Vem cá, quero te contar uma história. A juventude um dia acaba. A aparência muda e o tempo parece impiedoso. É verdade. Mas e daí?
Daí me dei conta que nada pode ser feito pra mudar isso. Tentei disfarçar, amenizar os efeitos do tempo: no rosto, no corpo, na alma. Quanta tolice.
Nunca venceremos o tempo. Nunca venceremos os anos.
Assim, percebi que minha aparêcia mudou. Minha cabeça também mudou, e mudou para melhor.
Aprendi, a duras penas, a aceitar o que não posso mudar. É natural envelhecer.
Tento fazer do tempo um aliado. O lado bom é que o tempo não envelhece a alma de um sonhador. E, sendo assim, assim tem que ser.
A juventude um dia acaba, mas a vida continua.
De repente é 40… 50… 60… 64 anos.
E daí? Daí a gente segue em frente.
E se descobre que estar em paz é a prioridade. Não tenho tempo a perder.
Não posso me apegar ao que já foi… ao que fui e que não sou mais.
Sou o agora. Sou a minha melhor edição. Revista e atualizada.
Sou minha essência pura e verdadeira.
O que passou, passou, e o que ficou? Experiências, ensinamentos, perrengues, e muitas e boas histórias/estórias. A tragédia de ontem virou a comédia de hoje. Rebobino a memória. Dou risadas. Defeitos? Milhares. Medos? Alguns.
Problemas? Vários. Desistir? Jamais.
No outono da vida, estou cada vez mais parecido com o meu velho e saudoso pai. Coisa que neguei por diversas vezes. Olho-me no espelho, vejo Luiz Magno. Pai, perdão por minha ignorância e soberba.
Na caminhada da vida, aprendo todo dia. Afinei o ouvido para escutar melhor as boas histórias de gente que chega até mim. Nunca fiz curso de oratória, apenas desenvolvi o sentido da escutatória. Hoje, como escrevinhador, escrevo crônicas e as publico em jornais. Este ano, que agora finda, publiquei o livro “Das muletas fiz asas”. E, alegria maior, faço Jornalismo, um velho e adiado sonho. Vê meu nome impresso no livro e nos jornais de diferentes cidades deste imenso Brasil me transborda de alegria.
Sei que tenho menos tempo pela frente do que passou. Aprendi que tudo na vida passa: o bom e o ruim. Não posso ficar eufórico com o bom, nem sorumbático com o ruim; essencial manter o equilíbrio. Aprendi que os maiores ativos para se viver em paz são: paciência, mansidão, sabedoria, resiliência e fé no Deus Vivo.
O bom da caminhada é que não matei o ‘menino irrequieto e curioso’ que existe dentro de mim. Ele aflora todos os dias. Continuo sonhador – os sonhos são minha matéria-prima, sem eles não existo. Tenho sede e fome de conhecimento, de viver coisas novas, experiências de vida, vivenciar o desconhecido. Desbravar o mundo.
Uma palavra me define: “Teimosia”. Como nasci sem nenhum talento, a teimosia me leva para frente. Deus me poupou do sentimento do medo. Inúmeras foram as vezes que tive de vestir a indumentária da coragem e seguir em frente, sem ouvir os críticos que encontrei pelo caminho. Até aqui o balanço é positivo.
O tempo é sempre o senhor da razão.
“Perguntei ao tempo… quanto tempo? Ele respondeu-me, deixe-me passar”, recorro ao poeta Carlos Drumond de Andrade. “A arte existe porque a vida não basta”, Ferreira Gullar.
Nunca saberei quanto tempo tenho pela frente. Cabe a mim, tão somente , escolher a melhor forma de usufruí-lo.
Tudo que consegui na vida foi no sorriso, na simpatia, na gentileza. No grito, na raiva e na fúria, deu tudo errado. Na brutalidade, criei rancores e ressentimentos, e, depois, uma certa vergonha de mim mesmo. As palavras que mais tenho usado são “obrigado” e “desculpe”, palavras que abrem portas, me levam adiante. Aos 64 anos, completados, neste 07 de dezembro, tenho a enorme capacidade de aceitação da vida como ela é. Sou movido por uma alegria invencível, uma fome insaciável do novo, da beleza da vida. Eduquei o olhar para o belo.
Tenho uma vontade férrea de melhorar de corpo e alma a ilimitada capacidade de amar, de dar e repartir. Melhor ser otimista, que resmungão. Já não basta ficar velho? Não precisa ser um velho chato.
“Oh! Nós não saberemos nunca realmente o que somos nem o que desejaríamos ser. O destino brinca agilmente com a nossa vida, tramando e destramando, tendo nos lábios um sorriso indecifrável”, vou de Carlos Drumond de Andrade novamente.
Como brasileiro, nordestino, nascido no planeta bola, já nasci driblando. Driblando as situações mais adversas.
Aprendi, desde cedo a driblar os “nãos”, para obter os “sim”. Nunca ninguém me deu nada de graça, tudo comigo é conquistado. Assim fica mais gostoso.
“Ter problemas na vida é inevitável, deixar-se abater por eles é opcional”, sigo acreditando nisso.
“Alegria é a gente viver devagarinho, miudinho, não se importando demais com coisa nenhuma”, Guimarães Rosa.
A vida é um atrevimento, uma brincadeira, o desafio é ter uma bagagem leve para aproveitar melhor a viagem. Por isso, sigo como um teimoso na caminhada, com a enorme vontade de que as coisas deem certo; grato a Papai do Céu por ter me trazido até aqui.
Essa é a história que queria te contar. Aos 64 anos, me transformei em um Forrest Gump: andarilho e contador de histórias.
__________
(*) Luiz Thadeu Nunes e Silva é engenheiro agrônomo, palestrante, cronista e escritor. Autor do livro “Das muletas fiz asas”. O latino americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes.