O governador de Sergipe, Fábio Mitidieri, lançou, durante a Festa do Leite, no povoado Santa Rosa do Ermírio (importante polo leiteiro do Estado), o projeto Adutora do Leite, que prevê a construção de uma adutora com 108,60 quilômetros de extensão para transportar água captada no Rio São Francisco. A estrutura vai interligar os municípios de Canindé de São Francisco a Nossa Senhora da Glória, com investimentos superiores a R$ 240 milhões. O sistema contará com 22 reservatórios destinados ao abastecimento de rebanhos, estimados em 152 mil bovinos, dos quais 45% estão em estado de lactação. Com esse trabalho, a expectativa é de que a produção atinja 2 milhões de litros de leite por dia.
O trajeto da adutora incluirá os municípios de Canindé de São Francisco, Poço Redondo (incluindo Santa Rosa do Ermírio), Monte Alegre de Sergipe e Nossa Senhora da Glória. A água será captada pela Coderse (Companhia de Desenvolvimento Regional de Sergipe). Em Santa Rosa do Ermírio, o leite representa a principal fonte de renda para 90% das famílias, que abastecem laticínios em diferentes regiões do estado.
Segundo o governador, o projeto já está concluído e a próxima etapa será a licitação da obra, prevista para ocorrer ainda este ano. A intenção é ampliar a capacidade de produção leiteira na região, que concentra parte significativa da atividade pecuária do estado.
Durante o evento, o secretário de Estado da Agricultura, Zeca Ramos da Silva, afirmou que a proposta visa enfrentar a escassez hídrica que afeta o sertão sergipano e destacou a relevância da iniciativa para o setor produtivo rural.
Um dos organizadores da Festa do Leite e também criador, Odair José, não escondeu a alegria de ter a participação do governador trazendo notícias tão importantes para os criadores. “Santa Rosa do Ermírio ultrapassa a produção de 300 mil litros de leite por dia, despontando na liderança como maior bacia leiteira de Sergipe. Estamos na ‘terra do leite’, com maior produção por metro quadrado do estado e, agora, mais felizes, porque temos a possibilidade de ampliar nossa produção, com a chegada da obra da adutora”.
Outro criador, José Teles de Andrade Sobrinho, mais conhecido na região como Zé do Poço, também manifestou felicidade. “Aqui nós temos tecnologia, temos inseminação, temos uma genética boa, terra boa, mas não temos água. O que conquistamos até agora foi com muito esforço do produtor. Então, a ajuda do governo é muito bem-vinda”, completou.
Pesquisa BNB
Sergipe registrou o maior crescimento na produção de leite entre os estados do Nordeste e ocupa a quinta posição no ranking nacional. Segundo levantamento do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), com base em dados do IBGE, o estado produziu 132,2 milhões de litros no último trimestre de 2024, aumento de 22,6% em relação ao mesmo período de 2023. Sergipe também é o segundo maior produtor da região, com 23,1% do total nordestino, atrás apenas da Bahia (26%).
Esse avanço é impulsionado por pequenos e médios produtores localizados no Agreste, Centro-Sul e Sertão sergipano, que vêm recebendo apoio técnico e acesso a microcrédito do Banco do Nordeste, por meio do programa Agroamigo. Em 2024, o programa destinou R$ 122,1 milhões a mais de 9,6 mil operações voltadas à cadeia leiteira, o que representa um crescimento de 99,1% no valor aplicado.
Nos municípios do Agreste, Centro-Sul e Sertão, é fácil localizar pequenas e grandes propriedades de gado leiteiro. A maioria dos produtores começa com cinco a dez novilhas, além de algumas vacas adultas, mas grande parte alcança bons resultados com assistência técnica e microcrédito do BNB, por meio do programa Agroamigo.
É o caso de Nivânia de Oliveira, que trabalha há 24 anos no sistema semi-intensivo, ou seja, com animais criados soltos no pasto e alimentados com ração e plantas forrageiras (resistentes à seca). A produtora começou com um pequeno rebanho no município de Tobias Barreto, mas hoje conta com 60 cabeças de gado. Mais de 20% delas produzem ao todo 140 litros de leite por dia, com pico de 200 litros na melhor época, vendidos in natura a uma beneficiadora da região.
Ela modernizou os sistemas de cultivo e colheita, com crédito para compra de trator, plantadeira e uma novidade. “Depois do inverno chega a ordenhadeira mecânica e assim o curral fica completo. Vai ser bem melhor, porque trabalhar do jeito manual é puxado. O crédito é o começo de tudo e passei a gostar da atividade, sempre com apoio do BNB. O último contrato foi para compra de ração, além do custeio do milho, que planto para alimentar o gado e vender o restante”, detalha.
Além do leite, o estado também apresentou crescimento expressivo no abate de bovinos para produção de carne, com aumento de 30,3% no último ano — o terceiro maior da região. Em números absolutos, Sergipe é responsável por 9,4% dos abates no Nordeste, ficando atrás da Bahia (40,9%) e do Maranhão (22,4%).