A produção citrícola sergipana vive um momento de destaque, com o estado como o 2º maior fornecedor de laranjas para as Centrais de Abastecimento (Ceasas) de todo país. Em agosto de 2024, Sergipe enviou 5,8 mil toneladas da fruta para esses centros de distribuição. Os números, divulgados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), ressaltam a importância do estado no abastecimento de frutas, posicionando Sergipe entre importantes produtores agrícolas, desempenho que, aos poucos, tem devolvido ao estado os bons resultados dos tempos áureos da citricultura em pomares sergipanos.
Os dados foram trazidos no Boletim Hortigranjeiro Nº 09, Volume 10, do Programa Brasileiro de Modernização do Mercado Hortigranjeiro (Prohort), que analisa a comercialização exercida nos entrepostos públicos de hortigranjeiros, que representam um dos principais canais de escoamento de produtos in natura do país. Ainda segundo o boletim, o cinturão citrícola forneceu 35,9 mil toneladas para as Ceasas em agosto, e Boquim, em Sergipe, foi apontado como a 2ª maior microrregião produtora individualmente que forneceu laranja para as Ceasas, com 5 mil toneladas, seguida por regiões goianas, baianas, mineiras e fluminenses, com 4 mil, 3,58 mil, 3,48 mil e 1,28 mil toneladas, respectivamente.
De acordo com a gerente de Produtos Hortigranjeiros da Conab, Juliana Torres, Sergipe é um grande produtor de laranja tanto para consumo no atacado e varejo como para exportação, sendo o suco de laranja um dos principais produtos da pauta de exportação do estado. “Sergipe se destaca no abastecimento de laranja às principais centrais atacadistas brasileiras, sendo que no mês passado foi o segundo estado com maior fornecimento. A microrregião de Boquim geralmente é a 2ª microrregião brasileira que mais fornece laranjas para as Ceasas. Em setembro, o volume chegou a 5,2 mil toneladas. Os envios têm como principal destino a Ceasa/PE – Recife e a Ceasa/ES – Vitória. Esses dados mostram a importância da produção sergipana no abastecimento nacional de laranja, produto que está com a demanda aquecida”, declarou.
Apoio que faz a diferença
O desempenho da citricultura em Sergipe está diretamente ligado ao apoio da Secretaria de Estado da Agricultura, Desenvolvimento Agrário e da Pesca (Seagri) e da Empresa de Desenvolvimento Agropecuário (Emdagro), que têm fornecido assistência técnica aos pequenos produtores. Além disso, a alta nos preços da laranja, que chegou a R$ 2.400 por tonelada em 2024, está impulsionando a produção voltada ao abastecimento das Ceasas. Com a expectativa de que o preço atinja R$ 3 mil até o final do ano, muitos produtores estão reativando seus pomares.
De acordo com o chefe do escritório da Emdagro de Boquim, Joetôneo Ferreira Neves, conhecido como Ferreira, essa valorização está diretamente ligada à crise citrícola nos Estados Unidos, onde a doença ‘greening’ tem dizimado pomares na Califórnia, que já foi um dos maiores produtores de laranja do mundo.
Ferreira destacou que o aumento no preço da laranja foi o estímulo que muitos produtores precisavam para voltar a investir. “Há três anos, a tonelada era vendida a apenas R$ 400, e muitos desistiram. Mas, com a alta recente, os pomares estão sendo reativados, e o otimismo voltou. Com essa queda na produção americana, eles estão buscando a laranja brasileira, aquecendo o mercado global. Como maior consumidor de suco de laranja, os Estados Unidos aumentaram suas importações, o que está gerando um efeito em cadeia, o que tem favorecido, também, o abastecimento interno”, explicou.
Esse cenário reflete diretamente nas Ceasas, onde a demanda por laranjas sergipanas tem sido constante e crescente. O representante da Emdagro conta que, com a produção de laranja voltada para o consumo interno aquecida, muitos produtores estão aproveitando o bom momento para direcionar parte de suas colheitas para esses centros de distribuição. Antes, a estimativa era de mil produtores em Boquim. Hoje, é um pouco menor porque muitos saíram da atividade em função da idade e mudaram de cultura. “Porém muitas dessas áreas que foram arrendadas que estavam produzindo mandioca e milho estão voltando para citricultura por conta do bom momento da produção da laranja no estado. Então, Sergipe está em crescimento na produção do estado, especialmente a região de Boquim, que foi o berço no estado”, relatou Ferreira.
Pomares saudáveis
Apesar da crise que afeta outros estados produtores de laranja, como São Paulo e Minas Gerais, devido à praga do greening, Sergipe se destaca com uma perspectiva de crescimento na citricultura. Um dos fatores que diferencia a produção local é a sanidade dos pomares, garantida pelo rigoroso controle sanitário realizado pela Emdagro, que impede a entrada de doenças. Além disso, o estado mantém viveiros telados para a produção de mudas saudáveis, o que contribui para a resiliência da citricultura sergipana.
Em 2023, Sergipe se consolidou como o 5º maior produtor de laranja do Brasil e o 2º do Nordeste, com uma produção de 382 mil toneladas. Esse resultado é fruto de uma área colhida de 31 mil hectares, com um rendimento médio de 14 mil kg/ha. A produção é concentrada em 14 municípios das regiões sul e centro-sul, com destaque para Cristinápolis e Itabaianinha, segundo dados do IBGE.
Produtores de Boquim
Boquim, tradicional polo citrícola de Sergipe, desempenha um papel essencial no fornecimento de laranja. José Hunaldo Andrade é produtor da região. Oriundo da região de Tobias Barreto, o agricultor relatou que se transferiu para a região de Boquim há 24 anos, atraído pelos bons resultados da produção da laranja na época.
“Nos últimos anos, vimos uma mudança significativa no foco da produção. Antes, boa parte da laranja ia para a indústria de suco. Hoje, estamos priorizando o abastecimento das Ceasas, que têm uma demanda crescente por laranjas de mesa”, comentou José Hunaldo, que cultiva 35 hectares de laranja.
Ele também detalhou o ciclo de colheita, que ocorre três vezes ao ano, com a devida assistência técnica promovida pela Emdagro, o que garante o bom manejo da plantação. De acordo com o produtor, a colheita é feita em parceria com atravessadores, que compram o produto ainda no campo. A laranja de melhor qualidade vai para o comércio, especialmente para o Ceasa de Itabaiana e de Aracaju, e a outra parte é destinada à indústria.
O produtor enfatizou que o apoio da Emdagro tem sido crucial para garantir que os agricultores locais possam atender a demanda com qualidade. “A assistência técnica nos ajuda a produzir uma laranja de melhor qualidade, que atende ao mercado consumidor. Isso nos possibilita negociar melhores preços e garantir o sustento de nossas famílias”, afirmou.
O citricultor contou que muitos pequenos proprietários não conseguiram manter suas plantações. “Muitos desistiram, abandonaram os sítios ou migraram para o milho e mandioca. Mas quem persistiu hoje colhe os frutos. Graças ao incentivo e à orientação técnica da Emdagro, com foco no combate às pragas e no preparo do solo, estamos bastante satisfeitos. A produção de laranja está boa e estamos quase alcançando a independência financeira”, frisou.
Adilson Souza Santos, 52 anos, é um dos trabalhadores rurais que realizam a colheita da laranja na propriedade de José Hunaldo Andrade. Para ele, o crescimento da produção da laranja é importante porque interfere no seu sustento e da sua família. “É gratificante, porque aqui tiro o sustento da minha família e ainda tem 12 trabalhadores que também trabalham comigo”. Ele explicou que o trabalho é concentrado principalmente no período de colheita. “Agora no mês de novembro a colheita está quase no final. Depois vamos passar uns dois meses sem trabalhar, e o que vai nos manter é o benefício do Mão Amiga Laranja”, contou, referindo-se ao benefício do Governo do Estado que dá apoio aos trabalhadores rurais da citricultura durante a entressafra.
Assistência
O sucesso de Sergipe no fornecimento de laranja para as Ceasas não seria possível sem o trabalho desempenhado pelo Governo do Estado, por meio da Emdagro. O chefe da unidade regional da Emdagro em Boquim, Luiz Fernandes de Oliveira Silva, ressaltou que a assistência técnica tem sido essencial para melhorar a produtividade e garantir que a produção local possa atender às exigências do mercado consumidor. “Temos ajudado os produtores a melhorar o manejo de suas lavouras, controlar pragas e doenças, e utilizar técnicas modernas que aumentam a produtividade e a qualidade da fruta”, explicou.
Um ponto de destaque é o controle rigoroso do greening, também conhecido como Huanglongbing (HLB), doença que afeta gravemente pomares em outros países, feito pelo trabalho de vigilância e controle da Diretoria de Defesa Animal e Vegetal Emdagro. “Nós monitoramos constantemente as fronteiras do estado e controlamos a entrada de mudas de outros lugares para evitar a introdução de doenças. Esse cuidado tem sido fundamental para garantir a saúde dos nossos pomares e a competitividade da nossa laranja no mercado”, disse Luiz Fernandes.
Perspectivas
O Programa de Citricultura Sustentável, do Governo Estadual, tem impulsionado ainda mais a produção, com ações como a distribuição de 210 mil borbulhas de citros e a implantação de viveiros que produzirão cerca de 300 mil sementes de variedades mais resistentes. Além disso, campanhas contra a compra de mudas clandestinas e o uso de novas tecnologias, como a fibra de coco para produção de substrato, têm ajudado a reduzir custos e aumentar a produtividade. Esses incentivos, aliados ao bom momento do mercado, têm motivado os produtores a reinvestir na citricultura, reativando pomares e expandindo suas áreas de cultivo.
“Sergipe já foi o 2º maior produtor de laranja. Estamos em 5º no momento, e a perspectiva é muito positiva. Muitos citricultores estão se sentido estimulados com esse momento bom na citricultura. O pessoal está reinvestindo, está acreditando, vendo que a tendência do mercado é crescer”, declarou Luiz Fernandes.
Um desses agricultores é Manoel Álvares Nascimento, de 66 anos, morador do povoado Meia Légua, em Boquim. Produtor de laranja há 22 anos, Manoel explicou que possui uma plantação de seis tarefas de terra e que o bom momento de valorização do produto tem estimulado a expansão da plantação. Manoel admitiu que não investiu no sítio como deveria e se arrependeu. “Se tivesse acreditado na produção, teria colhido mais. Agora, estou otimista e já comecei a adubar o terreno, com a expectativa de melhores resultados no futuro”, disse, ao reforçar a importância da assistência técnica. “Se tivesse que pagar por esse serviço, seria muito caro. Aqui, o pessoal da Emdagro vem e ajuda sem custo. Isso faz toda a diferença”, apontou.