Segundo pesquisa do Instituto Quaest, para 76% da população Lula acerta ao “forçar” queda dos juros. Faço questão de colocar a palavra forçar, conforme vejo na matéria do Congresso em Foco, entre aspas, porque Lula não está forçando nada. Na verdade está fazendo um papel fundamental como uma liderança popular que precisa fazer com que tenhamos um crescimento econômico para que a maioria da população possa ter uma vida digna. Com essa estúpida e criminosa taxa de juros de 13,75% ao ano não vamos a lugar algum. Para isso, é importante o embate público que Lula vem travando com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
A discussão mais decisiva não parece ser meramente entre uma suposta autonomia do BC ou não, mas o que isso representa na prática, e o principal: quem se beneficia com essa política monetária que mantém juros exorbitantes. E a resposta é um tanto quanto óbvia quando temos um presidente do BC que atua visando os interesses de grupos rentistas que ganham muito dinheiro com isso.
Dessa forma, a pesquisa revela o antagonismo de classes ao evidenciar que a maioria da população concorda com a mudança na política econômica enquanto uma parcela pequena, 16%, discorda. Essa pequena parcela, claro, é daqueles que pertencem aos beneficiários da alta dos juros, ou os que são influenciados pelo discurso liberal ecoado pela mídia burguesa que a todo momento tenta induzir que isso seja bom para atrair investimentos ou qualquer mentira desse porte.
Até liberais de direita minimamente honestos reconhecem o suicídio dessa forma de política. Já é notória a aula que o economista André Lara Resende, um dos idealizadores do Plano Real, deu aos jornalistas do Programa Canal Livre, que repetiam esse lema neoliberal que beneficia o rentismo e grandes acionistas do mercado financeiro. Importante salientar que o citado economista é insuspeito de ser colocado como esquerdista ou qualquer coisa nesse sentido. Estamos falando de um liberal.
Com a difusão das ideias neoliberais e a consequente financeirização da economia, é imperioso combater essa visão ideológica da economia que é comumente compreendido como uma transformação sistêmica em que o mercado financeiro, as métricas financeiras, os poderios financeiros ganham crescente relevância na condução do sistema econômico. E, para que tenhamos um crescimento econômico que atenda precipuamente os interesses da classe trabalhadora, que é a esmagadora maioria da população brasileira, é urgente que nos mobilizemos para acabar com essa injusta política que não se preocupa com a justiça social e gera uma brutal concentração de renda, desigualdade social e amplo desemprego.
Seja quem for o presidente do BC, deve ser pressionado a atender os interesses do povo e não os parasitas do mercado financeiro, fraudadores, causadores de crises e ainda são amplamente beneficiados por políticas fiscais burguesas que patrocinam suas falcatruas e cobrem seus rombos, vide o que temos mais recente no episódio dos bilionários criminosos das Americanas.
Segundo a nossa Constituição Federal, todo poder emana do povo, e Lula não está fazendo nada mais do que vocacionar as demandas populares que exigem mudanças e retomada do crescimento do nosso país. Mormente por conta da devastação que passamos desde o golpe de 2016.
Precisamos classificar o debate financeiro da sua forma correta, qual seja: Economia Política, já que desde os seus fundadores (Adam Smith e David Ricardo) são considerados questões indissociáveis, diferente do que observamos hoje no debate público mais rasteiro propagado pelos setores dominantes.
A Economia Política explica cientificamente que o trabalho é cada vez mais uma atividade social, conforme aprendemos com Marx em Formações econômicas pré-capitalistas: “através da divisão do trabalho desenvolvem-se mais, dentro dos vários ramos, divisões entre os indivíduos que cooperam em espécies definidas de trabalho”. Razão pela qual é um pressuposto lógico pensar que os resultados do trabalho fossem cada vez mais socializados.
No entanto, estamos diante de uma contradição fundamental entre Capital x Trabalho, e o que acontece de fato é “que a divisão social do trabalho não altera a natureza privada da apropriação dos seus resultados. Ao mesmo tempo, a acumulação e a concentração, atuando como uma lei sob o modo de produção capitalista, tornam a apropriação dos resultados cada vez mais privada; cada vez mais concentrada nas mãos de um punhado de capitalistas bilionários”.¹
É isso que está em jogo e é essa injustiça que precisamos combater.
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(*) Advogado e graduado em Direito Público
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