Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos (*)
Eu cresci com os personagens da DC Comics e da Marvel. Sonhei em ser Bruce Lee e sair por aí dando porrada em gente má. Queria viajar no espaço sideral com a tripulação da Enterprise e enfrentar Darth Vader como a meus próprios demônios.
Tive uma infância feliz, mas ao mesmo tempo limitada e traumática. Aprendi, ainda muito cedo, que precisava superar muita coisa e até mesmo meus limites para ser alguém na vida. Não no sentido de ser melhor do que os outros, mas que eu pudesse um dia dizer para meus filhos: eu cheguei aqui, eu venci; vocês também podem e muito mais.
Nesse sentido, para além das lições familiares e da formação religiosa católica, o cinema foi um importante paradigma em minha trajetória de vida. E não é a primeira vez que escrevo sobre isso. E esta semana fui instado novamente a recorrer a esse tipo de mote inspirador.
E não poderia ter sido diferente quando assisti ao filme/documentário de Sylvester Stallone sobre sua biografia pessoal e artística, sem filtros e com muita honestidade e profundidade. SLY é uma das últimas novidades para 2023, da Netflix, dirigido por Thon Zimny.
Jamais fui o mesmo depois de Rocky Balboa e seus mais de seis filmes, incluindo Creed I e II. Fui mais fã dele do que de Rambo, por exemplo. Mas também em minha imaginação já o revivi como aquele soldado machucado com o pesadelo da guerra, de poucas palavras, marrento e brutal.
Rocky para além de retratar artisticamente o próprio Sylvester Stallone e sua relação conflituosa com o pai, com quem fez as pazes antes de morrer, é uma inspiração até hoje. Que o diga o apresentador Marcos Mion que teve o privilégio de, por meio de um comércio, viver com o ator ítalo-americano, umas cenas mais icônicas de Rocky, o Lutador, na escadaria de um logradouro da Filadélfia, EUA.
E quantas vezes, sobretudo na lona a que algumas circunstâncias da vida nos levam moído de porrada, a gente sente aquela vontade de dar a volta por cima ao som de “Eye Of The Tiger”, gravada pela banda Survivor?
SLY só renovou em mim algumas certezas sobre o que realmente sou e porque assim eu me tornei. Embora hoje eu tenha a honra de usar capas de academias literárias, por exemplo, nada me faz mais lembrar do que é necessário na vida de um herói do que um bom golpe no estômago e perceber que heróis são de verdade e que talvez eu possa pousar de um em seu panteão, no afã de encarar o que a vida me reserva, com o couro grosso, mas com o coração desejoso para ser leve e sereno.