sexta-feira, 06/09/2024
Escritora Luísa Fresta
Luísa Fresta Foto: Instagram da escritora

Sobre a escritora luso-angolana Luísa Fresta

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Por Germano Viana Xavier (*)

 

É com enorme satisfação que esboço aqui uma apresentação sobre a escritora Luísa Fresta, voz poderosa de nossa literatura contemporânea em Língua Portuguesa. Sua carreira literária é marcada por textos de tonalidades muito diversificadas, perfazendo um percurso que vai da literatura infantojuvenil às formas mais clássicas e tradicionais da poesia, passando por outros importantes gêneros como o conto e a crônica.

Luísa Fresta é amplitude portuguesa e angolana, uma dupl’alma concentrada em uma força-motriz-feminina que entrelaça Angola, Portugal, Brasil, Áfricas e Mundos em um coração delicado e dedicado a enxergar a mais pura arte literária nas situações mais comuns ou nas circunstâncias mais rudes. Suas mãos tecem um conjunto de textos que pontuam suas múltiplas influências culturais e humanas como quem aborda o próprio espelho das grandezas da vida. Uma mulher que a todo instante nos apresenta à lusofonia e ao africano, uma mulher que não se cansa em opinar sobre livros, filmes, artes em geral… uma mulher em constante movimento.

Com a escritora Luísa Fresta, aprendi que o essencial está por vir, ainda no próximo verso, ainda no próximo parágrafo, porque a literatura está no que avança e no que nos desdobra, no que nos recobra e no que nos aplaina, apontando para as mazelas mundanas mais irrefutáveis. Com a escritora Luísa Fresta, aprendi que é necessário perceber e revelar os centros das pequenas coisas, os núcleos sísmicos dos elementos que fazem a vida de todas as pessoas, mesmo que estas fontes interiores e, por vezes, ulteriores de e acerca da vida sejam ou estejam integradas à própria faculdade vital do ser humano: o viver, o estar vivo-e-além.

Germano num encontro com Luísa Fresta e a irma Zeza Fresta, em Portugal

Ao lado de Luísa Fresta, numa jornada de parcerias que já ultrapassa uma década, aprendi que o verdadeiro poeta fotografa o caos, que o verdadeiro escritor registra os medos de nós-gentes e articula a chama que fará o fogo-máximo de nossas idas e vindas, de nossas descobertas e, também, de nossas decepções. Luísa Fresta soa quase sempre maternal, como uma mãe que ensina às suas crias os segredos do caminho.

A escritora Luísa Fresta nos questiona, em seus textos, se a felicidade é um bônus ou uma guilhotina. Dentro de suas palavras, tombamos por cima das farturas e das fraturas dos símbolos mundanos, adentramos o sagrado nas coisas triviais e bulimos com o absurdo das naturalidades cotidianas oriundas de convenções sociais e institucionais. Tudo isso, regado com uma pessoalíssima dose de maturidade artística e pessoal. Aliás, ensinagens não faltam nas páginas dos livros e na obra geral escrita por Luísa Fresta. E isso me chama muito a atenção. Luísa Fresta sempre está a nos ensinar algo. E de uma forma muito espontânea e inteligente.

A escritora Luísa Fresta, por vezes, quase ignora o real para nos abrir um mundo de percepções suavemente surreais, quando no tempo das intermitências e das incertezas da vida, colocando-nos numa posição de combate e, também, de respeito perante o tempo futuro. Afinal, o que faremos da vida que nos resta? O que estamos fazendo com o nosso Hoje, com o nosso Agora? Aquela velha batalha já por demais esgotada e profética: cada dia que passa é um dia a menos, não um dia a mais. Luísa Fresta tenta parar o tempo para que possamos observá-lo, tamanho o seu poder perante todos nós. Luísa Fresta é, por fim, a voz de uma humanidade revista e ressonhada, cheia de memórias e refundada em anunciações.

 

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Sobre Germano Viana Xavier

literatura
(*) Nasceu em Iraquara, Chapada Diamantina-Bahia, em 1984. É jornalista pela UNEB e mestre em Letras pela UPE. Publicou o livro Clube de Carteado (Franciscana, 2006). Seu livro de contos intitulado Sombras Adentro (ainda não publicado) foi finalista do IV Prêmio Pernambuco de Literatura (2016). Em 2021, publicou o livro O Homem Encurralado (Penalux); e em 2022 , Esplanada do Tempo, que compreende a segunda parte da Trilogia do Centauro. Escreve para encontrar o equador de todas as coisas.

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