“A grande jogada do mercado é que sempre se pode ganhar dinheiro na saúde ou na doença, na alegria ou na tristeza”. A frase é da psicóloga e psicanalista Petruska Passos Menezes, ao alertar que sempre é hora de se inserir no mercado de trabalho, principalmente neste tempo de pandemia, quando, segundo pesquisa recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 13,5 milhões de pessoas ficaram desempregadas no país, em setembro.
Mesmo com esse cenário, ela lembra que muitas pessoas se reinventaram. “Costureiras passaram a vender máscaras, por exemplo. Muitas pessoas passaram a fazer entrega de alimentação delivery. É necessário perceber qual a demanda que o mercado está pedindo e saber onde você se encaixa nisso tudo”, ensina Petruska Menezes, que tem MBA em Gestão e Políticas Públicas pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), Gestão Estratégica de Pessoas (Fanese), Neuropsicologia (Unit) e cursa Gestão Empresarial pela FGV.
Ela diz, também, que “começaremos um ‘novo normal’ aos poucos, com novas adaptações de convivência, que sofreram e sofrerão mudanças, e ninguém sairá ileso desta pandemia. Não há como voltar”. E cita que o trabalho em home office, acelerado por causa da pandemia, pode trazer estresse e medo, porque muitas pessoas ainda estão se adaptando às plataformas virtuais, o que leva tempo. “O medo de perder o emprego ou trabalho pode elevar o grau de estresse e fazer com que ignorem os limites de dividir o tempo em momentos que antes a geografia do espaço do trabalho e da residência faziam”, ponderou .
De acordo com a psicóloga e psicanalista, é imprescindível manter o equilíbrio corporal e mental, fundamental para promover a criatividade e auxiliar a encontrar novas respostas e saídas para as dificuldades que sugiram de forma inesperada. Os seres humanos, segundo ela, interagem desde o momento em que nascem. Primeiro com os pais, depois com outros membros da família, escola e trabalho. “A privação do contato traz prejuízos também para a autoestima”, afirmou Petruska, que esta semana conversou com o Só Sergipe.
SÓ SERGIPE – Vivemos neste século uma situação atípica com a pandemia da COVID-19 e muitos processos que vinham sendo geridos devagar tiveram de ser antecipados. Toda essa mudança radical causou problemas psicológicos em diversas pessoas. A senhora constata esses problemas no dia a dia do seu consultório?
PETRUSKA MENEZES – Sim. O mundo virtual está a cada dia mais presente na nossa realidade e estudos do comportamento já estavam sendo feitos sobre mudanças de comportamento em nível mundial. Entretanto, com a pandemia da COVID-19, houve uma aceleração desse processo. A questão é que cada pessoa possui um tempo para adaptar-se às mudanças, quaisquer que sejam, e nem todos acompanham a velocidade deste novo tempo. Os jovens possuem maior capacidade adaptativa por já nascerem em um mundo onde essa realidade já está presente, enquanto os mais velhos tiveram de ser introduzidos nos espaços tecnológicos e têm de passar por um novo processo de aprendizagem. A adaptação e a plasticidade cerebral diferem para cada pessoa e, portanto, muitos precisam de ajuda tanto no aprendizado quanto nos aspectos afetivos, porque adaptar-se pede a saída de uma zona de conforto que não acontece sem ansiedade, medo e insegurança, principalmente.
SS – Devido as mudanças, muitas pessoas ficaram desempregadas. Algumas se reinventaram e partiram para novos desafios. Outras pararam no tempo. A depressão atingiu muita gente?
PM – Para a Psicanálise, não utilizamos o diagnóstico de depressão como algo restrito a um acontecimento específico. A depressão acontece a partir de um conjunto complexo de circunstâncias genéticas e ambientais que começam na infância e vão formando um modelo de funcionamento, defesa e reação de uma pessoa às condições da vida. Mas eventos muito intensos, que ultrapassam a capacidade de lidar com determinada situação, podem ser um agente potencializador e desencadeante do processo de modo mais grave, “psicopatologizando” essa forma de funcionamento e levando a um desequilíbrio homeostático maior, ou seja, a pessoa perde a capacidade de equilibrar sua força e resistência para lidar com as adversidades, sucumbindo e entrando em colapso interno. Nesse sentido, podemos dizer que sim, algumas pessoas reagiram à pandemia agravando o funcionamento depressivo e precisando de auxílio psicológico/psicanalítico e psiquiátrico como ferramentas que o auxiliem a reencontrar forças para superar este momento da vida. Não é só o desemprego que pode gerar isso, mas o medo de perder gente querida, seu próprio medo e contato mais próximo com questões relacionadas à morte e às incertezas futuras.
SS – Além do desemprego, muitas pessoas tiveram de lidar com a morte de familiares, vítimas da COVID-19 e ficaram extremamente vulneráveis. Como retomar as forças e seguir em frente?
PM – É importante focar em atividades que possam conservar o equilíbrio. Manter uma boa resiliência (capacidade de suportar as dificuldades); uma boa alimentação, que dará mais resistência ao corpo para funcionar melhor; desenvolver atividades físicas que liberam hormônios que geram prazer e descarregam a tensão excessiva; experimentar práticas de meditação e Yoga que auxiliam o equilíbrio mental; fazer contatos sociais, mesmo que a distância (via internet) e, se mesmo assim isso não funcionar, buscar auxílio de pessoas especializadas como psicólogos/psicanalistas e psiquiatras que podem ajudar no processo de restabelecimento do equilíbrio. O equilíbrio corporal e mental são fundamentais para promover a criatividade e auxiliar a encontrar novas respostas e saídas para as dificuldades que surgiram de forma inesperada.
SS – Na pandemia, quem não perdeu o emprego teve de trabalhar em casa (home office). Até que ponto essa mudança de rotina pode ter atrapalhado, causando confusão numa pessoa?
PM – Sempre existiu a ilusão de que trabalhar no modo home office fosse algo mais confortável e que se trabalharia menos. O que as pessoas estão encontrando é justamente o contrário. O home office tem um grande problema: se a pessoa não conseguir definir e estipular o tempo para o trabalho e para as demais atividades domésticas e, principalmente, o lazer, acabará trabalhando 24 horas todos os dias – o que acarretará um excesso de trabalho e na Síndrome de Burnout, um desgaste que leva a pessoa a um esgotamento profissional, causado pelo desgaste físico e emocional. Para evitar isso, é necessário estabelecer limites para o tempo de trabalho em casa, o tempo dos cuidados com os afazeres domésticos e, fundamentalmente, o tempo para o lazer.
SS – Seriam elas vítimas do estresse, do medo?
PM – O home office pode trazer o estresse e o medo, porque como existe uma necessidade de adaptação às plataformas virtuais, o que leva um tempo, e às novas exigências laborais, o medo de perder o emprego ou trabalho pode elevar o grau de estresse e fazer com que ignorem os limites citados acima, de dividir o tempo em momentos que antes a geografia do espaço do trabalho e da residência faziam. Contudo, uma conversa franca com a empresa, com o chefe, é fundamental para que a empresa – que também está em processo de transformação e adaptação – possa encontrar um meio-termo para auxiliar os colaboradores nesta nova forma de trabalho. Uma empresa que tenha uma gestão do trabalho ativa e com influência sobre a direção mostrará que é mais importante ter todos os colaboradores trabalhando em um processo adaptativo do que ter muitos afastados para tratamento de saúde (o que diminuiria a renda e os lucros empresariais).
SS – A partir dessas doenças, se a pessoa não for tratada, pode desenvolver outras enfermidades?
PM – É bem possível. Mas não é tão simples. A subjetividade humana não nos permite prever com tanta eficácia quais possíveis enfermidades podem surgir no futuro.
SS – Até que ponto o distanciamento social afetou o emocional das pessoas?
PM – Somos seres sociais e, como tais, precisamos estar em constante contato com outras pessoas. Os adolescentes, principalmente. Isso é fundamental na construção da identidade. Os vínculos afetivos nos dão suporte para nos sustentarmos e trocarmos experiências, aprendizados e afeto – três coisas muito importantes para a saúde mental. Desde que nascemos, estamos interagindo. Primeiro com os nossos pais, depois com outros membros da família, escola e trabalho. A privação do contato traz prejuízos também para a autoestima.
SS – A pandemia ainda não passou, mas as coisas parecem que voltaram ou estão voltando ao normal aqui no Brasil. Como agir neste retorno?
PM – Não acredito que voltaremos ao que já chamamos um dia de “normal”. Começaremos um “novo normal” aos poucos, com novas adaptações de convivência, que sofreram e sofrerão mudanças e ninguém sairá ileso desta pandemia. Não há como voltar. Há como reinventar nosso presente e nosso futuro. Como começamos a entrevista, o mundo virtual se estabeleceu de vez e não retrocederá. Isso, por si só, já é uma grande mudança. Teremos de aprender a conviver uma grande parte de nossas vidas com isso. Muitas grandes empresas já pensam em não retomar o trabalho presencial. Assim, a vida continua e o mais importante, agora, é encontrar formas de aprender a conviver com a nova realidade que chegou.
SS – Para aqueles que perderam o emprego, este é o melhor momento de tentar se inserir novamente no mercado de trabalho?
PM – Sempre é hora de se inserir no mercado de trabalho. O ponto essencial é a percepção. A grande jogada do mercado é que sempre se pode ganhar dinheiro na saúde ou na doença, na alegria ou na tristeza. É o olhar e a observação do movimento de demanda que dirão qual caminho seguir. Costureiras passaram a vender máscaras, por exemplo. Muitas pessoas passaram a fazer entrega de alimentação delivery. É necessário perceber qual a demanda que o mercado está pedindo e saber onde você se encaixa nisso tudo. Estamos passando por uma era, e isso não é de agora, em que a cada dia haverá menos emprego e mais trabalho, ou seja, as carteiras assinadas e a segurança de um salário fixo no final do mês começam a se tornar um luxo, mas isso não quer dizer que não existam boas oportunidades de trabalho. De maneira autônoma, como as microempresas e outras formas que estão surgindo no mercado. Como estou insistindo em afirmar, criatividade e percepção são a esperança e a saída para lidarmos com o desemprego.
SS – Que conselhos a senhora pode dar às pessoas que precisam trabalhar? Como fazer um currículo ou se comportar numa entrevista?
PM – Nisso eu tenho uma discordância com alguns colegas orientadores para recrutamento e seleção de pessoal. Nunca saberemos como é ou está a pessoa que estamos recrutando. É verdade que é necessário ter empatia, mas o que as empresas precisam, no fundo, são de pessoas que tenham competência e não deem trabalho ou causem complicações. Sejam adequadas ao cargo e isso é mais difícil do que se pensa, mesmo com o uso de ferramentas, como “testes psicológicos”. É importante que a pessoa seja ela mesma, mas que também tenha entrado em um processo de autoconhecimento, para que saiba e se conheça o máximo possível. Muitas vezes, achamos que somos de um jeito e nos surpreendemos quando um amigo mais ousado nos revela que todos nos reconhecem de outra forma. Ninguém quer em sua empresa pessoas desequilibradas, mentirosas ou incompetentes. Todo o complexo sistema seletivo é para isso. Mas a cada dia encontramos mais pessoas adoecidas. Acredito que o cuidado consigo é o principal caminho para se encontrar um bom emprego. Investir em si como um todo. Tanto tecnicamente como psíquica e emocionalmente. As pessoas se esquecem que possuem sentimentos e isso influencia tudo em sua vida, incluindo suas decisões e relações no trabalho – o que pode comprometer a sua carreira. O currículo é só uma porta de entrada que pode ser feito por um profissional qualificado e que não custa muito. O que realmente importa é se você consegue ser você na entrevista e em todo o processo seletivo, ou seja, se consegue se perceber em relação a si e aos demais concorrentes e lidar com isso psíquica e tecnicamente.
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