O nome da startup é inusitado, se refere a um lugar longe no palavreado nordestino e sergipano: Casa do Cacete. Pois é! Essa startup de Santa Luzia do Itanhy, Coletivo Casa do Cacete (CDC), fundada há quatro anos, foi longe e hoje tem produtos à venda na loja The Private Apple, em Nova Iorque. São camisetas, necessaires, mochilas, bags, dentre outros. O CEO da Casa do Cacete, Genisson Cardoso, disse que ele e a equipe estão trabalhando visando o mercado europeu, pois um dos diretores da startup, o estampista Daniel Moraes, mora em Lisboa.
“Nossa meta para este ano é buscar os mercados europeu e africano. Já estamos com as comunicações abertas”, revela Genisson Cardoso. Mas como a Casa do Cacete chegou a Nova Iorque? Isso ocorreu por iniciativa de uma empresária americana, proprietária de uma loja colaborativa em Santa Luzia do Itanhy. Ela conheceu o trabalho dos jovens e os convidou para expor e vender camisas ilustradas em sua loja. Daí para Nova Iorque foi um pulo. Os produtos estão lá desde o dia 7 de novembro do ano passado.
“Ver o nosso trabalho estampado nas camisas e sendo vendidas em Nova Iorque é uma honra. Estamos gerando renda, inspirando jovens, incentivando a economia local e, principalmente, vivendo do nosso sonho. E o mais bacana é que este trabalho é um incentivo não só para nós que fazemos parte desse Coletivo, como para os outros jovens de Sergipe”, afirmou Genisson.
Com a diretoria da startup, ele disse que vai produzir camisas femininas para a The Private Apple, pois as camisetas masculinas não tiveram saída. Em compensação, as bags e necessaries ganharam os consumidores da loja nova-iorquina.
A CDC é composta por ilustradores capacitados pelo projeto Arte Naturalista, uma ação de economia criativa e educação ambiental desenvolvida pelo Instituto de Pesquisa em Tecnologia e Inovação (IPTI), no município de Santa Luzia do Itanhy, em Sergipe, que recebe apoio da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico, da Ciência e Tecnologia (Sedetec).
“A ideia surgiu depois que participamos de um curso promovido pelo IPTI sobre empreendedorismo e economia criativa. No final da oficina nos reunimos e idealizamos o coletivo Casa do Cacete. Vimos que poderíamos, através da arte, gerar renda, dar oportunidade e desenvolver nossas habilidades artísticas”, conta o artista Matheus Glaudiston.
“Com esse novo olhar sobre nós mesmos, sobre o nosso manguezal e suas lendas, cores e cheiros, nos reconhecemos em cada canto da Mata do Crasto. Queremos, com o nosso trabalho, pensar em parcerias que possibilitem a reflexão sobre a preservação do ecossistema manguezal e colaborar com o desenvolvimento social e econômico de Santa Luzia do Itanhy”, revela Genisson Cardoso, que também é ilustrador.
Genisson Cardoso revela ainda que o horizonte da Orlinha do povoado Castro, os crustáceos, a fauna e a flora, e o pôr do Sol servem como inspiração para a confecção das estampas. “Afinal, convivemos com esses elementos desde pequenos, e poder expressar nossa arte através desses ambientes é gratificante e prazeroso”, pontua.
Ele reforça que os jovens sergipanos daquela região, que não tinham muitas expectativas, podem hoje acreditar nos seus sonhos graças ao trabalho que é desenvolvido por meio do IPTI.
“Eu até o ano passado, não sabia o que pensar ou idealizar para o meu futuro, pois estamos longe dos centros urbanos e das oportunidades. A dificuldade é muito maior e recheada de obstáculos, fazendo com que a gente acabe desistindo. Eu sou exemplo, fui me inscrever no curso do IPTI, sem esperança e com apenas o apoio da minha mãe, mas hoje quero incentivar e estimular esses adolescentes que estão cheios de energia para se expressar, e a Casa do Cacete e o IPTI estão aí para nos unir e mudar essa realidade”, ressalta.
Jussara Alves, que é responsável pelo acompanhamento técnico do contrato de gestão entre a Sedetec e o IPTI, observa que as tecnologias sociais desenvolvidas pelo Instituto, com a participação da Sedetec, tem possibilitado o protagonismo dos jovens envolvidos em ações empreendedoras. “Sem dúvidas, a Casa do Cacete é um bem sucedido exemplo de inovação, empreendedorismo e transformação social”, afirma.
O trabalho do coletivo Casa do Cacete é contínuo e já colhe frutos positivos com novos talentos que participam da iniciativa. “O pequeno Nino Santos, de nove anos, tem nos surpreendido. É mágico ver a alegria dele ao folhear os livros e ter o contato com a arte através dos artistas, como, por exemplo, Van Gogh. Nino fez uma releitura de uma famosa tela do artista, deixando todos admirados com seu talento e desenvoltura”, completa Genisson.
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