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Uma ignorância pedagógica no magistério

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Valtênio Paes de Oliveira (*)

 

Na escola do século passado existiram palmatória, ficar em pé de costas por longo tempo, ficar de joelhos e tantos outros castigos. Pior ainda, o conceito do que era certo ou errado dependia do rigor da opção cognitiva do professor(a). Na avaliação, o considerado como certo pelos profissionais do magistério dependia da preferência pelo formato da resposta da autoridade escolar.

O poder de quem ensinava era supremo. A ação era verticalizada. Hoje, a relação mestre x discípulo, passou a ser horizontalizada. Respeito, tolerância e harmonia entre mestres e estudantes de todos os níveis é a prevalência.  Assim, se estudantes respondessem certo de maneiras diferentes, a nota ou conceito se apresentava como reprovação. Ao que parece, hoje, inclusive em alguns cursos superiores, existem profissionais do magistério que assim continuam procedendo.

Depoimentos de estudantes confirmam: ainda existem professores e professoras, no exercício da avaliação da aprendizagem assim procedendo. Já no século passado e acentuado nas últimas décadas, mudanças sociais, tecnológicas, econômicas exigiram nova postura da escola e de professores(as) e pedagogos(as). Pena que tanto na escola de educação básica como no ensino superior, existem “educadores(as)” que são apegados ao “só aceito como antigamente”.

Exemplifica-se: o estudante desenvolve todo o raciocínio lógico corretamente e por não concluir o último cálculo recebe nota zero; estudante que responde tudo certo, chega à resposta certa seguindo trilha diversa da exigida pelo examinador, recebe nota zero.  Tais condutas, inibem a criatividade estudantil em detrimento do ego avaliativo de professores(as) com ação bloqueadora, transferindo para estudantes a impotência criativa.

Ao longo da história muito se refletiu sobre aprendizagem escolar. Empirismo, behaviorismo, conexionismo, racionalismo, inatismo, interacionismo, cognitivismo, sóciointercionismo e tantas outras correntes de pensamento. Não vamos adentrar nos meandros de cada uma, apenas para lembrar que apesar de tantas, ainda existem profissionais do magistério que se amarram ao passado para gerar dependência contrariando a autonomia da criatividade. Afinal qual o papel atual dos educadores(as) no exercício da avaliação? Possibilitar criatividade, reflexão, correlacionar teoria e prática ou reproduzir formulas?

Dentre tantos estudiosos,  Paulo Freire, como muita atualidade, disse: “o ato de aprender envolve a construção e a reconstrução constante do objeto de conhecimento, num movimento que considera a experiência, a autonomia, a reflexão, o diálogo, a construção coletiva, a criatividade e a abertura ao novo”. Para tanto, profissionais do magisterio não devem estar preocupados com o “quero que respondam avaliação somente pela forma e/ou conceito que ensinei” mas com a estudantada venha descobrir e criar caminhos aprendendo. É Importante as habilidades no ato de responder. Jeremy Rifkin põe um profissional do magistério como mediador.

O físico Paulo Nussenzveig através da Radio USP, num belo exemplo,  cita Richard Feynmam:

 “Num de seus livros autobiográficos, o físico Richard Feynman conta sobre a influência que seu pai exerceu em sua educação. Eles passeavam juntos no bosque, o pai apontava um pássaro e dizia o nome da ave (que ele inventava) em várias línguas. Aí, perguntava ao filho o que ele tinha aprendido. A resposta é que ele aprendeu sobre seres humanos em diferentes locais e como eles nomeavam o pássaro. Em seguida, Feynman e seu pai observavam o pássaro para ver o que ele fazia”, relata Nussenzveig. “Isso, sim, permite aprender algo sobre o pássaro, sobre seus hábitos e os motivos para seu comportamento. É claro que o nome do pássaro permite identificá-lo e estabelecer a comunicação entre humanos que o estudam. Mas o conhecimento não está em memorizar o nome; mesmo sem saber o nome, é possível aprender muito sobre o pássaro.”

 

Limitar caminhos na buscar do saber não é ponte segura para aprendizagem.  A infinita gama de Informação nos dias atuais não significa dados processados ​​sobre alguém ou alguma coisa. Importante separar sabedoria, conhecimento, informação e dados na aprendizagem escolar. Contextualizar, refletir, analisar e sintetizar são decisivos na produção do conhecimento. Se o profissional limita, provoca prejuízo na aprendizagem face à restrição de alternativas. Esquece que a única imutabilidade no saber é a certeza de que existe sempre a antítese na espreita.

Se os dados forem estruturados, organizados, processados, contextualizados ou interpretados, há a geração de informação. Quando a informação inclui contexto, reflexão, síntese ou análise, ela pode se tornar conhecimento, razão de ser, de uma pedagogia plena. O conhecimento é decorrente da interpretação da informação e de sua utilização para gerar novas ideias, resolver problemas ou tomar decisões; e existe quando uma informação é explicada e suficientemente compreendida por alguém.

Fundamentar argumentos dentro da lógica científica evitando o “só aceito como eu ensinei” é um bom caminho para a avaliação escolar. O mundo do saber não gira uniformemente em função do que quer o profissional do magistério. Gira pelo saber científico, que diverso e de amplitude ilimitada, permite a cada momento, que conceitos e ideias sejam refeitos. Melhor do que rejeitar a resposta é ouvir do estudante as razões do respectivo raciocínio. Eis um bom caminho para a avaliação na escola atual.

 

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Valtenio Paes de Oliveira

(*) Professor, advogado, especialista em educação, doutor em Ciências Jurídicas, autor de A LDBEN Comentada-Redes Editora, Derecho Educacional en el Mercosur- Editorial Dunken e Diálogos em 1970- J Andrade.

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