Nunca pensei que fosse capaz, ainda tenho dúvidas. Confesso que jamais passara em minha mente ser escritor e muito menos partícipe de uma coluna semanal de um site respeitável, repleto de ilustres e letrados colunistas. Acredito que o relato que farei poderá aguçar outros leitores a se permitirem compartilhar muito mais que informações, conhecimentos e histórias. Sentimentos… foi por esses que iniciei esta jornada com meus primeiros textos.
Vida de médico não é fácil mesmo. Passamos boa parte do precioso tempo entre livros, no entanto, todos eles de cunho didático-cientifico, voltados ao conhecimento médico. Quando não estamos lendo artigos de saúde que cada vez mais atingem um ritmo de atualização quase que instantâneo, encontramo-nos focados no trabalho, diga-se de passagem, que não permite erros, numa jornada de plantões extremamente desgastante física e mentalmente, labutando em pronto-socorros nem sempre estruturalmente adequados, sobre condições precárias, onde realmente vemos que o ato médico faz toda a diferença. Aos poucos a vida de cirurgião de urgência recém-formado vai dando espaço para uma forma de atuar mais especializada, com escalas de consultório mais previsíveis, trabalhando “eletivamente”, ou seja, de maneira programada, ou quase… Daí surgem os filhos, os cabelos brancos também, começamos a ter mais tempo “livre” e outras oportunidades de refletir sobre a vida por uma ótica diferente, não pela avaliação dos tecidos, órgãos e sistemas vitais dos nossos pacientes, mas adentrando profundamente na existência humana, na tentativa de responder a célebre pergunta: por que estou aqui e agora, filho de Gugu e Sônia, esposo de Aline, pai de Henriquinho e Osorinho, médico de milhares de pessoas muitas das quais a memória não me permite recordar o nome? A espiritualidade bate à porta!
Mesmo havendo tido educação e formação eminentemente cristã, tanto no lar como no colégio – indubitavelmente terrenos férteis – somente após 4 décadas surgiu a inspiração justa e perfeitamente na instituição da qual participo há quase 16 anos, a Maçonaria. Para aqueles que não a conhecem, poderia tentar resumi-la da seguinte maneira: ser maçom é servir: a si mesmo, desbastando a pedra bruta interior, tornando-nos, pois, pessoas melhores; aos irmãos, com toda essência que a palavra fraternidade poderia exemplificar; e à sociedade, pela filantropia e caridade.
Pois bem, foi desfrutando da vivência maçônica que grata e intensamente pude experimentar, nos últimos quatro anos, já com as vidas familiar e laboral mais ajustadas, uma avalanche de conhecimentos esotéricos e exotéricos os quais me aproximaram um pouco mais da reposta àquela pergunta que acabei de citar. Incipientemente, transliterei toda essa energia representada por inúmeros sentimentos, desde o mais singelo e cândido ao mais colérico, ora em palavras, acreditando que se não tocarem n’alma alheia, em algum lugar e momento, concordando ou não com o que fora transmitido, oportunizará reflexão a si mesmo, ao próprio autor, pois como diria o filósofo: “penso, logo existo”.
No mundo atual onde as informações quer verdadeiras ou não estão acessíveis ao simples toque de um botão, faz-se premente que instiguemos nossas centenas de milhões de neurônios a cada instante, quer com literatura, música, pintura, dança, enfim, qualquer forma de expressão artística certamente nos faz menos mecânicos e mais humanos.
Procurando tais relações humanas foi quando escrevi e publiquei meu primeiro artigo há quase 1 ano, intitulado: “muito mais nobre que a cor da pele, a verdadeira transparência d’alma”, fruto de um lampejo surgido dos estudos maçônicos, dos preceitos cristãos que comungo e, sobretudo, da convivência com amigos, parentes e irmãos de Ordem negros, extremamente competentes, pessoas e cidadãos exemplares, que comigo compartilharam a temática racista ainda presente estruturalmente na sociedade em que vivemos. Esse primeiro insight teve uma mistura de compaixão e indignação ante o “sistema”, talvez um desabafo alertando sobre esta problemática.
Continuo anos-luz de distância de ser um eminente literato, muito menos detentor da verdade… busco apenas ser um homem hoje, melhor que ontem e pior que amanhã, desbastando ininterruptamente a pedra bruta da minh’alma, estudando tal qual um eterno aprendiz, traçando em simples palavras muito mais que conhecimentos eruditos, mas sim sentimentos de momentos vividos e experimentados, que talvez estimulem outrem a pegar o lápis e papel e dar “asas à imaginação” como o poeta Toquinho dissera em poesia e certamente me inspirara:
“E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença, muda a nossa vida
E depois convida a rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela
Que um dia enfim descolorirá
Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo (que descolorirá)
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo (que descolorirá)
Giro um simples compasso
E num círculo eu faço o mundo (que descolorirá)”.
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(*) Hernan Augusto Centurion Sobral é médico cirurgião e coloproctologista. Mestre maçom da Loja Maçônica Clodomir Silva 1477, exercendo atualmente o cargo de orador.
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