Estou longe do Brasil, atravessei o Atlântico, desembarquei nos EUA. Estou na Flórida, lugar que me fascina cada vez que por aqui piso. Alguém já disse que a Flórida é o 28° estado brasileiro, tamanho o número de conterrâneos que escolheram esse pedaço de solo americano pra chamar de seu.
Saí do Brasil no calor dos acontecimentos de domingo, quando uma turba enfurecida, feito um tsunami, invadiu os prédios dos Três Poderes em Brasília. Tsunami, pela rapidez e pelo estrago que fizeram.
Assisti pela TV as imagens no início da tarde de domingo, 08/01, sem entender o que estava acontecendo. Não por ignorância ou falta de conhecimento. Mas sem entender a atitude atabalhoada dos insanos. Ao ver as cenas de vandalismo, perguntava-me: o que querem? Passou pela cabeça dos sem noção que poderiam tirar do poder o presidente eleito pelo voto e colocar de volta um presidente fujão, que covardemente se escafedeu, justamente para Flórida, por não saber digerir a derrota? Pensaram que a justiça iria se intimidar com suas atitudes tresloucadas?
Que a política esteja radicalizada no Brasil, todos sabemos. Se o grupo do PT tivesse perdido as eleições provavelmente teriam brigado, feito quebra-quebra, não aceitando a derrota de bom grado.
O que vimos no domingo foi uma sandice sem tamanho, cujo palco foi o coração do poder em Brasília. Para quem se lembra da invasão do Capitólio, em janeiro de 2021, em Washington, os atos de selvageria em Brasília, no domingo, foram muito maiores. A destruição do patrimônio histórico, artístico, cultural e institucional brasileiro, perpetrada no coração de nossa democracia —a sede dos Três Poderes – deixou o país atônito. Depredação, violência e agressão não devem ser confundidas com protestos legítimos. Nossa Constituição nos garante a manifestação, não o cometimento de crimes. Esperamos, todos, que as instituições não temam essas manifestações de baderneiros, e o Brasil se livre do extremismo político.
Muito pior que a violência gratuita é a boçalidade da ignorância de quem acredita defender qualquer princípio maior e melhor que a própria democracia. Ou o Brasil exerce, agora, os imperativos da lei e penaliza devidamente esses arruaceiros ou periga cair na anomia das barbáries. Com a democracia não se brinca.
Vendo o Brasil de longe, o Brasil parece um país menor do que realmente é.
Triste o mundo nos ver como uma republiqueta de bananas, sendo galhofa nos quatro cantos da terra. Somente um país que não se leva a sério, um cidadão que foi eleito seis vezes consecutivas deputado federal pelo Rio de Janeiro, eleito presidente da República, passar grande parte do seu tempo desfazendo da Justiça Eleitoral de seu país; e da mais alta Corte de Justiça. Somente em um país que não é sério, nas palavras de Charles de Gaulle, em plena pandemia, o presidente da República desfaz das vacinas, aglomera e faz motociatas, espetacularizando o mal, que levou à morte milhares de vidas.
Com o tempo veremos o quanto de maldade um mandatário da Nação fez em quatro anos. Como disse um amigo, “esse homem adoeceu uma Nação”.
O mundo está dividido, o Brasil está rachado ao meio, as contendas não arrefeceram com o fim das eleições. Ao contrário, o que vimos em Brasília, no último domingo, foi a demonstração de que se o Brasil um dia foi classificado como um país cordial, as disputas pelo poder, nesta eleição presidencial, disseminaram rancor, revolta, depredação e prejuízo.
Oxalá, que dos escombros da tentativa de destruição dos Três Poderes se encontrem elementos para superação do que há de velho, macabro e pernicioso que se arrasta e atrasa a vida do país. De longe, faço votos que se resgate a paz de um país cordial e ordeiro, que tanto amo.
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(*) Luiz Thadeu Nunes e Silva é engenheiro agrônomo, palestrante, cronista, escrevinhador, e viajante. O latino americano mais viajado do mundo, visitou 151 países em todos os continentes. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.
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