Por Luiz Thadeu Nunes (*)
Na semana passada ocupei o nobre espaço deste jornal com a crônica “Um punhado de infância”, onde narrei o encontro com uma garotinha, no aeroporto de Guarulhos, São Paulo, que me ofereceu um punhado de pipocas, em sua mãozinha diminuta. Aquelas pipocas me transportaram no tempo. Rebobinei a memória e citei “Já brinquei na chuva. Pisei em poças d’água, como quem salta sobre um riacho. Subi em árvores. Comi fruta diretamente do pé. Andei descalço no mato. Senti o cheiro da terra molhada, depois da primeira chuva. Brinquei de pião e xuxo na terra úmida. Empinei papagaios, que mesmo fiz. Saltei barquinhos de papel na enxurrada, na sarjeta, em frente de casa. Deliciei-me com o perfume das flores, em manhãs de mormaço. E, foram todos esses pequenos momentos mágicos que deram cor aos meus primeiros anos de vida e sedimentaram os meus sonhos”.
O retorno dos leitores foi melhor do que o que escrevi. A alegria de quem escreve é o retorno de quem lê.
O poeta Rinaldi, com a sensibilidade dos amantes das letras, escreveu-me: “Bom dia, cronista! O belo texto me lembrou três poemas, que o embalam em cumplicidade: “Barquinhos de papel”, do poeta Guilherme de Almeida; O poema de infância “Meus oito anos”, de Casimiro de Abreu; e o poema-resposta do mesmo poeta carioca Casimiro de Abreu, quando perguntado por uma menininha o que seria o sentimento de simpatia.”
O amigo leitor Noel, de Rio Branco, Acre, escreveu: “Bom dia, amigo Luiz Tadeu! Uma crônica que nos remete ao passado, “um punhado de lembranças”, título do texto de hoje.
De Aracaju, recebi do articulista Léo Mittaraquis: “Luiz Thadeu: Delicado, tocante, texto proustiano… Tanto quanto a sua, minhas lembranças d’infância saltam pelo tempo como milho de pipoca a estourar na panela. Saudações cordiais”.
O jornalista baiano, de Itaúna, Marcel Leal, que publica minhas crônicas jornal A Tribuna, escreveu: “Impressionante, Luiz, tivemos a mesma infância”. Detalhe, conheço Marcel apenas virtualmente.
Falar da infância é um mergulho no passado, guardado em cada um de nós. Somos feitos de lembranças, de histórias vividas e vivenciadas. Revisitar o passado, seja através de um pouco de pipocas, é resgatar a criança que existe em nós. O tempo, impávido, segue seu curso; nossas memórias resgatam tempos que ficaram lá atrás.
E, como no poema “Meus oito anos”, de Casimiro de Abreu, digo: “Oh! Que saudades que tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores, naquelas tardes fagueiras à sombra das bananeiras, debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias, do despontar da existência! – Respira a alma inocência, como perfumes a flor; o mar – lago sereno, o céu – um manto azulado, o mundo – um sonho dourado, a vida – um hino d’amor!
Que auroras, que sol, que vida, que noites de melodia, naquele ingênuo folgar! O céu bordado d’estrelas, a terra de aromas cheia, as ondas beijando a areia, e a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância! Oh! meu céu de primavera. Que doce a vida não era, nesta risonha manhã. Em vez das mágoas de agora, eu tinha nessas delícias de minha mãe as carícias e beijos de minha irmã!”
Boas lembranças são provas de que o passado valeu a pena.
Feliz Carnaval para todos: para os foliões festeiros e para os que, como eu, pulam no circuito: quarto para sala, da sala para cozinha, da cozinha para o quarto. O importante é estar com saúde física, mental e espiritual.