Um dia no Aeroclube de Sergipe

 

Professor Manuel Luiz Figueiroa

 

Era um sábado de manhã, o sol irradiava um belo dia, o METAR SBAR das 12:00 zulu indicava: vento 9 kt de sul-sudeste, temperatura 26ºC, umidade 46%, pressão 1013 hpa, visibilidade 10km ou mais, nuvens dispersas a uma altitude de 4000 pés. O relógio marcava 13:00 zulu e os primeiros frequentadores do Aeroclube começaram a chegar, dentre eles, proprietários de aeronaves, pilotos, sócios, amigos, todos eles com a característica de gostar da aviação.

Dentre estes personagens, alguns se destacam pela especialidade: o finado secretário do aeroclube há mais de 20 anos que, segundo os sensitivos, continua frequentando a secretaria;  o cozinheiro, o professor, o instrutor, o piloto formado pela EJ- Escola de Aviação Civil e seu pai, o controlador aposentado, o supermercadista, o médico, o ex-petroleiro, o piloto de helicóptero, o gênio que montou uma máquina voadora, o proprietário de aeronave que não voa, o técnico em refrigeração, o dono de funerária, o fotógrafo, o historiador, o guarda campo, o faz tudo etc. Todos eles admitem que o ronco do motor é música para seus ouvidos.

O cozinheiro — baixinho, gordinho, apreciador dos seus próprios quitutes, e contador de piadas — é um dos que atraem apreciadores de picanha ao aeroclube, não confundir com a prometida por um dos nossos presidentes em campanha eleitoral. O churrasco é o menu mais presente nos aeroclubes do Brasil. Algumas vezes, não menos frequente, tem-se frango ao molho pardo, frango cozido, frango com macarrão, aves essas fornecidas pelo criatório do aeroclube que é cuidado pelo cozinheiro.

O professor, que é o mais velho do aeroclube,  que obteve sua Carteira de Habilitação Técnica (CHT) aos 79 anos, sendo detentor do recorde como o piloto de maior idade que obteve a CHT. A maior façanha aérea desse piloto foi, juntamente com seu filho, voar num monomotor Paradyse P1 NG para o Arquipélago de Abrolhos a 65 km (35,097 Mn) da costa baiana. Este arquipélago é ocupado pela Marinha do Brasil, que mantém no mesmo, além de um farol que cumpre a missão de orientar os navegantes daquela região, uma vila militar garantindo com a ocupação a soberania do Brasil.

O instrutor, que também é professor nas suas atividades fora do aeroclube, se caracteriza pelo zelo das questões de segurança de voo. Voar com ele é sempre um aprendizado para os novos pilotos.

O controlador aposentado é um sargento reformado da Força Aérea Brasileira, baixo, gordinho, cabelos e bigode brancos, bom contador de histórias e conselheiro dos novos e antigos pilotos. Contam que um novo piloto o consultou sobre qual tipo de avião deveria comprar: asas baixas ou asas altas e este respondeu: “Olhe os pássaros e me indique, pelo menos, um de asa baixa”. Um mês depois, no aeroclube, surgiu mais um avião de asa alta. Este conselheiro costuma orientar os novos e antigos pilotos a observar o voo dos pássaros, afirmando que estes são os melhores instrutores. Segundo suas observações, os pássaros decolam e pousam contra o vento, e quando estes tocam o solo, imediatamente recolhem as asas. Aí está mais uma orientação do nosso instrutor emérito: o piloto no pouso final, após o toque, deve recolher os flaps.

O supermercadista, que possui uma aeronave e, segundo as más línguas, a mantém exageradamente amarrada no hangar para que ela não decole sozinha para os céus da Barra dos Coqueiros. Esse veterano da aviação é fornecedor, sem custo, de mantimentos para os participantes das refeições do aeroclube.

O técnico em refrigeração exerce múltiplas atividades, atuando como orientador da pilotagem e também na solução de panes das aeronaves.

Existem alguns personagens que raramente se fazem presentes no aeroclube, entretanto, em muitas ocasiões de crises, atuam em benefício da entidade.

Toda a família do aeroclube de Sergipe, em agradecimento aos seus benfeitores anônimos, solta, no nosso céu, foguetes comemorativos de agradecimento.

As aeronaves, na sua maioria, são monomotores experimentais que praticam voos esportivos sem fins lucrativos. Tem-se, também, hangaradas, algumas aeronaves homologadas, essas de propriedades de empresários.

Atualmente, o Aeroclube de Sergipe, SISG – Sierra India Sierra Golf, possui uma pista de piçarra, 500m x 18m de cabeceiras 14 e 32, sendo compulsória em suas operações, apresentação de plano de voo, estando submetido ao Controle Aracaju, comunicando-se via rádio. O circuito do aeródromo é obrigatório pelo setor norte.

Nas dependências do aeroclube funciona uma escola de aviação, com curso teórico em funcionamento, dirigida por um entusiasta da aviação, e, também, tem-se a presença do GTA – Grupamento Tático de Aviação que o utiliza no desembarque dos doentes recebidos de imediato pela ambulância do SAMU – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência. O GTA também utiliza o aeroclube para os seus treinamentos operacionais e de segurança de voo.

Se você, leitor, gosta de aviação ou quer conhecer os segredos do voo, vá ao Aeroclube de Sergipe, nos fins de semana, você é nosso convidado.”