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Uma aula com a mãe natureza

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Hernan Centurion (*)

É domingo, em pleno meio-dia. Concentro-me por instantes, fito o entorno e me situo completamente cercado por uma flora de caules e copas vistosos, flores coloridas e plantas multiformes, algumas fontes, lagos e riachos refrescantes, além de uma fauna diversa e por vezes cantantes. Estar em contato com a natureza, particularmente no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, é viajar pela cápsula do tempo e espaço. Portanto, transporto-me em milissegundos, através de impulsos nervosos por minha mente até então em êxtase, à época de sua fundação pela família real ainda no nascer do século XIX.

Carruagens e cavalos pomposos levantando poeira ao romperem as ruelas e trilhas; senhoras com vestidos rodados, chapéus e sombrinhas, acompanhadas por cavalheiros trajados com terno de linho e cartola, portando bengala, caminhando juntos ao entardecer, talvez atualizando as notícias da corte portuguesa; escritores e poetas inspirados pelas cenas bucólicas e pelo sossego do ambiente; pintores traçando e cientistas descrevendo a fauna e flora autóctones, como também os vários espécimes trazidos de outros continentes pelos exploradores lusitanos.

Como é aprazível abandonar a “selva de pedra” repleta de calor escaldante, de ruídos estridentes dos motores e buzinas no trânsito quase sempre engarrafado e de fumaça sufocante de chaminés e escapamentos dos automóveis, onde os ponteiros do relógio giram em palpitante frenesi. E, então, adentrar em um ambiente completamente distinto, que aguça os sentidos, desde o cheiro prazeroso do mato e da terra molhada, temperado pelo aroma floral das orquídeas, tendo como trilha sonora o canto de tucanos exóticos de cor alaranjada e a calma melodia da água da fonte que soa ao percorrer seu caminho pelos córregos e, como pano de fundo, o encanto do colorido nos mais diversos tons e brilhos, deliciando-se com a brisa suave que surge pelas entranhas do suntuoso e centenário bambuzal.

Embaixo da sumaúma, os rebentos Henrique e Osório

Admirado, sento-me numa rocha em formato de tamborete, coincidentemente sob a sombra de uma magistral acácia. Lembro-me da lenda do mestre Hiran Abiff e faço uma breve pausa nos devaneios para hidratar-me. Enxugo o suor da testa e, meio que de súbito, reponho os óculos e observo logo à frente, no horizonte, uma árvore das mais robustas e colossais por mim jamais vista, a sumaúma, provavelmente trazida como uma singela muda diretamente da floresta amazônica.

Família Sobral em conexão com a natureza

Certifico-me e convenço-me, novamente, de que somos tão pequenos diante deste ser vivo inerte, robusto e firme e que, em silêncio, sem reclamar ou exigir nada em troca, transmite-nos proteção maternal ante o sol escaldante, abriga e alimenta diversos pássaros e pequenos primatas e nos proporciona momentos de lazer e de bem estar despretensiosamente, tal qual uma relação parental.

Retorno a meu eu interior, agradeço a oportunidade de ali estar bem saudável, em família, contemplando uma deslumbrante obra-prima na mais delicada sinfonia que somente poderiam ter advindo de D’us, o Grande Arquiteto do Universo, justa e perfeitamente representado pela imagem do Cristo Redentor que consigo enxergar lá bem acima da copa arbórea, no firmamento azul, sustentando-se sobre o cume do acinzentado morro do Corcovado.

Já devidamente descansado, levanto-me serenamente, abro um tímido sorriso, beijo a face da esposa, dou as mãos aos filhos e sigo embora satisfeito pelos ensinamentos apreendidos nesta agradável e memorável tarde que poderia ter sido tão banal quanto outras que vivi. Ou seja, pelos pequenos gestos, na simplicidade das coisas, conectados à natureza, acompanhados das pessoas que amamos e, mormente, enxergando com os olhos d’alma é que evoluímos espiritualmente, somos efetivamente felizes e ainda mais sintonizados ao divino.

 

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(*) Médico cirurgião e coloproctologista. Mestre maçom da Loja Maçônica Clodomir Silva 1477, exercendo atualmente o cargo de orador.

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Hernan Centurion

(*) Médico cirurgião e coloproctologista. Mestre maçom da Loja Maçônica Clodomir Silva 1477, exercendo atualmente o cargo de venerável.

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