Por Valtênio Paes de Oliveira (*)
Steven Levitsky e Daniel Ziblatt escreveram “Como as Democracias Morrem” publicado no Brasil em 2018. Visível que na nova ordem do século XXI precisam de ressignificação. Pode-se afirmar como os sindicatos morrem? Democracia em crise e onda conservadora atingem instituições como família, igreja, escola, sindicatos, partidos políticos etc. Neste cenário, imperativo é a ressignificação de seus atores e por consequência, das respectivas entidades. Ao que parece, o sindicato dos professores da UFS ainda não se dignou nessa busca.
Sem saudosismo, mas fundado na história, era 10 de novembro de 1979 e sob o comando do experiente e corajoso professor José Silvério Fontes, este aprendiz aceitou o convite para uma assembleia e assinar a ata da fundação da então ADFUS – uma associação de professores da UFS. O regime militar proibia formação de sindicatos. Foram anos terríveis em defesa da liberdade de expressão e da prática científica.
Doravante forjaram-se lideranças estudantis na UFS como Clímaco, Deda e Diomedes, dentre outras. Lideranças no magistério, como Silvério Fontes, Tânia Magno, Socorro, Lenalda, Luiz Alberto, Araújo e tantas outras pessoas, que se dedicaram, sem egos nem individualismos, à causa coletiva sindical. Hoje, quais seriam nossas lideranças estudantis e do magistério dentro da UFS?
Agora, em fins de junho 2024, já sindicato por décadas, o que acontece numa assembleia no período de greve? Qual o discurso e qual a prática? Parece, mas não é! Muito palavreado, coerência discurso X prática zero. Impera o individualismo. Participação frágil, salvo se for festa e o zero oitocentos. Cada profissional quer impor seu argumento desconectado da própria prática. Assim como as democracias, os sindicatos estão morrendo? Existem saídas?
A saúde da democracia depende de justiça social com fortalecimento das representações coletivas. Líderes não percebem que democracia hoje é um caminho compartilhado. Brigas internas com divisões constantes pelo uso de individualidades – do tipo: “farinha pouca, meu pirão primeiro” – põem no colo de conservadores, o poder, com apoio de extremistas.
Nos meados do século XX usava-se o discurso esquerda X direita por força da guerra fria. Hoje, tal discurso está moribundo não cabendo no sindicato requentá-lo. Sem criatividade, profissionais do magistério e estudantes abrem alas para conservadores que se aproveitam e ocupam espaço político.
Na assembleia de retorno às aulas o discurso vencido pela história, de “esquerda X direta”, é o mesmo de outrora, sem qualquer coerência histórica. Temos um amontados de moderados, progressistas e conservadores. Dispersos, sem líderes, sem discursos renovados, mas afinados com um individualismo exacerbado. Repete-se o discurso vencido de “esquerda X direita”. Tal cenário resulta na baixa aglutinação das categorias dos profissionais do magistério e, por extensão, de estudantes. Justamente na universidade, onde deve ser o celeiro da criação e do saber para a sociedade. Se os profissionais do magistério e estudantes não produzem novos saberes, enfraquecem a instituição escolar.
O ambiente universitário como de resto, toda escola, precisa de ressignificação centrada na sistematização do saber. Para tanto, no plano político, as relações entre os atores do sistema escolar, devem ocorrer horizontalmente em detrimento da atual verticalização. As relações de poder no interior das escolas, do fundamental ao superior necessitam de um constante exercício pedagógico do direito, onde o diálogo sem individualismos, seja a liga maior. Também nos sindicatos.
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