O Projeto Califórnia, no município de Canindé do São Francisco, tem um grande potencial para ser um excelente produtor de uvas viníferas e de mesa. A afirmação é do técnico agrícola da Embrapa Semi-árido de Petrolina, Guy Rodrigues de Santana, que há três anos dá assistência a produtores sergipanos. Na última safra, há quatro meses, foram colhidas 11 toneladas por hectare de uva para suco.
Na terça e quarta-feira desta semana, Guy Rodrigues esteve no Projeto Califórnia, conversou com produtores e também com o professor Darlei Possamai, dono da Vinícola Possamai, que compra as uvas para produção de vinho, em Aracaju. “Conversamos com os produtores para vermos a possibilidade de termos mais uvas viníferas aqui no projeto, adquiridas no Rio Grande do Sul”, disse Guy.
100 dias
Ele explicou que na região vinícola de Petrolina é proibida a comercialização. Hoje, o Projeto Califórnia tem uvas de mesa boas para vinhos como a Isabel e a Violeta. Daqui a aproximadamente 100 dias, quando ocorrerá uma nova colheita de uvas, está prevista uma visita de campo com a Embrapa Petrolina e a Cohidro. “Nós temos formação suficiente para emitirmos um laudo técnico de que a região é viável”, assegurou Guy Rodrigues. Nesse dia de campo, a intenção é mobilizar os meios de comunicação, bancos, produtores, Cohidro, Codevasf Aracaju para mostrar o potencial da região. E com a colheita da safra essa mostragem será concreta.
A Embrapa Petrolina atende, atualmente, quatro produtores de uva e um de pêra, em Canindé; mais dois produtores de uva em Lagarto que fizeram investimentos em torno de R$ 20 mil. “A cultura da uva é tecnicamente viável. Problemas teremos em qualquer cultura, mas estamos aqui para contorná-los e ajudar os produtores”, reforçou Guy Rodrigues. Ao tomar conhecimento de que há, também, um produtor de uva em Areia Branca, o técnico disse que é importante conhecer esse trabalho. O apoio que a Embrapa Petrolina dá aos produtores de Canindé e Lagarto, há quatro anos, só foi possível com as emendas do então senador Antônio Carlos Valadares para a introdução das culturas na região de Sergipe. O pesquisador da Embrapa, responsável por todo esse trabalho, é Paulo Roberto Coelho Lopes. “Tudo que fazemos é vinculado a esse recurso e o Paulo Roberto é o comandante deste trabalho com as uvas”, explicou Guy.
Os produtores
Um dos que aguardavam com expectativa o técnico da Embrapa Petrolina era o produtor José Leidson dos Santos, que deseja ampliar a produção. Ele cultiva as variedades Violeta, Isabel e Vitória, esta última sem semente. Produtor há três anos, Leidson disse que vale a pena, mas lamenta não ter dinheiro para investimentos mais altos. Ele vende a produção no município de Canindé, uma rede de supermercados, Santana de Ipanema (AL) e para a Vinícola Possamai. Na safra passada, ele colheu cinco toneladas.
Há 11 anos residindo em Canindé, após 20 anos em São Paulo, José Leidson conta que sempre sonhou com esse trabalho, mas não tinha dinheiro. Um dia, técnicos da Embapa apresentaram um teste e ele concordou em fazer. “Encarei, mesmo sem condições, e vejo que dá certo”, disse. Ele gostaria que tivesse mais incentivo do governo. “Queríamos dinheiro emprestado, estabelecendo uma forma como pagarmos depois. Seria interessante, mas ele (o governo) não pensa nesse lado. Só quer cobrar da gente”, lamentou.
Há dois anos, Levi Alves Ribeiro, conhecido como Sidrack, começou a plantar uva em Canindé, no ano passado tirou a primeira safra e neste momento não tem nenhuma uva. Ele cultiva as cepas Isabel e Violeta em meio hectare. Assim como o colega Leidson, ele também vende para a Vinícola Possamai e espera ter outras variedades para ampliar a produção.
Em Areia Branca, Carlos César dos Santos cultiva as uvas Lorena, Niágra Rosa e Niágara Branca há seis anos, mas a produção ganhou um plus há 3 anos e meio. “Como somos orgânicos, só combatemos os fungos com produtos naturais, o que é mais trabalhoso. Mas preferimos assim”, observou.
Ele comercializa a produção na Cooperativa de Produtores Orgânicos de Sergipe (Copersus), em Itabaiana, e mantém uma banca no Mercado Albano Franco, em Aracaju. Recentemente, foram colhidas três toneladas. Além da uva, Carlos César também planta maçãs, vendidas em Aracaju e na cooperativa.
O produtor ressalta que o trabalho é muito grande e que seria importante o incentivo de diversos órgãos. “Estou lutando sozinho na pesquisa com as mudas. Eu poderia dar mais um passo se houvesse incentivo oficial e não pagássemos tantos impostos. É uma fortuna, principalmente os orgânicos. É uma batalha para conseguirmos produtos naturais para combatermos os fungos e as pragas. Mas nosso objetivo é produzir saúde”, frisou.