Por Luiz Thadeu Nunes (*)
Domingo, 03 de novembro, e o ano de 2024 se encaminha para seu final. Abro a janela: dia bonito, céu claro, calor beirando 30°, ventos fortes, próprios desta época do ano na Ilha do Amor.
Estou em casa, impossibilitado de sair, recomendação médica. Na sexta-feira fiz pequena cirurgia, estou à base de analgésicos, anti-inflamatórios e antibióticos. Quase um ser químico.
Dia propício para beber uma gelada; lembro do meu saudoso pai Luiz Magno, que vivia repetindo: “O homem está no lucro quando toma mais cerveja que remédio”. Não posso olhar para nada alcoólico. Melhor assim.
Dia angustiante; uma querida está em processo de passagem, em sofrimento por causa de um câncer agressivo, que lhe tirou a alegria, devorando-lhe a carne. Acompanhar seu sofrimento, mesmo de longe, sem poder fazer nada, é doloroso.
O noticiário só fala da reta final das eleições norte-americanas. A imprensa em polvorosa, torcendo pela candidata Kamala Harris contra o doidivanas Donald Trump, que segundo as pitonisas de plantão, se vencer será o fim do mundo. Ledo engano, o mundo não vai acabar agora, embora nós estejamos fazendo tudo para ele acabar.
As imagens da hecatombe climática, que assola o mundo, nos mostram a cada dia que nossa insanidade e ganância vão nos dizimar. Olho pela TV as imagens das inundações na região de Valência, Espanha, que já passa de duas centenas de mortos. Destruição e caos, prova que ninguém está a salvo da intempéries. Seguimos firmes nos matando sem dó e piedade. As guerras estão aí para confirmar.
A vida é uma sucessão de esperas. Esperamos nove meses para nascer, esperamos crescer e assim fazer o que queremos; esperamos os filhos nascerem e depois crescerem. Esperamos encontrar a pessoa certa com quem dividiremos a vida, na falsa esperança de sermos felizes. Esperamos pela estabilidade financeira, na vã esperança de que se tivermos dinheiro a felicidade nos sorrir.
Esperamos arrumar as coisas para melhor usufruirmos, e assim poder desfrutar. Se eu fosse esperar as coisas melhorarem nunca tinha feito o que fiz. Nunca viajaria pelo mundo. Nunca lançaria um livro. Nunca daria palestras. A ordem que dou ao cérebro é: “Se só tem tu, vai tu mesmo”. Avante, sempre em frente.
Enquanto escrevo, beija-flores tomam água no bebedouro na janela. Eles não têm preocupação alguma, não esperam nada para serem felizes. Apenas voam e cantam.
Ao meu lado, alheio a tudo, Duck dorme refastelado, com sua carinha de inocência e paz. Quando partir, não desejo mais voltar; mas caso volte, quero vir cachorro e encontrar alguém que tome conta de mim e me dê amor e carinho.
É dia de Enem, mais de quatro milhões de pessoas estão fazen
do provas em todo o Brasil, esperando passar e conquistar um futuro melhor.
A vida é um eterno esperar e esperançar. Esperar por dias melhores que teimam em não chegar. A arte de esperar me ensinou que sou apenas mais um filho da Terra; folha caída da árvore da vida que o vento leva. Não sou o que quero ser; sou apenas e tão somente o quê posso ser.
Então, penso: a vida é feita de fases, de ciclos. Cada etapa é única, com seu sabor, aroma, rostos e histórias. Assim, coleciono memórias: nomes, rostos, amores, e esperas.
Porque a vida, no fim, é exatamente isso: um somatório de esperas.
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