Atraído por uma matéria publicada no jornal O Globo, no início do mês, com chamada de capa, e página inteira, a reportagem mostrava a situação de famílias que tiram seus sustentos de um lixão, em Pinheiro, no interior do Maranhão. O fotógrafo paraense João Paulo Guimarães viu um vídeo postado nas redes sociais do defensor público Eurico Arruda, e veio ver de perto a situação daquelas famílias, que vivem como se estivessem nas regiões mais miseráveis da África subsaariana.
A foto do garoto Gabriel Silva segurando os destroços de uma árvore de Natal que acabara de ser retirada do lixo viralizou nas redes sociais, indo parar na capa de um dos mais importantes jornais do país, e virou pauta de muitas matérias, mostrando a miséria humana, que passa despercebida no nosso dia a dia.
Mesmo lhe faltando quase tudo, a alegria e o sorriso de Gabriel com aquele pinheiro despedaçado nas mãos era tudo que ele teria para ornamentar sua humilde casa de chão batido e paredes descascadas, em tempos natalinos.
Pinheiro de Natal representa esperança. A árvore de Natal achada pelo menino Gabriel foi a esperança, que mesmo em meio aos dejetos, o que as pessoas jogam fora, serviria para ornamentar sua humilde casa, trazendo um pouco do espírito natalino.
Tudo mudou quando João Guimarães divulgou a foto. Foi criada uma vaquinha virtual que arrecadou mais de vinte mil reais, além de muitos presentes para ele e para sua família. Ganhou uma árvore de Natal nova, toda ornamentada, com luzes.
Estamos encerrando um ano difícil, com desemprego recorde, fome aumentando, desesperança tomando conta das pessoas; a magia do Natal renasce em um lixão em Pinheiro, no interior do meu Maranhão, mas poderia ser em diferentes lugares desse imenso país.
Com a pandemia do coronavírus as diferenças sociais aumentaram, as desigualdades se exacerbaram, tornando o mundo mais injusto e cruel.
A concentração da renda no Brasil continua sendo uma das mais altas do mundo, conforme o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) da Organização das Nações Unidas (ONU). O Brasil está em segundo lugar em má distribuição de renda entre sua população, atrás apenas do Catar, quando analisado o 1% mais rico. No Brasil, o 1% mais rico concentra 28,3 % da renda.
Caro leitor, amiga leitora, enquanto você lê esse artigo, uns poucos fazem refeições que custam o que uma família carente leva um mês para se alimentar. Muitos brasileiros estão a revirar caçambas de lixo, a procura de restos de alimentos estragados para matar a fome, e seguir em suas caminhadas.
Quando Deus enviou seu único filho e o tornou humano, foi para dar o exemplo de que tudo tem que ser partido, repartido. Mas a ganância, a ignomínia, nossa ignorância nos cegou, e cada dia estamos mais desumanos.
Em um mundo cada vez mais tóxico cujo deus é o consumismo, em que o ‘ter’ ganhou o lugar do ‘ser’, não aprendemos nada com essa pandemia. Ao contrário, só pioramos.
Enquanto uns gastam milhares de reais para ornamentar suas casas, milhões não têm o que comer, não têm um pão para alimentar suas crianças.
Gabriel Silva, o garoto que achou os restos de um pinheiro de Natal no lixão, mostra que tão pouco precisamos para viver. Os excessos geram desperdícios que aumentam ainda mais as desigualdades.
Enquanto não descobrirmos que somos seres de travessia, que estamos aqui de passagem, que não trouxemos nada, e absolutamente nada levaremos daqui, não saberemos o verdadeiro sentido do Natal.
É tempo de renovação, de esperanças, de mudanças, de ver que podemos mudar o mundo para melhor.
“Enfeite a árvore de sua vida com guirlandas de gratidão.
Coloque no coração laços de cetim rosa, amarelo, azul, carmim.
Decore seu olhar luzes brilhante, estendendo as cores em seu semblante.
Em sua lista de presente, em cada caixinha embrulhe um pedacinho de amor, carinho, ternura, reconciliação, perdão!
Tem presente de montão no estoque do nosso coração e não custa um tostão”.
Feliz Natal, queridos, com saúde, fé, respeito, amor ao próximo e proteção divina.
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Luiz Thadeu Nunes e Silva é engenheiro agrônomo, palestrante, cronista e viajante: o sul-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 143 países em todos os continentes.
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