Sento-me em posição ímpar, confortavelmente estratégica, que enobrece qualquer pedreiro que labuta nos milenares mistérios. Eis que as luzes estão acesas, o sol brilha no centro, levanto o olhar e vejo diametralmente, no Nordeste, meu nobre irmão secretário que recebe nossas correspondências de outras guildas e da vida profana, com muita propriedade divulga-as e, assim, eterniza nossa história, de maneira equilibrada e precisa.
Viro-me à esquerda e pela diagonal, deparo-me com a coluna J onde tudo começa. Toda nossa obra, pelo desbaste e retirada da pedra bruta das cavernas escuras do Setentrião, sob as orientações do astuto mestre segundo vigilante que, com ternura, encaminha os aprendizes na busca incessante do conhecimento, mostrando-lhes o veio da rocha onde o golpe preciso do malhete proporciona sua fácil retirada.
E assim nosso árduo labor se perpetua, agora sob a força e cautela do primeiro vigilante. Bem mais ao sudoeste, sobre meus ombros, visibilizo dedicados companheiros portando a alavanca, a régua, a corda e o esquadro, talhando milimetricamente os colossais blocos no perfeito esquadro, erguendo-os e transportando-os até o interior do templo. Hoje grandes irmãos companheiros, amanhã sábios e dedicados mestres.
Paro, respiro profundamente, já envolto pelo incenso que perfuma e nebuliza nosso templo. Agora ouço as inspiradoras melodias que nosso mestre organista nos presenteia, mostrando quão suave é trabalhar mesmo que do meio-dia à meia-noite, tornando, consequentemente, nosso peso mais leve e esforço desprendido mais ameno, desde que haja perfeita harmonia.
O canteiro não para! Nosso mestre de cerimônia circula como anteparo da egrégora formada, distribuindo-a em todas as direções, muito além do infinito. Retorno à face 90º ao sul, logo ao meu lado, na divisa com o Leste. Ali pousa nosso irmão tesoureiro conferindo e separando, com austeridade, as medalhas cunhadas para o devido pagamento aos obreiros que, à meia-noite, após os trabalhos encerrados, recebem seus salários felizes e contentes, tanto aqueles do quadro, como os visitantes os quais foram delicadamente acolhidos pelo irmão chanceler, que grava a marca daqueles que por aqui labutam.
Finalizo minha percepção e narrativa no oriente, lugar repleto de medalhas, riquezas e diplomas, no entanto aqui descubro muito mais que isso, a verdadeira fonte fecunda da sabedoria, onde mestres experientes desenham seus projetos arquitetônicos no lápis e compasso, esculpem com metais nobres como o ouro, a prata e o cobre, e ajustam pelo esquadro, no traçado cúbico, pedra acima de pedra, no mais perfeito acabamento, no qual nem mesmo a pior intempérie poderia abalar! Entro, pois, no tabernáculo e avisto o altar, a representação exata do nosso saudoso rei Salomão, o qual abdicara do poder material em prol da sabedoria suprema, divina!
Abaixo a cabeça, retorno ao meu íntimo, em profundo silêncio e firme concentração, desenvolvo este texto, o sino bate 12 vezes. Já é tarde, olho bem longe, mal vejo nosso irmão cobridor no horizonte portando sua espada ao guarnecer o canteiro de obras. Em instantes fecho o livro da lei, rendo graças ao Grande Arquiteto do Universo, apagam-se as luzes e, de súbito, retorno ao seio da família abençoado e revigorado, certo de que os trabalhos transcorreram justos e perfeitos, com muita saudade dos irmãos em seus vários graus e qualidades, convicto de que muito mais dedicação há de ser doada, para meu crescimento intelecto-espiritual, para desenvolvimento da Maçonaria e progresso da humanidade!
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(*) Hernan Augusto Centurion Sobral é médico cirurgião e coloproctologista. Mestre maçom da Loja Maçônica Clodomir Silva 1477, exercendo atualmente o cargo de orador.
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