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Síndrome de Burnout deve atingir diversos profissionais pós-pandemia

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Antes da pandemia, a professora Irailde Melo trabalhava em torno de 10 horas por dia. Especialista em Gestão Escolar e Psicopedagoga, em sala de aula, lida com crianças e adolescentes de alto comprometimento cognitivo (TEA-Transtorno do espectro autista, Síndrome de Down, Esquizofrênico, TOD – Transtorno Obsessivo Desafiador e deficientes intelectuais). Até então com uma empregada na casa, gerenciando os afazeres domésticos, o tempo que sobrava era para dar conta de um descanso, orientação pedagógica do filho de oito anos, planejamento de aula, bem como estar para a família, lazer e amigos.

“Com a necessidade de isolamento por conta da pandemia, dispensei a empregada doméstica por proteção a ela e a nós também. Com isso, desde 15 de março, todas as atividades ficaram sob minha responsabilidade e já nas primeiras semanas percebi que não seria nada fácil. Durante a manhã fico entre as aulas dos meus alunos e do meu filho, à tarde faxino a casa e antecipo as refeições do dia seguinte, à noite passo ferro, planejo aula, limpo a casa, e algumas vezes encerro por volta das duas horas da manhã”, revela.

Nesse meio tempo a sala de aula passou a ser virtual e por se tratar de alunos de alto comprometimento, as atividades são individualizadas. Por conta disso a professora da educação básica passou a fazer chamadas de vídeo para cada um dos oito alunos, de segunda a sexta-feira.

“O implicador é que dependendo da reação medicamentosa do aluno muitas vezes é necessário reagendar a aula para o turno contrário, o que torna o processo cansativo e ansioso para mim, já que as tarefas domésticas, as atividades da escola de meu filho, também tenho que dar conta. Tento preservar meu marido que é médico intensivista atuando na linha de frente com os pacientes graves com o COVID-19. Já estou no esgotamento físico e mental, choro todo dia pelo cansaço que sinto, entro no banheiro e deságuo. A irritabilidade aumentou, sem paciência por coisas banais. Cheguei ao meu limite”, desabafa.

Rotina

Essa tem sido a rotina de milhares de pessoas que precisaram se adaptar a esse novo cenário, ainda sem data para encerrar.  A pandemia do novo coronavírus transformou o modo de trabalho e as relações. Da noite para o dia, passamos ao home office ou teletrabalho, com expediente em casa, tarefas domésticas e família disputando espaço com as responsabilidades profissionais.

Essa nova conjuntura tem chamado a atenção de especialistas pela complexidade no equilíbrio da rotina que tende a abrir a porta para a tão temida Síndrome de Burnout ou síndrome do esgotamento profissional, que será inserida na Classificação Internacional de Doenças (CID-11), a partir de 2022.  De acordo com a psicóloga Flor Teixeira, Mestre em Psicologia Social e professora da Unit, o primeiro estudo sobre essa patologia foi realizado em 1974, mas o aumento da globalização com acessos mais rápidos às informações, muitas pessoas acabaram assumindo várias profissões, funções, atribuições e responsabilidades. Esse conjunto de atribuições pode levar ao esgotamento profissional.

Sintomas

De acordo com  Flor Teixeira, os principais sintomas são cansaço excessivo, dor de cabeça, alterações no apetite, insônia, dificuldade de concentração, sentimentos de incompetência, de desesperança, alterações de humor, isolamento, fadiga, questões físicas como aumento da pressão, dores musculares, alteração cardíacos. “Entretanto, é preciso observar se o que está acontecendo é frequente ou se é resultado de um dia estressante. Se esse movimento é continuado, pode ser sim, o início de um processo de adoecimento”, explica.

Flor Teixeira: home office decretou o fim do happy hour

“Muitos colocaram o home office como sendo algo vantajoso para o trabalhador. E sim, essa modalidade trouxe alguns pontos positivos:  o fato de não precisar se deslocar, enfrentar o estresse de um trânsito. No entanto, é preciso colocar na balança até que ponto os fatores positivos são maiores do que os negativos. Um dos principais pontos negativos do home office foi a decretação do fim do happy hour entre os amigos e os colegas. Os principais laços de amizade são feitos em ambiente de trabalho e que se estendem para vida. Em alguns casos o adoecimento nem é pela demanda de trabalho, mas porque essa nova forma de labuta causa o afastamento de amigos”, alerta.

A psicóloga orienta que é importante estabelecer uma rotina, evitar a procrastinação dos afazeres e, dentro das possibilidades manter atividades que tragam bem estar em prol da saúde mental.

“É essencial organizar o dia. Hora para trabalhar, fazer as coisas a casa e momentos de lazer. Não transforme as 24 horas do seu dia em trabalho. Isso vai aumentar o adoecimento. Como estratégias para tentar diminuir um pouco desses efeitos, invista em atividade física, a própria terapia, meditação, dança. Existem várias estratégias terapêuticas, o que é diferente da psicoterapia. E quando falo em estratégias terapêuticas, é porque essas atividades, para algumas pessoas, podem funcionar como relaxamento, como distração, já para outras, não. Então, é importante saber o que relaxa, conversar com outras pessoas, compartilhar as suas dores, suas angústias, para realmente tentar criar um ambiente mais favorável a esse movimento”, finaliza.

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