Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos (*)
Foi inevitável acompanhar a mais nova minissérie da Netflix e não me reportar à memória de minha avó materna, a quem dediquei um livro em 2021: “Eutímia, crônicas para não esquecer”. Sim, pois a protagonista, a personagem Marie-Laure, também é cega, interpretada por Aria Mia Loberti, jovem atriz norte-americana (30 anos).
Indicada ao Globo de Ouro 2024, TODA LUZ QUE NÃO PODEMOS VER tem quatro episódios e é baseada no romance best-seller de Anthony Doerr, ambientado em Saint-Malo, região marítima do Norte da França, no final da Segunda Guerra Mundial, em meio à resistência do povo francês à invasão e domínio das tropas alemãs de Adolf Hitler.
Marie-Laure é aficionada por transmissões de rádio, muitas vezes usadas pela resistência francesa para minar as ações dos invasores e facilitar a investida dos aliados, notadamente norte-americanos e britânicos. Seu pai, Daniel, é o curador do Museu de Paris, e tem sob sua guarda, além de objetos de grande valor histórico, algumas das joias mais preciosas do país, a exemplo de “Mar de Chamas”, a quem se atribuía uma série de eventos, incluindo desgraças e até a vida eterna.
Ao longo da história, Marie conhece e se apaixonada por um soldado deserdado da Alemanha, Werner (Louis Hofmann). Em comum, o amor pela radiodifusão e por um programa que ambos ouviam desde criança, narrado por um misterioso e sábio “professor”, tio Etienne LeBlanc (Hugh Laurie). A relação entre eles, como já vimos várias vezes na arte cinematográfica, reforça os horrores do regime nazista e a sandice que é toda guerra. Além disso, demonstra que para além do ódio, prevalece sempre o amor.
Aliás, mais psicótico e doentio ainda sabermos que as ideias de extrema direita daquela ideologia ainda estão presentes em nosso tempo e crescendo de forma assustadora. Mas, assim como os heroicos franceses daquele trágico momento da história da humanidade, há quem resista bravamente, lutando pelos valores democráticos e pelas liberdades individuais, à luz da convivência respeitosa e fraterna entre todos, sem distinção.
TODA LUZ QUE NÃO PODEMOS VER para alguns “críticos” é maçante e há quem diga que é uma minissérie “que não podemos ver”. Por outro lado, e prefiro ficar com esse tipo de opinião, há quem a enaltece e a valoriza não somente com produto cultural, como também como obra de arte. Nesse sentido, destaco a opinião de Allan Torres (2023, cinepop.com.br), que afirma: “A trama retrata o poder extraordinário das conexões humanas”.
Para mim, a minissérie além de ser um primor, em todos os níveis, incluindo efeitos visuais, som e fotografia, tem uma carga emocional e de sensibilidade além do comum. Diria que está mais para a poesia do que para uma narrativa seca e meramente dramática ou espetacular. Isso, sem deixar de registrar mais uma incrível e precisa interpretação do ator Mark Ruffalo (o Hulk da Marvel), no papel de Daniel, pai da belíssima Marie-Laure.
Entre as grandes máximas e lições da minissérie, uma se sobressai e é o mote de toda a narrativa: “A luz mais importante é a que não se pode ver”. Passados todos esses anos, hoje, entendo que a minha avó sempre me viu, a bem da verdade. Ela via em mim a luz que escondi na escuridão, por medo de abrir os olhos e, enfim, ver aquilo que eles escondiam de mim: a minha essência.
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