A pandemia do coronavírus que abala o mundo, desde dezembro do ano passado, tem provocado perplexidade, dores e mortes. Até a tarde de ontem (sábado, 21), o vírus atingiu 176 países e territórios no mundo, matou 12,7 mil pessoas e infectou mais de 297 mil, segundo um levantamento da universidade norte-americana Johns Hopkins. Ao longo desta semana, o portal Só Sergipe colheu depoimentos de sergipanos que vivem na Itália, Portugal, Londres, Estados Unidos e de uma turista que está no Peru, para saber que reflexões fazem diante do inimigo invisível que colocou o mundo de joelhos.
Há sete anos vivendo em Sansepolcro, uma comunidade italiana da região da Toscana, na província de Arezzo, com 17 mil habitantes, a sergipana Ângela Silva Ferreira, 37 anos, o marido italiano Paolo Gaburri, 55, e o filho Gabriel, de 3 anos, tiveram a rotina mudada, porque não saem de casa há quase um mês. “Nem eu, nem a população, com exceção para ir ao mercado”, conta. O restaurante onde trabalha como cozinheira está fechado por determinação do governo local. Ela lembra que quando começaram a surgir os primeiros casos a população se apavorou, “começou a pensar nas consequências e como se prevenir”.
“Aqui está em silêncio dia e noite. Os italianos têm uma vida agitada e tiveram que parar. Ninguém esperava que chegasse a esse ponto”, disse Ângela, referindo-se às mortes em território italiano. Até sábado, foram contabilizadas 4.825 mortes, com 793 falecimentos em 24 horas. As autoridades italianas anunciaram 6.557 novos casos positivos, outro recorde preocupante. Em Sansepolcro não havia nenhum caso até ontem, segundo Ângela, mas na Toscana eram 1.330 infectados e 22 mortes.
Ela manda um conselho para os brasileiros. “Se protejam com máscaras, luvas, evitem contato com outras pessoas, não abrace e nem beije. Tudo pode contaminar. Os jovens são assintomáticos. Evite o risco de contaminar o próximo. É hora de valorizar certos detalhes, os momentos juntos, por mais que isso seja por um motivo triste. É positivo estarmos juntos”, ensina.
Há dois anos e nove meses residindo em Viseu, no norte de Portugal, o professor de idiomas, Flávio Guimarães, disse que no país as pessoas “se impuseram em quarentena. Você vê pouca gente nas ruas. Precisei ir ao mercado do shopping e estava vazio. As lojas estão abertas, mas com restrições”. Segundo ele, não há comportamento desesperado no comércio de Viseu, mas muita preocupação porque a Itália é muito perto.
“O que me chama a atenção aqui é o comportamento cívico das pessoas. Elas têm consciência do perigo. Os vírus, a peste negra e a gripe espanhola estão na memória do europeu e eles levam muito a sério isso”, destacou o professor Flávio.
A filha dele, Manuela Guimarães, estuda na Universidade de Algarve, em Faro, que suspendeu as aulas, ela se juntou à família. “A universidade fechou no dia 12 de março e olha que a direção demorou três dias para tomar a decisão”, disse ao acrescentar que os professores, que têm mais idade, estavam preocupados.
Assim como o pai, o que chamou a atenção de Manuela “foi o espírito cívico muito forte. As pessoas respeitam bastante, todos estão com muito medo. Um amigo trabalha no aeroporto e disse que lá está vazio”. Outro detalhe: o Uber Eats suspendeu o pagamento das entregas e muitos restaurantes adotaram o sistema takeaway (na tradução literal, pegue para levar). “Nós gostamos muito de um pastel e vamos lá buscar”, disse Flávio.
Com a família toda reunida (a esposa e o casal de filhos), Flávio está mais tranquilo. Em Portugal, de acordo com o site Diário de Notícias, ontem à noite, 12 pessoas tinham morrido devido à Covid-19 e 1.280 casos estavam confirmados, de acordo com o boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).
A 201 quilômetros de Viseu, em Viana do Castelo, reside o atuário e jornalista Wenderson Wanzeller, que a cerca de dois anos reside em Portugal com a família. Ele alerta que todos devem tomar cuidado com a Covid-19 e sua opinião sobre a postura dos portugueses diante do caos é praticamente idêntica aos de Flávio e Manuela Guimarães. Assista, no final deste texto, ao vídeo gravado no dia 17 de março por Wenderson, a pedido do Só Sergipe.
Duas coisas preocupam o máster chefe sergipano, Rogério de Oliveira Costa, que há 17 anos reside em Londres: a Covid-19 e o cancelamento dos seus contratos. Ele é proprietário do buffet Rogerio’s Brazilian Kitchen, que oferece aos londrinos e estrangeiros, o melhor da cozinha brasileira na Europa. Cinco contratos dele, inclusive um na Embaixada do Brasil, foram cancelados. No dia 15, ele deveria ter ido à França, para onde viaja a cada duas semanas, para montar o buffet num retiro espiritual.
Naquele momento, a Inglaterra fechou a fronteira com a Itália e depois com a Espanha, “e o diretor do retiro desistiu do evento. Agora estamos aqui aguardando as ordens do governo. Provavelmente não iremos trabalhar nas próximas três semanas”, disse Rogério.
O número de mortos no Reino Unido aumentou para 144, entre mais de 2.700 infectados, e Londres reagiu com planos de emergência para lidar com o surto, incluindo exames forçados para casos suspeitos.
“Eu fui ao supermercado e não encontrei nada. Incrível, o cenário parece daquela série The Walking Dead, com as prateleiras vazias, o local sem ninguém, porque todas as pessoas estão isolados. É demais. Alguns amigos já começaram a estocar comida. Estes próximos dois meses serão de gastos e perdas. Vou buscar orientações sobre negócios com um representante do governo. Quem vai sofrer são as pessoas que trabalham por conta própria, como eu”, afirmou. Rogério estava pesquisando os voos para o Brasil, pois sua pretensão é voltar a Aracaju e ficar até passar a pandemia, mas não sabe se isso será possível.
O motorista de caminhão René Gois mora na cidade de Woonsocket, no Estado de Rhode Island, nos Estados Unidos. Ele sempre teve cuidados de lavar as mãos, mas agora essa prática foi reforçada para proteger-se da Covid-19. Ontem à noite, ele estava no Massachusetts e contou que, por lá, estava tudo parado.
“Nos lugares que tenho ido, não vejo pessoas. Alguns restaurantes estão funcionando com restrição, as pessoas não podem entrar, só pegar a compra pela janela e ir embora. Há muitas coisas fechadas. Vamos esperar que tudo isso passe rápido”, torce René.
Ele enviou o depoimento de uma amiga brasileira, que também reside nos EUA. Ela sofre com o desabastecimento em algumas redes de supermercado, a exemplo da Walmart. “Falta leite, carne, macarrão, cereal, frango. Vi o povo desesperado andando com máscaras no rosto. Nem remédio encontrei. Vi um Tylenol e comprei o último que tinha para meu filho pequeno, que está nascendo os dentes e preciso desse medicamento, caso ele sinta dor”, contou.
Nos EUA, ordens de isolamento afetam cerca de 75 milhões de americanos. Mais de 23 mil pessoas foram diagnosticadas com Covid-19 no país e ao menos 295 morreram. Os dados são de ontem.
Conhecer os pontos turísticos do Peru, numa viagem de 17 dias. Esse era o plano da professora Jaqueline Alves Batista. Ela chegou em Lima no dia 10 de março e pretende retornar no dia 27. “Estava tudo relativamente tranquilo aqui com cinco casos, e em oito dias foram confirmados 85”, afirmou. Ela já não sabe se poderá voltar dia 27 ao Brasil, porque tudo está fechado no Peru. Jaqueline tem residência em Aracaju e Entre Rios, na Bahia, e fica entre essas duas cidades.
“Cheguei a conhecer alguns lugares lindos”, disse, referindo-se, por exemplo, a Nazca, onde existem as intrigantes linhas de Nazca, que são formas geometricamente perfeitas de plantas e animais espalhadas em 450 km². O passeio estava bom, mas Jaqueline teve que voltar às pressas para Lima, porque o governo peruano determinou que todos retornassem a casa. Foram quase seis horas de viagem.
Assim como acontece em vários lugares do mundo, para evitar aglomerações e contágio, o governo peruano determinou o fechamento do comércio e das fronteiras. “Não encontramos quase nada nas feiras-livres”, disse Jaqueline que está no bairro Los Olivos, no centro, hospedada na casa de amigos.
Esta semana, o governo peruano permitiu que alguns turistas, inclusive brasileiros, retornassem para os países de origem, mas Jaqueline não estava nesse grupo e continua por lá. Até ontem no Peru foram registradas três mortes e há 234 casos confirmados.
“Aqui só se fala no coronavírus. Os hospitais estão preparados. Por outro lado, a moeda despencou. Um real valia S/.85 centavos de sóis (sol é a moeda peruana e seu símbolo é S/.), depois baixou para 65 centavos. Tive que trocar R$ 1 mil por S/. 650 sóis.
Jaqueline segue na casa de amigos sem poder sair, aguardando o momento de voltar para o Brasil. Os lugares que queria conhecer no Peru ficarão para uma próxima viagem, quando o terror do Covid-19 tiver passado.
Depoimento em vídeo de Wenderson Wanzeller
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