É interessante como, neste curto tempo aqui no Brasil, tenho podido conhecer tantas coisas que eram totalmente desconhecidas para mim, ainda sendo um país vizinho. Coisas realmente extraordinárias que não se acham buscando na internet. Conhecer o Brasil no fundo das suas entranhas, o Brasil real, tem sido uma experiência grandiosa, que apenas inicia, já que falta muito por andar. Mas o pouco conhecido até agora dá para valorizar, com grande admiração, essa desconhecida nação vizinha. A alma generosa da sua gente, as suas maravilhas naturais e a sua complexidade histórica. Mas, infelizmente, também ter podido conhecer os seus grandes males, que como em todas as nações do nosso continente, vão puxados pela imensa ignorância que se tem dessas próprias bondades da natureza e da vida.
Brasil é um dos países com maiores níveis de contaminação do mundo, com maiores indicadores de desigualdade social, uma educação pública deficiente, níveis baixos de participação cidadã protagonista, (…). Problemas que de igual jeito estão presentes nas nossas outras nações sul americanas, talvez em maior grau. Mas que aqui por causa da dimensão territorial, a educação deficiente na maioria dos cidadãos e o seu desconhecimento sobre a sua cultura, história, economia da nação, sejam algumas razões para que os grupos que tradicionalmente dominam o poder econômico e político, e por consequência, controlam a opinião pública midiatizada, consigam de uma ou outra maneira aprofundar e perpetuar esses níveis de ignorância na população para controlá-la.
Sobretudo, na estratégica do jogo da polarização ideológica para opacar o pensamento crítico numa dicotomia que às vezes chega à estupidez, como os casos venezuelano, colombiano ou mesmo nos Estados Unidos, onde se consegue confrontar a população – entre eles -, e que na maioria dos casos age guiada pelo primitivismo animal, como manada cega atrás do macho Alfa (símbolo da liderança que no caso humano pode ser feminino, ou de qualquer outro gênero) e não realmente de maneira racional-emocional, com senso crítico pelos seus interesses coletivos, porque se fossem assim as ações seriam de outro jeito, com muito mais consciência, maturidade, autonomia e organização.
Paradoxalmente, um país como o Brasil, que está entre as nações que mais aportam ao mal-estar global, por causa da poluição por dejetos plásticos em canais hidrográficos e no mar, apresentando um nível baixo de tratamento dessa poluição (1,8% de reciclagem efetivo); a queima indiscriminada de florestas, causa provada de epidemias que estão atacando aos seres humanos, produzidas pelo ecocídio que faz desaparecer milhares de espécies animais e vegetais, portadoras naturais de vírus que emigram para os humanos, causa do desflorestamento por séculos intensificada no século XX nos cinco continentes (com uma maior incidência em África, Oceania, Ásia e América Latina); o racismo; o classismo; o machismo; a indiferença frente às injustiças, entres outros. Ao mesmo tempo destaca-se por ter grandes personagens e grupos trabalhando em propostas inovadoras na cultura (entendida como tudo o que pensam, fazem e produzem os humanos), na área da ecologia, da ciência, das artes, da educação pela vida em equidade e em confronto com os valores globalizados do controle exercido pelo sistema de extermínio psicótico que impõe a mercantilização e o máximo lucro em prejuízo da vida mesma.
É assim que como no Brasil, entre essa variedade de propostas inspiradas numa pluralidade de pensamentos, existem centros urbanos e rurais de referência internacional dedicados a uma ideia que une numa cosmovisão ecológica estratégias de ação para o reconhecimento da natureza como a “otredade” que nos inclui como uma manifestação mais da vida, com o uso de tecnologias apropriadas respeitosas da convivência. Organizações orientadoras em cidades e povoados que vêm fazendo um trabalho devagar há muito tempo, empuxado na filosofia de ação da PERMACULTURA. Uma proposta interessante nascida nos anos 70 do século passado na Austrália, e que chegou ao Brasil na década dos anos 80, da mão de um de seus criadores australianos.
No próximo artigo estaremos falando de novo sobre este importante tema…
Assista:
(*) Poeta e artesão venezuelano. Licenciado em Educação, especializado em Desenvolvimento Cultural pela Universidade “Simón Rodríguez”, Venezuela.
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