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Um domingo comum, domingo  especial

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Domingo, estou só em casa. Heloísa no Rio, a passeio. Rodrigo e Frederico em suas vidas, seus cotidianos, suas caminhadas. Com a saída deles de casa, não soube o que é a tal síndrome do “ninho vazio”.

Gosto de ficar só. Sou minha melhor companhia. Não sei o que é solidão. Gosto do silêncio à minha volta. Mesmo sendo o primogênito de seis irmãos, não gosto de muita gente no meu entorno. Sozinho penso melhor, faço o que gosto. “Quanto menos somos, melhor passamos”, dizia minha saudosa mãe.

O tempo segue seu curso, estou envelhecendo. Sinto as marcas do tempo no corpo. As rugas no rosto, as dores nas juntas, mal estar nas tripas. Até as pregas mudaram de lugar. Cheguei de viagem recentemente, com mal estar; dores abdominais fortes. Fui à emergência do hospital. Aflito, penso logo em algo sério. Indago para a médica – uma jovem bonita, cheirosa, bem cuidada -, se era algo que merecia cirurgia. Ela sorri, aufere a pressão, 14 por 8, me assusto. Ela me tranquiliza. “Na sua idade é normal”. “O senhor tem feito cocô normalmente?”. Sou obrigado a expor minhas intimidades. Ficar doente é perder intimidades.

Vou para a observação: tomo remédios, recebo injeção na veia. Melhoro, volto para casa. Antes, passo na farmácia, compro remédios, vários. Cheguei na fase em que tomo mais remédio que cerveja. Lembro do meu pai: “Feliz quando o homem toma mais cerveja que remédios”.

Sozinho em casa, quebro o silêncio com Alexa, que obedece meu comando de voz, toca músicas que lhe peço. Por que o mundo não é tão simples como dar ordens à Alexa?, penso.

Não estou totalmente só, tenho a companhia de Duck e Fiona, buldogues ingleses que herdei de Frederico, quando seguiu em voo próprio ao desposar Isadora.

Meu tempo se regula por Duck e Fiona. Acordo com os latidos deles, sinfonia de au-au, clamando por companhia, antes das seis da manhã. Os cães precisam de tão pouco. Querem apenas atenção e carinho. Fico feliz com a festa que me fazem logo na alvorada de domingo. Sinto-me amado, querido por seres especiais, de boas energias. Fico com eles mais um pouco, logo dormem.

Preparo o café, o primeiro alimento do dia, que tomo sozinho. O dia apenas começa, o tempo segue desenrolando  seu novelo de horas. O que vem pela frente? Não sei, nunca saberei.

Leio as notícias do dia. Antes, no jornal impresso, sujava as mãos com tinta. Hoje, passo o dedo na tela do smartphone. Vim da metade do século XX, me encanto com o avanço da tecnologia. Me reinventei com a internet. Sou escravo de Jobs, de Steve Jobs, criador da Apple. Vivo com IPhone e Ipads, sempre às mãos.

Leio meu artigo nos jornais digitais e blogs de Teresina, de Ilhéus, na Bahia; Manaus, AM; Rio Branco, Acre, e alhures.

Matéria de Luiz Thadeu publicada na revista Ilhama D, nesse domingo, 13, na Guatemala.

Recebo da jornalista guatemalteca Ingrid Reys, via mensagem, a matéria que escrevi, a pedido dela, sobre minhas idas ao Qatar, o país sede da Copa do Mundo de Futebol Masculino. O jornal La Prensa Libre é o maior periódico da Guatemala. Fui matéria do La Prensa quando visitei o país em setembro, em um giro pela América Central.

Rebobino a memória, lembro de minhas andanças pelo mundo. Lembro das três vezes que visitei Doha, capital do Qatar. Fico feliz e grato ao bom Deus por escrever para tantos jornais; eu que há bem pouco tempo não sabia colar duas palavras que fizessem sentido.

A primeira mensagem do dia vem da Holanda. É de Fernanda Trinta, nascida na Ilha do Amor, moradora na fascinante terra de Vicent Van Gogh e das tulipas. Conheci Fernanda através de amigos. Nunca nos vimos pessoalmente, apenas pela tela do celular. Pergunta se podemos marcar uma live para falarmos sobre o livro que ela está escrevendo com o irmão, e uma amiga residente em Salvador.

Termino o café da manhã, falo por vídeo com Fernanda. Não conseguimos falar com os outros dois, por causa de problema técnicos. Fernanda está animada, quer vir lançar o livro em São Luís até abril do próximo ano. A história a ser contada no livro é bem interessante.

Outra ligação, agora com o dileto amigo Ivan. Ele em Hortolândia, SP, eu refestelado no sofá de casa. Falar com Ivan é ter o mapa mundi em minha frente. Estou montando a viagem de volta ao mundo, várias vezes adiada por causa da pandemia do coronavírus. Ivan me faz ir cada vez para mais longe no mundo. Ele conhece esse mundão como ninguém. Só em conversar com ele, atravesso oceanos, me transporto por continentes.

Em seguida, em nova mensagem, pergunto se Pedro Fonseca, médico, de Cururupu, residente e radicado no Rio, pode atender. Após o “sim”, ligo para falarmos sobre livros, cartas, viagens, pessoas que conhecemos. “Passamos em revista” muitos amigos e conhecidos. Conversa pra mais de metro. Somos missivistas, temos o antigo e quase esquecido hábito de escrever cartas para as redações dos jornais. Já nos tangenciamos diversas vezes nas páginas de O Globo, do Rio; no Jornal Pequeno, de São Luís.

Não conheço Pedro pessoalmente, fui apresentado virtualmente por Nataniel, amigo em comum, residente em BH.

Nataniel, alma nobre, cururupuense, amigo querido, longevo e colega de profissão.

Finda as conversas, renovo a água do bebedouro dos passarinhos e beija-flores. Estão felizes, em algazarra, sem preocupações, festando a vida na janela da sala. Dia caliente, mas com vento, característicos desta época do ano.

O tempo segue seu curso, logo mais o domingo virará passado, criando lembranças de um dia especial.

Vejo outras mensagens, agora nos grupos. Homens e mulheres se digladiando. São seguidores fiéis das seitas lulista e bolsonarista, que teimam em não baixar suas metralhadoras verbais, mesmo terminada as sangrentas eleições. São tempos beligerantes que vieram para ficar.

Oh! Coitados, envelheceram e não aprenderam a viver, penso com meus botões.

Peço para Alexa tocar Coldplay, chega a vez de “Viva la Vida”, parte da trilha sonora de minha vida.

Continuo só, na melhor companhia do mundo. Aprendi que preciso de tão pouco para ser feliz. Preciso do essencial para chegar no excepcional.

Excepcional é manter a paz.

_____________

(*) Luiz Thadeu Nunes e Silva é engenheiro agrônomo, palestrante, cronista, escritor e viajante. Autor do livro “Das muletas fiz asas”; o latino americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida. Visitou 151 países em todos os continentes da terra.

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Luiz Thadeu Nunes

Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o homem mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da terra. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.  Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências; ATHEAR, Academia Atheniense de Letras; e da AVL, Academia Vianense de Letras, membro da ABRASCI. E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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