Apesar de ser conhecida desde o ano passado, quando ocorreu o primeiro caso na província de Hubei, na China, em novembro do ano passado, a covid-19 se alastrou pelo mundo e pegou todos os mercados de surpresa, literalmente. Para completar, no caso do Brasil, expôs um serviço de saúde já caótico, revelou um presidente da República despreparado para lidar com a crise e, hoje, os números de doentes e mortos desta pandemia no país são alarmantes. Associe a isso, o fato de os brasileiros não estarem prontos para cuidar do próprio bolso – seja como pessoa física ou jurídica – e o problema financeiro se agravar. O educador financeiro David Rocha, autor do livro “Tesouro Direto – um caminho para a liberdade financeira” (que pode ser adquirido através do portal Clube de Autores, na Livraria Escariz ou com o próprio autor), observa que o país não foi pego desprevenido com a doença, mas faltou se preparar. “Na verdade, ela nos pegou despreparados, lembrando que o Brasil é um país de tamanho continental e com muitas nuances em relação ao clima e cultura”, frisou David Rocha. “Temos que nos reinventar como sociedade no que diz respeito à economia e empreendedorismo”, diz o educador. Esta semana, David Rocha, que às terças-feiras, assina a coluna Educação Financeiras, no Só Sergipe, concedeu a seguinte entrevista ao portal.
SÓ SERGIPE – Devido à pandemia da covid-19, em Aracaju a maior parte do comércio está fechado há pouco mais de dois meses e o desemprego é alto. De um lado, os empresários pressionam para abertura do comércio, ainda que de forma escalonada; do outro, o governo diz que não flexibiliza. Como o senhor analisa esse cenário?
DAVID ROCHA – A pandemia realmente pegou nosso Estado pouco preparado para conseguir arcar com as medidas necessárias à manutenção do isolamento social. Mesmo que saibamos que essas medidas são de fato importantes para a saúde, os danos à economia vêm se mostrando cada vez mais alarmantes, já que o desemprego aumenta e a renda gerada cai a níveis assustadores, o que pode no curto período nos levar a uma crise econômica de níveis muito elevados. Acredito que a vida vem em primeiro lugar, por isso, seguir as recomendações das autoridades competentes no que diz respeito à saúde é um dever de todos nós que queremos ver um novo amanhecer. Temos que nos reinventar como sociedade no que diz respeito à economia e empreendedorismo. Pois, mesmo quando esse período passar, a atividade econômica irá demorar meses para voltar ao nível pré pandemia. É importante que, como sociedade, vejamos a importância de estarmos preparados para as outras crises que poderão surgir como consequência dessa. Por isso buscar mais informações sobre educação financeira no âmbito individual ou com o auxílio do Estado, nos fará ter melhores condições de superar futuras dificuldades.
SS- Se a economia não voltar a girar, chegaremos a um ponto insuportável, de caos? Afinal, se o comércio não vende, além de deixar mal todos os cidadãos, o governo não recolhe impostos. Sem dinheiro, não faz investimentos e não paga aos servidores. O que poderá vir a acontecer se algo não for feito?
DR – Uma hora a economia vai ter que voltar a girar, pois será insustentável a longo prazo um período tão ininterrupto de paralisação. Mas, realmente, com a roda da economia parada o país não gera renda e nem arrecada impostos e isso por si só já chega a ser alarmante. Temos que observar outro ângulo. O Governo Federal pode tender a imprimir mais dinheiro para sustentar as despesas, movimento que já vemos em outros países. E se o nível de dinheiro emitido se tornar elevado demais, podemos ver uma desvalorização geral da moeda, a patamares bem maiores que o de hoje em dia.
SS – E o que isso significa?
DR – Significa que emitir dinheiro demais, por si só já é ruim. Mas se lembramos que é um movimento global, se torna um cenário mais complicado, já que poderia levar a uma quebra mundial e uma perda de riqueza absurda, forçando assim uma mudança econômica que provavelmente será sofrida. Se o Brasil encontrar um meio-termo entre o quanto imprimir de dinheiro e a forma de voltar aos poucos a atividade econômica, teremos como sair fortalecidos dessa crise. Mas, infelizmente, ainda não vemos um movimento nessa direção, nem em nível federal e muito menos estadual.
SS- A primeira infecção conhecida da covid-19, a doença causada pelo coronavírus SRA-CoV-2, ocorreu no dia 17 de novembro do ano passado, na província de Hubei, na China. Depois começou a se espalhar pelo mundo. Será que ainda vale o discurso que a doença surpreendeu ou o mercado não se preparou para ela, minimizando-a, pois não acreditou que iria atingir a todos?
DR – No início tivemos uma baixa quantidade de informações sobre a doença em si, o que realmente dificultou tomada de medidas mais efetivas. Mas a doença só veio se mostrar aqui no Brasil no mês de março, isso posto, é quase impossível dizer que a doença que se espalhava pelo mundo nos pegou desprevenidos. Na verdade, ela nos pegou despreparados, lembrando que o Brasil é um país de tamanho continental e com muitas nuances em relação ao clima e cultura. Isso nos faz agir mais lentamente quando pensamos em integralizar esforços. Mas estávamos despreparados também no que se refere ao sistema de saúde, que já operava com dificuldades e, ao receber essa demanda nova, acabou se vendo em apuros. Infelizmente isso também está na cultura geral do brasileiro, deixar a saúde para a última hora.
SS – E o mercado?
DR – O nosso mercado estava se recuperando de uma crise prolongada e logo foi atingido por essa bomba que é a covid-19. Mas é importante notar que se fomos pegos dessa forma é uma questão também cultural, já que não temos, nem como pessoas físicas ou jurídicas, o hábito de ter uma reserva financeira adequada. O que esbarra em outro problema: não aprendemos educação financeira enquanto sociedade, mesmo com essa matéria tendo se tornado obrigatória em 2020 nas escolas de ensino médio. Ainda teremos que batalhar muito para termos uma sociedade com níveis de educação financeira de países mais desenvolvidos. E isso é importante, pois, se tivermos uma sociedade mais preparada financeiramente no futuro, poderemos passar por momentos como esse com mais tranquilidade. Existe um longo caminho a percorrer, mas acredito que esse momento seja propício para essa reflexão.
SS – O senhor, como educador financeiro acha que o mercado deveria ter se preparado para estas adversidades? Ou era difícil de prevê-las?
DR – Na verdade, até novembro do ano passado ninguém poderia sequer imaginar esse cenário, mas, a partir do momento em que a doença passou a se espalhar pelo mundo, já não era mais questão de prever, mas sim de se preparar. Faltou velocidade para agir e se prevenir quando observamos o Brasil como um todo. Aqui no Estado de Sergipe as medidas foram tomadas rapidamente, o que pôde ajudar a reduzir os danos. Em meus cursos sempre falo que vivemos em um mundo de variáveis complexas demais para se prever, mas, que podemos estar preparados para as coisas que podem aparecer em um mundo de incertezas. Por isso estudar educação financeira e criar uma margem de garantia (é como chamamos a reserva de emergência na Majesty Escola de Finanças) é muito importante para conseguirmos passar com poucos danos em momentos de crise, ou até mesmo sairmos mais fortes.
SS – Por duas vezes consecutivas a Bolsa de Valores (B3) acionou o circuit break em apenas um dia, em março. Passado esse período como o senhor tem analisado o comportamento da bolsa? O que podemos esperar da B 3, com a doença se espalhando pelo país, matando pessoas e afetando o mercado?
DR – Março foi um mês atípico, com muitas pessoas ficando desesperadas quando foi decretado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que a covid-19 era uma pandemia, o circuit breaker é acionado para proteger o investidor de momentos de pânico. Claro que empresas listadas na B3 foram afetadas pela paralisação de seus negócios e por toda a sorte de acontecimentos relacionados à política e ao medo crescente do risco Brasil. Mas agora, pouco mais de dois meses após os circuit breakers, estamos vendo o Ibovespa se recuperar gradativamente, as empresas que gosto de chamar de antifrágeis mostraram estar bem e até algumas estão ganhando mercado e ficando mais fortes. Não sabemos quando vão acabar as complicações com a covid-19 e o isolamento social, muito menos quando a economia vai voltar a girar, mas, uma coisa é certa, uma hora isso também passará, o que temos que saber é o que vamos fazer quando isso passar?
SS – Em seu livro, Tesouro Direto – um caminho para a liberdade financeira, o senhor fala das crises e que elas vão e voltam. Poderia explicar melhor? DR – Sim. Eu cito que as crises são cíclicas, elas vão e vêm e quem estiver preparado pode aproveitar essas crises para sair mais forte, ou, na pior das hipóteses, seria pouco afetado. Por isso, recomendo estudar educação financeira e investimentos para ter noção de suas escolhas e saber, quando a hora chegar, qual a ação mais indicada a se tomar. É muito importante para todo investidor estar com sua vida financeira bem estruturada e com a margem feita, para ter tranquilidade no que pode usar para investir. Assim ele saberá porque escolheu determinado investimento e evitará entrar no mercado por uma dica quente. Já que aqueles que investem na Bolsa de Valores sem ter estudado, tendem a se desesperar nas crises e perdem dinheiro vendendo na baixa. Aqueles que estudam estão melhor preparados. SS -Hoje, as pessoas sofrem duas vezes. O medo de contrair covid-19 e o das dívidas, pois estão sem renda. Que conselho o senhor pode dar às pessoas neste momento de crise? DR – Aprender com a crise é o melhor conselho, pois, ficou claro que não podemos contar com uma estabilidade financeira vinda do governo ou do emprego, já que em épocas de crise essas fontes podem se esgotar. Essa crise mostrou como, em geral, o brasileiro não tem reservas financeiras e podemos ver o problema que isso criou. Então estudem como organizar as finanças, para nesse momento reduzir custos e conseguir criar uma reserva financeira (margem de garantia). E paralelamente estudar fontes de renda extras, já que existem algumas no mercado que podem, apesar de individualmente não gerar tanta renda, ser um alívio para fechar as contas no positivo, pagando as dívidas e começar a poupar. Sempre digo nos cursos ou em textos: tome o protagonismo de sua vida financeira.
SS – Sempre há tempo de sair de uma péssima situação financeira, mesmo na atual circunstância?
DR –Sim, independente da situação financeira atual, sempre temos oportunidades de melhorar nossas finanças. Se a situação for ruim, o melhor é passar a reduzir custos e aprender mais sobre como controlar as finanças pessoais e vermos a nossa psicologia com o dinheiro, pois são sempre nossos pensamentos e ações o que nos conduzem ao momento atual de nossas finanças. Podemos ver que ao mudar esses pensamentos e ações rapidamente passaremos de uma situação financeira ruim para uma melhor. Foi exatamente para auxiliar as pessoas nesse caminho que nasceu a Majesty Escola de Finanças.
SS – Qual o primeiro passo que a pessoa deve dar para começar a sair da crise financeira?
DR – Estudar! É muito comum pensarmos que só devemos nos preocupar com nossas finanças quando temos dinheiro ou quando ajeitamos nossa vida financeira. Mas essa não é a melhor postura, pois, como vamos sair de um problema financeiro se não conhecemos as ferramentas para diagnosticar e corrigir onde está errado? Como metáfora, imaginemos que alguém se acidenta e fica um tempo sem mover um braço. Agora imagine essa pessoa dizendo “certo, vou fazer fisioterapia quando meu braço estiver se movendo perfeitamente”. Nunca que esse braço voltaria, já que é a fisioterapia que auxiliará ao músculo retornar ao seu estado normal. Com as finanças acontece o mesmo, logo, se a pessoa está em uma má situação financeira, o melhor é estudar finanças pessoais e educação financeira, para saber como melhorar de maneira eficaz.
SS – Não seria interessante que a educação financeira começasse logo nos primeiros anos escolares e acompanhasse o cidadão ao longo da vida?
DR – Seria o cenário perfeito, pois, em poucas gerações teríamos um Brasil muito mais saudável financeiramente. Por isso nós da Majesty Escola de Finanças temos um projeto de ensinar educação financeira nas escolas (sejam públicas ou particulares) para alunos a partir dos 7 anos. No momento só estamos dando cursos de finanças e investimentos para adultos e adolescentes, mas tão logo as aulas retornem começaremos esse projeto tão importante em todos os sentidos, de preparar o cidadão para o futuro.
SS- Quando se fala em guardar dinheiro, todos lembram da poupança. Mas há outros investimentos mais interessantes?
DR- Durante muitos anos a poupança foi sem dúvida uma aplicação interessante, mas, desde 2012 não é mais tão boa assim, já que o governo mudou as regras dela e a caderneta de poupança passou, às vezes, a render abaixo da inflação. Seguindo a mesma linha de segurança e liquidez da poupança, temos o Tesouro Selic que, em meu livro, defino como a super poupança, já que esse título do Tesouro Direto rende sempre mais que a poupança e tem, na verdade, mais segurança por ser garantido pelo Tesouro Nacional. Também existem fundos de investimento em renda fixa e variável que podem ajudar os investidores a conseguirem bons retornos, mesmo com baixo capital aplicado. Hoje o nosso mercado financeiro é muito maduro e tem muitas oportunidades reais que fazem com que, a partir de um estudo e preparação, o investidor tenha uma boa multiplicação de seu capital investido.
SS – Capitalização é algo aconselhável? Ou um tiro no pé?
DR – Existe apenas um ente que se beneficia de um título de capitalização e esse é o banco que o vendeu. Um título de capitalização é uma aplicação pior que a poupança em termos de rendimento, já que ele rende a TR (Taxa Referencial) que desde 2015 está rendendo 0% a.a. (logo, o dinheiro está perdendo valor para a inflação). Ele promete prêmios de um sorteio, cujas chances de ganhar são quase as mesmas que as da Loteria Federal, só que o prêmio é muito menor. Via de regra, se a pessoa quer apostar, que o faça na Loteria Federal e com um dinheiro destinado a isso, mas, se for investir, nunca acredite que capitalização ou mesmo consórcio é um investimento. No caso do consórcio, é uma compra programada e, no caso da capitalização, é uma aposta disfarçada.
SS – O que é inflação?
DR – A inflação é o aumento persistente dos preços ao longo do tempo. Ou seja, ela faz com que nosso poder aquisitivo decaia aos poucos e seja corrompido. Para evitar isso devemos lembrar sempre de investir em algo que supere a inflação, pois assim, estaremos tendo uma rentabilidade real de nossos investimentos. Via de regra, o investimento tem que superar a inflação ao longo do tempo.
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