Por Luiz Thadeu Nunes (*)
Acordei, vi o tempo seguir seu curso, impávido. Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente.
Assisto, assustado, ao vasto teatro da existência, onde a luz e a sombra entrelaçam-se em um balé eterno; me vejo suspenso na delicada corda bamba da vida. Neste fio tênue, estirado entre as vertigens do passado e as promessas nebulosas do futuro, palco onde se desenrolam as nuances da experiência humana, estou eu. Cada passo, cada hesitação, é uma nota na sinfonia do cotidiano, uma composição que ecoa na alma.
O equilíbrio, essa arte sutil de me manter em pé diante das adversidades, torna-se a virtude mais reverenciada no caminho da vida. Em sua essência, o equilíbrio é um diálogo silencioso entre os opostos: a alegria e a dor, o amor e a perda, a esperança e o desespero, o agora e o futuro. Dualidade sem fim. Em cada instância, sou chamado a dançar com esses sentimentos, a aceitar a dualidade que me define, sentir cada perna e cada braço como se fosse parte de uma dicotomia, juntar tudo e me sentir como alguém em busca de uma obra-prima que nunca chega ao fim.
Mesmo com a perna bamba, sigo em frente; imperativo não ficar parado. O tempo, esse escultor invisível, passa sem alarde, deixando marcas indeléveis. Com ele, os cenários da vida mudam e se transformam: as prioridades antes urgentes desbotam, as relações outrora vibrantes se dissipam, e as pessoas que moldaram minha existência partem, levando consigo fragmentos de mim.
Carrego sensações, lágrimas, sorrisos e sentimentos que, uma vez compartilhados, agora vivem apenas na memória — uma tapeçaria desbotada pelo uso constante e inevitável. A parte que parte um pouco fica, e a que fica um pouco parte. Embora essas partidas nos partam, elas são partes da vida, e a vida não deixa de ser arte.
Na jornada do tempo, gostos e escolhas deixam de encontrar reflexos nos outros. O mundo, que antes parecia repleto de ecos que reafirmavam quem eu era, torna-se cada vez mais silencioso.
Chega, então, o momento da contabilidade da vida. É o tempo de revisitar o saldo emocional que acumulei; de calcular os lucros das experiências e os prejuízos das perdas. Cada escolha, cada renúncia, cada gesto de amor ou descaso encontra seu lugar nesse balanço invisível. Não há auditor além de mim mesmo, e a tarefa exige coragem: coragem para encarar as falhas, celebrar as vitórias e aceitar as partes de que nunca compreendi ou compreenderei por completo. Desafio para encarar novas descobertas. Ter sabedoria para se reinventar, quando necessário.
Nesse estágio, os investimentos externos perdem força. Já não é mais o tempo de construir castelos, mas de habitar os que restaram — mesmo que em ruínas. Tudo se torna uma espera, uma espécie de suspensão entre o presente e o desconhecido. Não sei o que virá, mas sinto sua aproximação, como o presságio de uma tempestade ou o sopro de um vento tranquilo. É uma espera que não exige ansiedade, mas aceitação, pois não se trata de um fim, mas de uma transformação que já está em curso.
Neste 07 de dezembro, quando completo mais um ano de vida, 66, aprendi com a passagem do tempo a valorizar o essencial. Não tenho mais tempo para questiúnculas, para quiproquó. E, nessa caminhada cheia de ecos do passado e do futuro, talvez descubra algo novo — uma centelha de sabedoria, de serenidade, que só o passar dos anos me trouxeram. Afinal, o que é o tempo senão um mestre silencioso, guiando-nos pela inevitável dança do existir?
Viver é entender que sou asas num voo de coragem, enquanto a vida é o vento. Há tempo sei que tudo pode mudar, que tudo pode acontecer, que nada veio para ficar, que tudo pode deixar de contar. Há tempo entendo que a única coisa importante é que coloque quem verdadeiramente sou em tudo aquilo que estou neste momento a viver, sem me preocupar com o resultado final, mas apenas com a vivência em si. Tudo isso pode parecer insano e até mesmo irresponsável da minha parte, mas na verdade não é.
Ao contrário. Viver cada coisa no seu tempo é uma escolha apenas daqueles que criam histórias com novos olhares. Não é só o futuro que importa, mas também a extensão do presente. Não sou eu quem muda a vida, mas a vida que muda para mim porque eu mudei.
Avante, sempre em frente. Um brinde à vida.
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