Em outros termos, pareceria ser defensável que a combinação de pouca mão-de-obra, mercado consumidor restrito e reduzido espaço territorial seriam elementos de uma condenação ao subdesenvolvimento.
No entanto, há um diminuto país balcânico, na orla do Mar Adriático, que subverte essa lógica: a República da Eslovênia. Essa nação eslava possui apenas 20,3 mil Km2 e uma população de 2,1 milhões de habitantes, medidas similares às de Sergipe (que possui 21,9 mil Km2 e 2,3 milhões de residentes).
Mas as semelhanças param por aí. As diferenças entre essas duas localidades são as mais diversas possíveis, dos quais ganharão destaques neste texto o perfil de suas pautas de exportações e as suas estruturas de distribuição de renda, a fim de se tecer uma relação entre esses dois fenômenos.
O Produto Interno Bruto (PIB) da Eslovênia, em 2016, foi da ordem de US$ 43 bilhões. Com isso, o PIB per capita ficou em US$ 20,7 mil no referido ano. Números que fazem com que o pequeno país eslavo seja a 30ª economia europeia, mas, ao mesmo tempo, o 20º produto per capita daquele continente. Enquanto isso, o PIB sergipano ficou em US$ 12 bilhões, ao câmbio de fim de período de 2016, e um produto per capita de US$ 5,3 mil.
Obviamente, não é adequado estabelecer uma comparação direta entre uma nação soberana integrada ao segundo maior bloco econômico do mundo e uma pequena unidade subnacional periférica, de uma região marginal, em um país subalterno.
Todavia, isso não é empecilho para que se extraiam lições de uma experiência de desenvolvimento econômico digna de nota. Afinal, até pouco menos de três décadas atrás, a Eslovênia não era nem um país independente.
Os números mostram que a opção eslovena de crescimento se deu a partir da expansão de um diversificado parque industrial de produtos com alto valor agregado. Em 2017, o país exportou US$ 28 bilhões, enquanto que o pequeno estado nordestino o fez em níveis de apenas US$ 74 milhões.
Naquele mesmo ano, 83,4% das exportações da ex-república iugoslava foram de produtos manufaturados, basicamente itens de grande valor incorporado como veículos, máquinas e produtos químicos. Isso contrasta com os 68% das exportações sergipanas focadas em suco de laranja congelado e calçados.
Ao tempo em que a indústria vem desde o início do século perdendo espaço na economia sergipana, as exportações de bens transformados eslovenos vêm crescendo a uma taxa de quase 1% ao ano desde 2012. Adicione-se ainda o fato de que o produto per capita esloveno sofreu um incremento de 24,9% de 2002 a 2016 e o sergipano, evoluiu tão somente 2,5% no mesmo período.
Isso permite sugerir que sem agregação de valor no decorrer da cadeia produtiva, fica comprometido o desenvolvimento econômico de qualquer localidade. Entretanto, esse fator não é bastante e suficiente para explicar a realidade encontrada. É preciso ver também como os eslovenos partilham a riqueza ali gerada.
Na Eslovênia não há registros estatísticos de pessoas que vivam com renda inferior a US$ 1.90 diários. Em Sergipe, essa realidade chega a 14,8% dos seus domicílios. Não à toa que o Índice de Gini do país eslavo é de 0,215 ao passo em que o do estado nordestino é de 0,558 pontos, e isso não é bom!
Na referida nação, os 10% mais ricos somam um estoque total de riqueza próximo ao detido pelos 40% mais pobres. Por sua vez, em Sergipe, vê-se um cenário no qual os 10% mais ricos possuem uma renda mensal treze vezes superior a dos 40% mais pobres, configurando uma situação funesta de desigualdade social.
O limite nacional de pobreza para uma família de quatro pessoas, na Eslovênia, está em uma renda mensal de R$ 5,7 mil. Enquanto isso, em Sergipe, o rendimento médio habitual das pessoas ocupadas, em seu trabalho principal, fica em exatos R$ 1.492,00 por mês.
No entanto, é preciso salientar que não se está falando de uma potência econômica europeia. Pelo contrário, a Eslovênia não responde nem por 0,5% do Produto Interno Bruto europeu. Ou seja, a falta de protagonismo não é por si só um entrave ao crescimento.
Ressalte-se que a história do desenvolvimento econômico social dessas duas unidades geográficas é mais complexa do que seria possível resumir em um texto opinativo, mas o que se deseja aqui é apenas estabelecer as bases para um princípio unificador.
Sendo que esse fundamento seria dado pela combinação de duas dimensões: a de que o crescimento econômico é fruto de agregação de valor e de ganhos de produtividade e o desenvolvimento social é resultado de uma justa e digna estrutura de redistribuição de renda.
Sergipe é um estado pobre, dependente, periférico e de riqueza concentrada, cujo arcabouço produtivo é historicamente determinado e que, a despeito de alterações recentes, tem suas bases ainda no período colonial, mas que agora precisa se reinventar caso queira dar uma vida decente ao seu povo neste início de século.
E caso o pequeno estado nordestino venha a ter dúvidas quanto a como operacionalizar isso – mesmo reconhecendo a complexa realidade federativa na qual ele está inserido – a Eslovênia mostra um modo de como se deve proceder e passa a ser um exemplo a ser seguido.
Emerson Sousa é economista
Fábio Salviano é sociólogo
A capital sergipana já está em ritmo de contagem regressiva para a realização do…
Por Diego da Costa (*) ocê já parou para pensar que a maioria…
O Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Assistência Social, Inclusão e…
Por Sílvio Farias (*) Vinícola fundada em 1978 com o nome de Fratelli…
Por Acácia Rios (*) A rua é um fator de vida das cidades,…
Com a realização do Ironman 70.3 Itaú BBA, a maior prova de triatlo da…