Entrevista

Se os números se agravarem, determino o fechamento do que está sendo aberto, de imediato”, garante Belivaldo Chagas

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“Se os números se agravarem, determino o fechamento do que está sendo aberto, de imediato”.  A afirmação é do governador de Sergipe, Belivaldo Chagas, ao ser questionado sobre o Plano de Retomada da Atividade Econômica que foi iniciada na semana passada e que está com a segunda fase ameaçada. A fala do governador pode ser um prenúncio do que está por vir, pois, ontem o Governo do Estado, através da Secretaria de Saúde, disparou uma nota afirmando que a segunda fase pode ser adiada.  Nestes tempos de pandemia, não existe dia fácil.  Desde que fez o primeiro decreto, em meados de março, Belivaldo Chagas começou a ser pressionado, tanto pelo setor produtivo como pelas equipes de saúde. Os primeiros sempre defenderam a reabertura do comércio, ainda que de forma escalonada, seguindo todas as orientações sanitárias. Os médicos que o assessoram, por outro lado, recomendam  o isolamento social e o distanciamento, como única forma conhecida para combater o avanço da covid-19. E entre os empresários e as autoridades de saúde está o povo, que nem sempre entende a necessidade do isolamento.  Que o digam os índices nada animadores de isolamento social, principalmente em Aracaju e região metropolitana. Mas quem pensa que  Belivaldo comporta-se tal qual um equilibrista numa corda-bamba, está enganado. “Se ao longo das semanas de implantação do Plano, as pessoas não colaborarem com o isolamento ou os empresários não respeitarem as medidas sanitárias e os números começarem a subir, nós fecharemos tudo novamente”, voltou a dizer. E, embora saiba que qualquer decisão que tome – ainda que lastreado na ciência – não vai agradar a todos, Belivaldo disse, ontem, ao Só Sergipe, que sua preocupação é “preservar a vida dos sergipanos”.  Confira.

SÓ SERGIPE – Depois de muitas reuniões, debates, o senhor inicia a retomada econômica, com a reabertura gradual de algumas empresas. Este realmente é o momento certo?

BELIVALDO CHAGAS – Nós estamos há cerca de 90 dias vivendo nesse período de pandemia, e claro, todas as providências o Estado tem tomado para proteger a vida do cidadão, mas não podemos deixar de lado a questão de ordem social e econômica. Após vários levantamentos e estudos, além de orientação que recebemos da equipe técnica, elaboramos um Plano de Retomada Econômica que é baseado no acompanhamento da curva de contágio, taxa de ocupação de leitos, em especial leitos de UTI e número de óbitos.

A reunião do Cogere no Palácio de Despachos Fotos: Mário Souza/ASN

SS – No mesmo dia em que o senhor anunciou a reabertura, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) fez um ato, manchou a calçada de vermelho indicando que ali seria o sangue dos sergipanos. Como o senhor reage a essa crítica?

BC – O início do Plano de Retomada da Economia em Sergipe segue a orientação do Comitê Gestor de Emergência (CGE) e do Comitê de Retomada da Economia (Cogere), formados por membros do Executivo estadual, representantes da Federação dos Empregados no Comércio e Serviços do Estado de Sergipe (Fecomse), do Fórum Empresarial de Sergipe, do Grupo de Líderes Empresariais de Sergipe (LIDE) e da Federação dos Municípios do Estado de Sergipe (Fames). O Plano é coletivo, depende da atuação de todos, população, setor produtivo e governos municipais e estadual, para avançar e foi construído a partir de discussões com os diversos setores, inclusive com a participação de representantes dos trabalhadores.  As medidas adotadas pelos Comitês são baseadas em dados técnicos e científicos a partir da análise do cenário da pandemia no estado, e a adesão aos Protocolos Sanitários é premissa para a reabertura de forma segura e gradual.

SS – O infectologista e professor da Universidade Tiradentes, Matheus Todt, está preocupado com essa reabertura gradual do comércio. Ele  disse ao Só Sergipe que o número de infectados pode aumentar, assim como o número de mortos. Se isso acontecer, o que o senhor fará?

BC – Estamos acompanhando essa movimentação. Decidimos que ordinariamente só vamos ter reunião nos dias 13 e 14 para a tomada de outras decisões – embora, tecnicamente, eu tenha este acompanhamento diariamente por técnicos da Secretaria de Estado da Saúde (SES). Mas se necessário for, faremos reuniões extraordinárias dos Comitês para determinar o fechamento do que está aberto se, por ventura, a gente tiver agravamento dos casos. Eu estou tentando acertar, ouvindo quem entende, mas, repito, é uma doença ainda pouco conhecida, que todo dia tem uma novidade. Mas, reafirmo que, se os números se agravarem, determino o fechamento do que está sendo aberto, de imediato.

SS – Se fôssemos separar o governador Belivaldo do cidadão Belivaldo, o cidadão flexibilizaria e iniciaria o retorno gradativo das atividades?

BC – O gestor e o cidadão Belivaldo pensam da mesma forma. Pois não estou seguindo uma decisão particular minha e sim o que aconselham a Ciência e os dados técnicos e científicos, com responsabilidade e ponderando o equilíbrio. Claro que, pessoalmente, entendo a situação de quem vive do comércio, sou filho de comerciantes e sei como funciona o sistema, mas o que todos precisam entender é que sem a vida, não há economia, não há nada. E o quanto antes seguirmos o que os profissionais recomendam, antes sairemos dessa triste situação.

SS – O que acontece, na sua opinião, em Aracaju e região metropolitana que têm baixo isolamento social? Não seria necessária uma campanha mais incisiva alertando para pessoas só saírem de casa se tiverem necessidade, como trabalho ou compras essenciais, por exemplo?

BC – Desde o princípio foi explicado que há condicionantes para cada etapa do Plano entrar em vigor, sem falar no caráter dinâmico do Plano. O que quer dizer que, se ao longo das semanas de implantação do Plano, as pessoas não colaborarem com o isolamento ou os empresários não respeitarem as medidas sanitárias e os números começarem a subir, nós fecharemos tudo novamente. O que tiver dando certo, levaremos adiante, o que não der certo, não teremos problemas em mudar e buscar outras alternativas. Por isso é tão importante a colaboração de todos, para que tudo dê certo. Não é um Plano do governo, mas de construção coletiva entre o poder público, setor produtivo e toda a sociedade.

SS – É possível que, apesar dos números de casos e mortes por covid-19, existam muitas pessoas em Sergipe achando que são imunes? Porque, mesmo com todas as medidas, as pessoas continuam indo para as ruas como se nada estivesse acontecendo. Será um caso de educação ou de negação da morte?

BC – Entre os obstáculos para tentar conter o avanço da pandemia do novo coronavírus em todo o mundo está a falta de conscientização em relação à real gravidade da doença e até mesmo o desrespeito às regras impostas pelos Governos. E isso tem levado muitas pessoas a tomarem atitudes que podem comprometer os avanços obtidos até aqui em relação à propagação da doença e até contribuírem para o agravamento do número de casos já registrados. Nós estamos com fiscalizações nas ruas, estamos com campanhas diárias de conscientização da população para evitar aglomerações e usar a máscara. Mas o esforço tem que ser de todos. É necessária, sim, uma maior conscientização das pessoas para que consigamos passar de forma menos dramática por esse período turbulento.

SS – Ser governador do Estado neste momento é difícil? Pergunto pelo seguinte: se o senhor não flexibiliza para o setor empresarial, eles vão lhe culpar (como já estão fazendo) pelas mortes dos CNPJs. Mas se flexibiliza e ocorrerem mais mortes de pessoas – os CPFS – o senhor também será culpado. Mas alguma coisa tem que ser feita.

BC – É difícil sim, com certeza, e eu tenho responsabilidade. Mas é preciso observar a curva, a quantidade de casos versus quantidade de leitos. As pessoas estão se contaminando, as pessoas estão com suas saúdes agravadas. Elas estão procurando os leitos hospitalares, e eu não sou irresponsável para deixar as vidas de lado para cuidar dos empregos. O emprego a gente precisa de um modo geral. Eu também preciso ver o estado bem, arrecadando. Temos um desafio muito grande para manter o equilíbrio e a saúde financeira, e não tenha dúvidas que estamos trabalhando para superar essa fase histórica. Se a maioria da população tivesse seguindo as recomendações do Estado desde o início, hoje poderíamos traçar projeções diferentes, mais otimistas quanto à flexibilização do comércio. Quanto mais as pessoas demoram a entender isso, mais as medidas precisam ser rigorosas, pois o que queremos evitar é ver pessoas morrendo em filas por falta de UTI em Sergipe.

SS – Essa pandemia lhe apavora, já que não haverá uma decisão sua – ou de qualquer governante – que vá agradar a todos?

BC – Estou trabalhando pelo povo, estou lutando com todas as armas que possuo para vencer essa pandemia. Não me apavora, pois as decisões tomadas são baseadas na ciência e a ciência não se contesta. São estudos, pesquisas, elaboradas por especialistas e analisadas por um comitê gestor, que é composto por diversos segmentos da sociedade. Eu não estou só e as decisões não são só minhas. Repito, estamos fazendo tudo que é possível e necessário, portanto, nesse momento não me preocupo se vou agradar ou não a todos. Minha preocupação é preservar a vida dos sergipanos.

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Antonio Carlos Garcia

Editor do Portal Só Sergipe

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