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Será que foi Deus quem quis?

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Valtênio Paes (*)

Estão inseridas em parte da população ocidental a justificação e a aceitação de que as desigualdades sociais correspondem a algo natural. Muitos se consolam com as expressões: “Deus dá o frio conforme o cobertor”, “os humilhados serão exaltados”. Consciente ou não, as expressões ajudam esconder as contradições sociais mascarando a realidade terrena. Será que a justiça divina concorda? Poucos com milhões manipulando seus interesses para manipularem os pobres é “natural”? Se os “menos favorecidos” não conseguiram sucesso é porque não tiveram talentos, porque “não se interessaram”? Na escola se diz “este aluno não quer nada”. Entre os portentosos ouve-se “sou rico graças aos meus esforços”.

 Tudo se explica a partir da busca de um culpado. Neste toar sempre recaindo sobre o indivíduo. Posição cômoda e conservadora política e socialmente. Quando se remete ao indivíduo isenta-se a sociedade, a instituição ou seu grupo social, e por consequência, a nós todos, de qualquer culpa ou compromisso social. De igual maneira, quando se remete a Deus, encerra-se a possibilidade de questionamentos.

Leonard Boff em sua obra “Ethos Mundial” desde 2003 nos convida para uma reflexão de “um consenso mínimo entre os humanos”. O planeta é de todos. A terra é nosso maior condomínio. Os espaços estão diminuindo, talvez prestes a acabar para as futuras gerações. A miséria está aumentando, por conseguinte as desigualdades, agora acompanhada da prática do ódio.

No Brasil, os “Resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD-2011) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontaram a diminuição da pobreza. Nos últimos anos, 28 milhões de brasileiros saíram da pobreza absoluta e 36 milhões entraram na classe média. Entretanto, estima-se que 16 milhões de pessoas ainda permaneceram na pobreza extrema.

Atente-se que segundo a mesma fonte, o Programa Bolsa Família é responsável por 13% da redução da desigualdade no país, embora estejamos entre os dez países com o PIB mais alto e o oitavo país com maior índice de desigualdade social e econômica do mundo. No entanto, em 2017 segundo o coeficiente de Gini, a desigualdade social no Brasil teve um aumento considerável. Em 22 anos ela cresceu pela primeira vez, sendo o desemprego, um dos maiores responsáveis. Estima-se que a taxa de desemprego está em 12,3%, o que afeta 12,6 milhões de pessoas.

Estelionato

Considerando que “estelionato vem do latim tardio stellionātu, engano, logro” e conforme o Código Penal Brasileiro define no artigo 171, “obter, para si ou para outro, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento” muitas pessoas praticam o crime ao usarem o nome de Deus para tirarem vantagens políticas, religiosas e sociais nas relações de poder no Brasil. Logo percebe-se a prática de estelionato religioso ou ideológico quando busca-se levar vantagem no poder usando o nome do Divino. Soa até hipocrisia quando se finge praticante para conseguir vantagens. Quiçá, má fé.

A população deve atentar para a prática da hipocrisia, do estelionato ideológico ou religioso.  A ganância humana tem que ser repudiada. A justificativa de que a “vida é assim mesmo” está alimentada de cômoda futilidade argumentativa. Deletemos o armário do mal, pratiquemos a ética fundada no coletivo.

Deus na visão de qualquer religião ou espiritualidade deve estar adstrito ao bem, portanto não quer a miséria entre humanos. Combater a desigualdade e o ódio é dever de todos para aceitação do Deus de cada um. Deus não quis. Deus enquanto Bem não quer.

(*) Valtênio Paes de Oliveira é professor, advogado, especialista em educação, doutor em Ciências Jurídicas, autor de A LDBEN Comentada -Redes Editora, Derecho Educacional en el Mercosur- Editorial Dunken e Diálogos em 1970- J Andrade.

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