser a candidata a prefeita. Hoje ela trabalha no Instituto Latino Americano de Estudos Socioeconômicos (Ilaese) e está em plena campanha, percorrendo a periferia da cidade, conversando, principalmente, com os jovens mostrando as ideias do PSTU, que são totalmente contrários aos da sociedade capitalista.
Com amor profundo por Aracaju, Vera Lúcia concedeu uma entrevista para o portal Só Sergipe, na qual conta um pouco da sua história em terras sergipanas e o seu desafio na terra da garoa.
SÓ SERGIPE – Depois de uma intensa militância em Sergipe, sendo candidata a vários cargos no Estado e, por último à presidente da República, a senhora, agora, é candidata a prefeita de São Paulo, a maior cidade da América Latina. O que a levou a tomar essa decisão?
VERA LÚCIA – O meu partido, o PSTU, foi quem me indicou para apresentar uma alternativa revolucionária contra a crise econômica, sanitária e social para a classe trabalhadora de São Paulo, quando nem mesmo o básico está garantido. Eu fiquei muito feliz com a oportunidade de conversar com os trabalhadores de São Paulo, muitos dos quais nordestinos como eu, sobre as verdadeiras soluções para a nossa classe.
SS – PSTU é um partido que não tem representatividade no Congresso Nacional, diante disso não terá tempo no rádio e na TV. Como será a sua campanha?
VL – Infelizmente, não há condições democráticas para a disputa política sobre as alternativas. Veja, o PSTU tem propostas, tem uma trajetória de luta, não temos envolvimento em corrupção, mas não temos os mesmos recursos materiais, ou espaço na propaganda eleitoral, que os grandes partidos têm. O sistema eleitoral está viciado e dominado pelo poder econômico. É eleito quem representa as grandes empresas, que controlam o Estado. Por essa razão, e somente por ela, nós não temos representação no Congresso. Nós temos um projeto para a classe trabalhadora e vamos levá-lo, através das redes sociais e da campanha de rua, mesmo limitados pela pandemia. Vamos fazer isso através da militância, simpatizantes e amigos que concordam com nossas ideias. Não teremos milhões de reais, nem robôs, nem empresários por trás, com os quais o Bolsonaro ganhou as eleições.
SS – A experiência de ter atuado bastante em Sergipe, lhe deu régua e compasso para esse desafio em terras paulistas?
VL – Sergipe é a terra que me acolheu desde menina. Foi onde aprendi a dura realidade, trabalhando desde cedo, foi onde iniciei minha atuação política, onde tenho grandes companheiros nas fábricas têxteis, de confecção, calçados, petroleiros, nos movimentos de ocupação, nas lutas, no S.O.S. emprego, em cada centímetro da cidade de Aracaju. O PSTU me possibilitou apresentar o programa para os trabalhadores em Aracaju, Sergipe, onde ganhei experiência para fazer o mesmo em São Paulo e no Brasil. Mas, com certeza, minhas raízes estão em Sergipe, assim como no sertão de Pernambuco, o que eu nunca esqueço.
SS – A senhora é uma mulher nordestina, lançando-se candidata a prefeita de São Paulo. Não há como não lembrar de Luiza Erundina, também nordestina, que já foi prefeita e hoje é vice do candidato a prefeito Guilherme Boulos. Há algum ponto em comum entre as senhoras, além do fato de serem nordestinas?
VL – Hoje nossas semelhanças são apenas de sermos mulheres nordestinas de estados vizinhos que migraram, ela para São Paulo e eu para Aracaju e agora São Paulo. Sou sertaneja e negra e defendo que nossa classe precisa se organizar para conquistar trabalho, educação, saúde, o que implica em acabar com o capitalismo através de uma revolução socialista. Erundina e Boulos defendem o oposto: uma revolução solidária que não é revolução, mas sim distribuição de migalhas que caem da mesa do capitalismo. Erundina foi prefeita e nada mudou para a classe trabalhadora, assim como o PT governou o Brasil por 13 anos e nada mudou. Até a direita pode dar migalhas. Não queremos migalhas. Queremos a classe trabalhadora no poder.
SS – O fato de a senhora ter sido candidata à presidência da República, votada em todo o País, ajudou o partido na escolha do seu nome para disputar a prefeitura de São Paulo?
VL – Sim. Apesar das limitações que nos são impostas por um sistema eleitoral viciado, apresentamos o programa para mudar nossa realidade, o que o capitalismo não tem a oferecer. São Paulo é a cidade mais rica do país, onde pobreza espalhada e riqueza concentrada estão juntas. Precisamos mudar o nosso presente e o nosso futuro que está ameaçado pela barbárie capitalista.
SS – O seu partido, PSTU, sempre fala em estatização, enquanto outros partidos defendem a privatização. Por que o PSTU mantém o mesmo discurso?
VL – O PSTU defende a estatização das empresas sob o controle dos trabalhadores que nelas trabalham e da comunidade que as utiliza. Se o trabalho é social, por que a riqueza tem que ser privada? Se o Brasil é rico, por que os trabalhadores são pobres? Por que a propriedade tem que se sobrepor às necessidades humanas? Por que milionários têm que ter tanta riqueza, enquanto a maioria tem jornadas extenuantes e salário que não garante nem a sobrevivência, mesmo com todos os avanços tecnológicos? E tem mais. Só estatizar não basta. Tem que ter o controle pela classe trabalhadora e população usuária. Aí sim terá função social. Se não, terá a função apenas de garantir lucros para os ricos.
SS – O PSTU continua sendo o partido puro sangue, não se misturando com outros partidos, mesmo os de esquerda?
VL – O PSTU é um partido revolucionário. Tem como objetivo central organizar a classe trabalhadora, para que esta governe politicamente e controle toda a riqueza que por ela é gerada, para que seja distribuída socialmente para toda a população. E que todos devem trabalhar e ter suas necessidades atendidas. Os demais partidos de esquerda, que chamamos de reformistas, têm como objetivo ganhar as eleições e fazer algumas reformas, para provar que são capazes de, obedecendo as regras do estado capitalista, administrá-lo melhor que a própria burguesia. O que estes partidos provaram é que governam para a burguesia. Sergipe e Aracaju são prova disso. O PT e o PCdoB ganharam as eleições para o estado em 2006. E Aracaju em 2000. Governaram ora sozinhos, ora em aliança com outros partidos.
SS – E mudou alguma coisa em Aracaju, por exemplo?
VL – Diga-me, o que mudou para a classe trabalhadora? Hoje a prefeitura é governada por Edvaldo Nogueira, que era do PCdoB e foi para o PDT por oportunismo. O governador é Belivaldo Chagas em aliança com Eliane Aquino do PT. Eles despejaram pais e mães de família em plena pandemia e eles estão em frente da prefeitura desabrigados, ao relento. Mães com filhos nos braços, pais desesperados, sem um teto para se abrigar. Você acha que podemos fazer alianças eleitorais com esses partidos que fazem isso com a classe trabalhadora? Isso não serve para a classe trabalhadora. Serve para burguesia, para o enriquecimento, para a corrupção, mas não serve para trabalhadores, para os mais pobres, as mulheres, os negros, a juventude. Por isso, não temos motivo para fazer aliança eleitoral com os partidos de esquerda reformista.Por outro lado, fazemos unidade de ação com os partidos de esquerda para uma luta concreta, como é hoje o FORA BOLSONARO E MOURÃO, que é uma necessidade para termos uma política correta contra o coronavírus e para defendermos os direitos trabalhistas.
SS – Na sua visão, quais os principais problemas de São Paulo que a senhora, caso eleita, pretende resolver?
VL – O principal problema é o desemprego. Os trabalhadores, juventude inclusive, precisam de trabalho para comer, vestir, ter remédio. Vamos reintegrar os demitidos pela prefeitura durante a pandemia, incorporar os terceirizados ao quadro dos servidores públicos, implementar um plano de obras públicas para gerar empregos, lutar pela redução de jornada de trabalho para 30h sem redução de salário e complementar o auxílio emergencial, para chegar ao piso salarial de São Paulo que é de R$ 1.137,00.
SS – Estamos no meio de uma pandemia. O que fazer?
VL – Também temos que nos manter vivos. Defendemos quarentena com testes em massa para garantir isolamento social, coerente com resultado dos testes até ter vacina. Defendemos o SUS e a estatização de toda a saúde, sob o controle dos profissionais da saúde e usuários. Para a moradia popular, vamos confiscar os imóveis desocupados destinados à especulação imobiliária e também os edifícios públicos que estão fechados, sem uso. Para organizar a classe trabalhadora e constituir um poder dos trabalhadores, formar conselhos populares.
SS – No quesito violência, algo muito sério em todo o país, cuja maioria das vítimas são negros, o que fazer?
VL – Contra o genocídio da juventude negra, vamos lutar para desmilitarizar a polícia e organizar a autodefesa nas comunidades, inclusive com a guarda municipal, que não vai ficar mais correndo atrás de ambulante. Também garantir atendimento às mulheres vítimas da violência e generalizar a autodefesa das mulheres, junto com os homens, contra a violência machista, tomando como exemplo o que pratica hoje o Luta Popular nas ocupações.
SS – Hoje, muitos defendem a entrada de capital estrangeiro no país. O que a senhora acha disso?
VL – O sistema capitalista é internacionalizado. As multinacionais entram aqui e não investem nada. O governo brasileiro faz todo o investimento e a mão de obra barata as favorece. Vamos lutar para que as multinacionais instaladas em São Paulo sejam proibidas de fazer remessa de lucros para suas matrizes por dez anos, e aplicar esses recursos no Brasil.
SS – Por quais motivos deixou Aracaju e foi para São Paulo? Em que a senhora trabalha aí?
VL – Eu trabalho para o Instituto Latino Americano de Estudos Socioeconômicos (Ilaese), que faz pesquisas e cursos de formação sindical, e São Paulo é o principal centro do país. Meu trabalho e minha atuação política me levaram para São Paulo. Mas minha família continua em Aracaju.
SS – Em São Paulo há gente do mundo inteiro. E, também, uma comunidade expressiva de nordestinos. Qual tem sido a mensagem para esse público específico?
VL – De fato, São Paulo é um mundo. Começamos nosso seminário de programa para eleições municipais com um haitiano. Os nordestinos vieram e construíram São Paulo. Encontrei gente de Aracaju, Bahia, Pernambuco, Ceará morando em ocupações sem água regular, ruas sem CEP, em casas muito pequenas. Nós nordestinos estamos em todas as profissões, não só na construção civil, mas também na indústria, no comércio, no serviço público e uma minoria virou classe média alta, pequenos e médios proprietários. Infelizmente, muitos têm que ocultar o sotaque para conseguir o emprego. Tenho orgulho de ser nordestina e essa presença nordestina me faz sentir em casa, a cara de SP é a minha cara. Nossa mensagem é de luta contra a xenofobia, o racismo, o desemprego, a criminalização da pobreza, e a violência que atinge a maioria dos nordestinos em São Paulo.
SS – O que falta para o PSTU deslanchar, e eleger?
VL – Faltam condições democráticas, igualdade. Os grandes partidos criam regras eleitorais para se perpetuarem no poder. Propostas e uma trajetória limpa o PSTU já tem. Se houvesse espaço igual na propaganda eleitoral, tenho certeza que as propostas do PSTU seriam bem recebidas pelos trabalhadores que lutam para sobreviver, pela juventude que quer mudar, pelos negros que sofrem com o racismo, pelas mulheres que querem igualdade. Mesmo que não tenhamos nenhum segundo de propaganda eleitoral, vamos manter nosso compromisso exclusivo com a classe trabalhadora, vamos levar nossas propostas, vamos estar presentes nas lutas operárias e populares e, desta forma, vamos acumulando forças junto com a classe trabalhadora, para uma revolução socialista, que vai trazer uma democracia dos trabalhadores, algo que não tem nada a ver com ditaduras que se dizem socialistas. Ao contrário, será um mundo com liberdades democráticas para nossa classe nunca vistas.
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