quinta-feira, 24/04/2025
cacau
Cacau produzido em Sergipe Foto: Arquivo pessoal

Sergipe espera produzir 15 toneladas de cacau em 2025

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O que antes parecia improvável está se tornando realidade: Sergipe começa a se destacar como produtor de cacau. Tradicionalmente associado à Bahia, o cultivo da fruta foi introduzido em solo sergipano há cerca de dez anos pela Emdagro (Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe). Em 2024, a produção de amêndoas chegou a 10,3 toneladas e, para este ano, a expectativa é de um crescimento entre 35% e 40%, dependendo das condições climáticas, podendo chegar a 15 toneladas.

Em Sergipe, hoje, são mais de 31 produtores espalhados por municípios como Arauá, Boquim, Estância, Indiaroba, Itabaianinha, Lagarto, Umbaúba e Santa Luzia do Itanhy. A área plantada soma 32,4 hectares, em consórcio com culturas como banana, mandioca e mamão. Mas os primeiros registros de plantio no estado datam de 2008, identificados por técnicos da Emdagro em áreas da citricultura no Sul e Centro-Sul.

De acordo com o engenheiro agrônomo Luiz Carlos Nunes, assessor técnico da Emdagro, o cacau é uma aposta promissora por sua adaptação às condições locais e pelo bom retorno financeiro. A empresa, segundo ele, tem promovido capacitações sobre manejo, poda, adubação, colheita e beneficiamento das amêndoas. Em 2020, a empresa implantou Unidades de Observação em parceria com seis agricultores dos municípios de Arauá, Estância, Lagarto e Umbaúba. Essas unidades têm como objetivo a transferência de tecnologia e o compartilhamento de experiências com outros produtores da região.

cultura é desenvolvida em sistemas agroflorestais, geralmente em consórcio com banana-da-terra ou maracujá — o que garante renda antes mesmo da frutificação do cacau. O preço da amêndoa também é animador: uma arroba da variedade fermentada chega a R$ 1.000, o que pode representar entre R$ 4.000 e R$ 5.000 para pequenos lotes. “Quem antes levava a produção para a Bahia agora vende aqui mesmo, com lucro garantido”, disse Jean Carlos Nascimento, diretor de assistência técnica, extensão rural e pesquisa da Emdagro.

Um dos principais desafios para a expansão da produção em Sergipe é a falta de viveiros locais com mudas certificadas, fator que reduz o risco fitossanitário e fortalece a produção local. Para mudar esse cenário, a Emdagro iniciou o processo de credenciamento do primeiro viveiro de mudas certificado do estado, na propriedade do agricultor Josinaldo Pereira Cândido, localizada na comunidade de Nova Descoberta, no município de Indiaroba — atualmente o que possui maior área plantada do estado.

A virada na vida de Josinaldo

Foi por sugestão da mãe que Josinaldo Pereira Cândido, 44 anos, trocou a construção civil pelo campo. Natural do povoado Botiquim, em Indiaroba (SE), ele hoje vive exclusivamente da produção de cacau, cultivado em três tarefas de terra. A trajetória dele é marcada pela persistência e inovação, em um cenário onde poucos acreditavam no potencial da cultura cacaueira.

A decisão de investir no cacau veio após o fracasso com o cultivo da laranja, prejudicado pela mosca negra. Incentivado pela mãe e observando o exemplo de um vizinho, Josinaldo começou a buscar informações com agricultores da região. Foi então que conheceu um produtor em Umbaúba. “Ele olhou pra minha terra e disse: ‘Rapaz, você é rico e não sabe. Se plantar cacau aqui, vive sossegado’”, relembra Josinaldo.

Ele iniciou sua jornada com mudas feitas a partir de pés comuns da região. Mais tarde, recebeu apoio da Emdagro, que o orientou e o levou a uma visita técnica a Itabuna e Ilhéus, na Bahia. Lá, ele aprendeu sobre poda, colheita, fermentação e clonagem.

De volta a Sergipe, dedicou-se à clonagem do cacau e começou a planejar seu próprio viveiro. Com o apoio do Governo do Estado e da Emdagro, conseguiu formalizar o projeto e está preparando o terreno para iniciar a produção de mudas clonadas para venda.

Enquanto isso, a produção já dá retorno. Com plantios iniciados há cerca de sete anos, ele colheu aproximadamente duas toneladas de amêndoas no último ano. A produção, que antes era vendida em Santo Antônio de Jesus (BA), agora também é vendida em Sergipe e revendida para a Bahia. O valor da arroba (15 kg) subiu de R$ 700 para R$ 800, gerando retorno financeiro significativo.

“Se eu soubesse, tinha plantado antes. Hoje vivo só disso. Parei de trabalhar como pedreiro e sustento minha família com o cacau. Já comprei um pequeno trator, uma bomba para pulverização e estou investindo em irrigação e na ampliação da área plantada”, afirma Josinaldo. Do total de nove tarefas do terreno, seis estão destinadas ao cacau — três em produção e três em fase de preparação.

Ele conta com a ajuda da esposa e, eventualmente, de parentes na colheita e quebra do cacau. “A irrigação era fraca, tive que trocar bomba, encanação, tudo. Peguei financiamento pelo Pronaf (Banco do Nordeste) para isso. Aos poucos, a gente vai estruturando”, explica.

Apesar dos desafios, o produtor comemora as mudanças proporcionadas pela cacauicultura. “Hoje a gente já vive disso. Mas ainda estou investindo. Com o tempo, penso em melhorar mais a estrutura, talvez até fabricar chocolate. Por enquanto, vender as amêndoas é mais viável”, pondera.

Bahia, maior produtora de cacau do país

O maior produtor de cacau do Nordeste — e também do Brasil — é o estado da Bahia, que retomou a liderança nacional em 2023. Segundo dados da Pesquisa Agrícola Municipal (PAM) do IBGE, a Bahia produziu 139.011 toneladas de amêndoas de cacau no ano passado, superando o Pará, cuja produção foi de 138.471 toneladas.

Os principais municípios baianos produtores de cacau são: Ilhéus – 8.961 toneladas; Wenceslau Guimarães – 8.775 toneladas; Ibirapitanga – 8.655 toneladas; Gandu – 4.180 toneladas; Teolândia – 3.820 toneladas; Uruçuca – 2.970 toneladas; Presidente Tancredo Neves – 2.900 toneladas; Itacaré – 2.890 toneladas; Nova Ibiá – 2.880 toneladas; e Camamu – 2.790 toneladas.

Apesar da retomada baiana, o Pará aparece logo atrás, com 138.471 toneladas, mostrando a força da cacauicultura na região Norte e a disputa acirrada entre os dois estados. Na terceira posição do ranking nacional está o Espírito Santo, com produção de 12.184 toneladas, seguido por Rondônia, que colheu 5.053 toneladas em 2023. O Amazonas fecha a lista dos cinco maiores produtores, com 597 toneladas registradas.

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