No último sábado, 8, a convite do amigo, mestre José Augusto Oliveira fui à solenidade de premiação do Concurso Nacional de Poesias “Pedro Ivo”, promovido pela Academia Maranhense de Ciências, Letras e Artes Militares (AMCLAM).
Tive o prazer de conhecer Pedro Ivo de Carvalho Viana, homem decente e honrado que teve a vida ceifada pelo flagelo da Covid, em 2020. Homenageá-lo é a maneira dos amigos mantê-lo vivo em seus corações e memórias. Na solenidade, na mesa principal, a companheira rotária Conceição Viana, viúva de Pedro Ivo.
Em noite gloriosa, na livraria AMEI, ouvir poesia é um bálsamo para o espírito. “A arte existe porque a vida não basta”, escreveu o homem das letras e intelectual nato, o poeta maranhense Ferreira Gullar.
Em sua terceira edição, e com 93 inscritos, o Concurso Pedro Ivo se consolida no calendário brasileiro de poesia.
Todos que subiram no tablado para recitar seus poemas, deram seu recado de forma vibrante. Muitos jovens e outros no adiantado da caminhada, emocionados, recitaram belos poemas, cujo tema foi “Natureza”.
São Luís está resgatando, nos últimos anos, um papel de destaque que teve no cenário cultural do país, quando foi chamada de “Athena brasileira”. Tamanha era a qualidade e quantidade de nossos escritores, poetas, dramaturgos, que nossa cidade, no início do século XX, se destacava em nível nacional.
Não há identidade maior de um povo do que suas manifestações culturais. Não existe povo sem cultura.
No ano em que se celebra o bicentenário do nascimento do poeta maranhense Antônio Gonçalves Dias (1823-1864), nada mais justo e oportuno do que semear poesias para os residentes da Ilha do Amor.
Faz-se urgente e premente resgatar todas as manifestações ligadas às artes: pintura, música, literatura, fotografia, dramaturgia, trovas, poesias, manifestações folclóricas e circenses, que além de alegrar o espírito, servem para formação intelectual de seu povo. O Maranhão é riquíssimo em cultura. Somos um estado de encantos, magias e poetas. Precisamos de momentos como este, um sarau poético, para mostrar às novas gerações que nossa matéria prima é feita de arte. Caso contrário, perderemos o rumo, e cairemos no superficialismo que beira a mediocridade. Quantos talentos estão no nosso entorno, precisando apenas de uma pequena oportunidade para aflorar. Isso testemunhamos na noite do dia 08 de abril, na AMEI.
A produção literária em nossa cidade está em expansão, e cada vez mais pessoas estão tirando de dentro de si: poemas, contos, artigos, crônicas e livros.
“Há um livro dentro de cada um de nós, basta tirá-lo”, escreveu Clarice Lispector, a ucraniana-brasileira, que tirou vários livros de dentro de si, que a eternizaram.
Em junho passado, tive o prazer e o privilégio de lançar o livro “Das muletas fiz asas”, pela editora N’versos, na livraria AMEI, onde conto minhas andanças pelo mundo, os 151 países visitados, me tornando o latino-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida. Oxalá, a maioria das pessoas tenha a oportunidade de colocar suas histórias no papel, imortalizando-as. Todos nós um dia iremos embora, tragados pela libitina, mas as letras registradas ficarão. Exemplo disso é que duzentos anos depois ainda estamos a falar e a reverenciar Antônio Gonçalves Dias. Quantas pessoas que conviveram com Gonçalves Dias, se perderam no tempo, pois não registraram suas histórias.
Amante dos livros, digo sempre: “Do livro, não me livro. Nem quero me livrar. Se do livro, eu me livro, como livre vou ficar?”.
A AMCLAM, tendo à frente seu dinâmico presidente Coronel Carlos Furtado, confrades e confreiras, está de parabéns por tão louvável iniciativa.
Que venham inúmeros Concurso de Poesias, e como bem disse o presidente Carlos Furtado, de forma eloquente, no encerramento do evento, o concurso será estendido aos países lusófonos, ou seja, em todos os países de língua portuguesa.
Em momentos tão difíceis e tóxicos como estes que estamos vivendo e vivenciando, precisamos muito mais de poesias do que de armas.
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(*) Engenheiro agrônomo, palestrante, cronista e viajante. Autor do livro “Das muletas fiz asas”, o latino-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes.