“Nosso compromisso com o Estado é fazer com que a máquina funcione”. A afirmação é do candidato ao governo do Estado pela coligação “Dignidade para o povo”, o advogado Mendonça Prado. Ele lembra que Sergipe “é um Estado que hoje tem um déficit anual de R$ 1,2 bilhão, só em termos de Previdência”. Para ele, os candidatos que prometerem grandes construções ou algo mirabolante, sem dizer de onde virá o dinheiro, cairão no descrédito sozinhos.
Mendonça assegura que quer arrumar o Estado em diversos setores, dentre eles a segurança pública. “Temos que ter investimentos para que o contingente possa ter qualidade. Investimento em tecnologia, aumento dos recursos de custeio, mais combustíveis nas viaturas, aquisição de motocicletas e inteligência policial. E alguma coisa para que possamos recompor efetivo. Não muita coisa. O essencial”, diz.
Coligado ao PRTB e ao PV, Mendonça Prado aparece com apenas 3% das intenções de voto, atrás de Valadares Filho (PSB), Eduardo Amorim (PSDB), do governador Belivaldo Chagas (PSD) e de Dr. Emerson (Rede). Mas, apesar da posição nada confortável, Mendonça acredita que, como a companha está apenas começando e há uma legião muito grande de indecisos, vai convencê-los de que o seu projeto de governo é o melhor dentre os nove postulantes. E não tem como cabo eleitoral, a senadora Maria do Carmo Nascimento Alves, sua ex-sogra.
Na última quarta-feira, um dia antes de começar oficialmente a campanha, Mendonça Prado, ex-deputado federal, ex-secretário de Segurança Pública, concedeu a seguinte entrevista ao Só Sergipe.
SÓ SERGIPE – Como ocorreram as discussões no DEM de forma que o seu nome fosse um consenso para disputar as eleições de 2018 para governador do Estado? Hoje se diz que sua candidatura é uma carreira solo dentro do partido, porque não tem o apoio dos demais integrantes.
MENDONÇA PRADO – Na verdade, o Democratas passa por um processo de reestruturação e meu nome foi apontado por unanimidade pelo diretório. Evidente que no diretório temos 70% de pessoas novas. Hoje, compõem o diretório a médica Paula Saad, o delegado da Polícia Civil, Paulo Márcio, o economista Vagner Barreto, o jornalista Augusto Aranha, que são pessoas novas. E este é o grupo que nos apoia. Evidente, que as pessoas estão fixadas em nome de pessoas que fizeram a história do partido e que também são respeitáveis. Mas o nosso nome foi indicado por unanimidade, não tivemos nenhum posicionamento contrário. E qualquer análise diferente disso, nos próximos dias, no decorrer da campanha, as pessoas vão constatar que o nosso partido está muito unido.
SS – E como foram as negociações para as coligações?
MP – Nós nos coligamos com o Partido Verde, que indicou Reinaldo Nunes como candidato a senador, e o PRTB, do Anderson Camilo, que será candidato a deputado.
SS – E essa composição vai lhe render quanto tempo de televisão?
MP – O tempo reduziu para todos, mas nós vamos contabilizar aí em torno de um minuto e trinta segundos. É o tempo suficiente.
SS – Como está o trabalho nas redes sociais?
MP – Nós já começamos oficialmente essas atividades de propaganda na última quinta-feira. Estamos com um trabalho intenso.
SS – Qual a plataforma de trabalho do senhor? O que o senhor pretende?
MP – Nós estamos num momento diferente em Sergipe. O primeiro aspecto que deve ser levado em conta é a necessidade de organizarmos as finanças públicas. Sergipe é um Estado que hoje tem um déficit anual de R$ 1,2 bilhão, só em termos de Previdência. Não consegue investir mais de 0,3% dos seus recursos próprios. E é um Estado que, a partir do próximo ano, nós vamos ter compromissos contratuais de pagamento de empréstimos que foram tomados. Além disso, nós temos recursos depositados de convênios que o Estado não consegue iniciar suas ações, por falta de recursos próprios para a contrapartida. Ou seja, não dá para nenhum candidato fazer qualquer promessa de grande investimento. E, ciente disso, inicio a minha campanha dizendo à população que desejo ser um governador da organização, dos cortes na carne, da gestão pública eficiente com a redução da máquina pública, redução dos custos de estruturas gigantescas de secretarias, auditorias em contratos. Nós precisamos, nos primeiros dois anos, organizar as finanças, caso contrário você não conseguirá dar qualidade ao serviço. O nosso compromisso com a sociedade é colocar o que existe para funcionar, sem nenhuma promessa de algo novo, de estrutura nova em qualquer dos setores.
SS – Mas muitos setores devem ser reorganizados?
MP – Na polícia, investimentos para que o contingente que temos possa dar qualidade. Investimento em tecnologia, aumento dos recursos de custeio, mais combustíveis nas viaturas, aquisição de motocicletas e inteligência policial. E alguma coisa para que possamos recompor o efetivo. Não muita coisa. O essencial. Então, nosso compromisso com o Estado é fazer com que a máquina funcione, corresponda a expectativa do povo. Nada de invencionices. Esse é o nosso compromisso, em função das condições financeiras de momento. Quem disser outra coisa, estará mentindo para a população.
SS – As últimas pesquisas que saíram o senhor não está em uma boa posição. Até o governador, que tem a máquina nas mãos, não aparece bem. E temos um contingente de eleitores que não sabe em quem vai votar. Qual sua estratégia para reverter a situação e trazer o eleitor que não sabe em quem votará?
MP – Nós temos, aproximadamente, 70% do eleitorado que ainda não se definiu. E temos um dado muito interessante no Estado de Sergipe. É que aqueles que estão situados nas primeiras colocações, não conseguiram passar de 16%. O primeiro colocado de Pernambuco, para você ter uma ideia, tem 30 pontos. Na Bahia também. Em Sergipe, é entre 12% e 16%. Além disso, nós temos uma eleição totalmente fragmentada, diferente da passada que tínhamos dois grupos polarizando. Hoje você tem vários grupos pontuando bem. Esse é um aspecto.
SS – Qual o outro aspecto? MP – O segundo é que estes três das primeiras colocações, um é do governador do Estado; o outro, na última eleição foi candidato a governador e é senador. E outro, foi candidato a prefeito da capital, está no exercício do mandato de deputado federal e o pai também é candidato e senador. Portanto, esses três nomes são os mais lembrados. E estão sendo lembrados, não porque são candidatos que estão conquistando a sociedade, mas porque no momento, as funções que ocupam e as atividades que tiveram há pouco tempo, facilitam para que os nomes deles estejam mais em evidência. Mas, todos eles, dentro de um limite. Ninguém chegou sequer, a 20%. Ou seja, a eleição de Sergipe está aberta, está completamente indefinida e nós temos mais de 50% do eleitorado. O candidato que tiver 1% neste momento, está na disputa. Porque esses três, por estarem a mais tempo trabalhando, chegaram ao teto. Em síntese, está indefinida e nossa estratégia é apresentar proposta que atraiam o eleitor, para solução de problemas. Vamos apresentar, no decorrer da campanha, propostas exequíveis, dentro da realidade do Estado. Quem for para essa eleição prometendo construir um hospital novo, sem dizer de onde vem o custeio, quem prometer construir grandes obras, sem dizer de onde virá o dinheiro do investimento, quem prometer aumentos substanciais, sem dizer de onde virão os recursos, essas pessoas serão contestadas pela realidade orçamentária do Estado. Nossa conquista será com a verdade, com a realidade, com projeto para minorar o sofrimento da população e consertar as limitações orçamentárias e financeiras do Estado.
SS – Por todas as colocações que o senhor acabou de fazer, essa eleição é atípica pelo momento político que o Brasil passa, desde os problemas em Brasília, que vem afetando a credibilidade dos políticos. Não temos uma eleição diferente?
MP – Sem sombra de dúvidas. Nós temos hoje uma aversão dos eleitores com relação a políticos em função de uma conjunção de fatores: a péssima qualidade dos serviços públicos e a imagem negativa dos políticos. Você tem um país que não tem nenhum grande líder despontando. Na verdade, os nossos presidenciáveis são candidatos que não têm uma estatura como tinha Mário Covas, Leonel Brizola, Fernando Henrique Cardoso, o Lula, no início. Estamos com um vazio de liderança e esta eleição, apesar de toda aversão, vai fazer aflorar os novos líderes. Vai florescer daí. O preocupante, diante dessa chateação evidente da sociedade, é se as escolhas da população serão as melhores. Mas, quem a sociedade escolher vai liderar por algum tempo.
SS – Recentemente, em uma entrevista, a senadora Maria do Carmo disse que não votaria no senhor. E que a sua eleição para governador está perdida, seria melhor ser candidato a deputado federal, pois assim ganharia. Como o senhor analisa essas declarações dela?
MP – Dona Maria está um pouco afastada das atividades políticas e do partido, porque tem problemas de saúde dentro de casa muitos sérios. Na conversa que tínhamos, ela vinha tentando me passar a ideia de que minha eleição para deputado federal era garantida. E é normal, num contexto como esse, que ela ache que eu seria um deputado federal eleito e que tenha dificuldades numa candidatura majoritária. Vejo como normal. Até porque, não estou em primeiro lugar, eu vejo as dificuldades. Mas, eu tenho certeza de que estamos fazendo uma boa campanha e vamos para o patamar dos favoritos.
SS – Então, os últimos serão os primeiros?
MP – Os últimos serão os primeiros…
Ouça o áudio da entrevista com Mendonça Prado
https://soundcloud.com/antonio-garcia-137507625/medonca-prado