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Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos (*)

 

As manhãs de domingo e mesmo algumas madrugadas de sábado para domingo não são mais as mesmas desde aquele fatídico primeiro de maio de 1994. O Brasil poucas vezes chorou e enlutou-se tanto por um de seus célebres filhos, pelo menos desde Getúlio Vargas, em 1954, ou Tancredo Neves, em 1985. Eu tinha 20 anos, estava prestes a iniciar minha carreira na docência e posso lhes asseverar que a morte de Ayrton Senna calou fundo em meu coração.

A sensação foi a de ter perdido um ente muito querido da família. E até hoje, sobretudo esta semana em que se rememora os 30 anos daquele acidente fatal, na curva Tambullero, Ímola (Itália), é impossível ouvir o “Tema da Vitória” (de autoria do Eduardo Souto Neto, gravado pelo Grupo Roupa Nova, em 1981), e impedir que as lágrimas rolem pelo rosto e os pelos dos braços se ouriçarem de emoção e de saudade.

Minha mãe dizia que uma pessoa para prestar ou ser notada ou valorizada só depois de morta. Em grande medida, ela tinha muita razão. É fato que a morte impacta muito as pessoas, sobretudo as trágicas. Há uma comoção natural em velórios, principalmente de notórios ou celebridades locais, nacionais e internacionais. Há todo um culto ao morto e muitas vezes “seus pecados” são perdoados ali, no descer do caixão na sepultura.

Penso que Ayrton Senna da Silva, natural de São Paulo-SP (21 de março de 1960) seja uma das melhores exceções. Ele já era grande em vida e a morte só, paradoxalmente, o imortalizou. Trinta anos depois de seu falecimento, seu nome é celebrado e referenciado no mundo inteiro e nos lugares mais recônditos da Terra. Na última quarta-feira, isto ficou ainda mais evidente. Foram incontáveis homenagens, as mais criativas e mais lindas, e também muito justas, possíveis.

Não. Não se trata de uma idolatria. Mas de um preito de saudade. Há, como disse, um vazio enorme no coração da maioria absoluta dos brasileiros. Senna se tornou um símbolo que ultrapassa o esporte, mais de perto o automobilismo e até mesmo a tão criticada Fórmula 1, contra quem ele se debatia vez ou outra pelas injustificáveis ações de manobras de resultados ou mesmo de riscos aos pilotos em nome do vil metal, luta que ele protagonizou, que tragicamente seivou sua vida, mas que deixou um legado para os esportes de alta velocidade e desempenho humano e das máquinas.

E o que explica o fato de um tricampeão mundial de Fórmula 1 (1988, 1990 e 1991) ter mais fama e louvores do que um ainda mais vitorioso, a exemplo de Michael Schumacher e Lewis Hamilton, ambos com sete títulos até a presente data? Ora, antes de mais nada o humanismo, a empatia e o carisma. Hamilton é muito fã de Senna e o tem como a sua maior inspiração. Vê-se, pois, que aprendeu direitinho, o jovem piloto inglês.

Senna ganhou corridas numa época em que o humano e suas potencialidades faziam diferenças. Não o preparo físico, com o cuidado com alimentação, a parte muscular e os nervos, mas também a saúde mental. E no caso dele a FÉ. Algumas de suas vitórias magistrais e inesquecíveis, sobretudo na chuva, não podem ser explicadas para além desse elemento diferenciado. Tanto é verdade, que a inserção da alta tecnologia nos carros de Fórmula 1 coincidem com a queda de rendimento dele e também com sua transferência para a Willian, onde morreu depois de inúmeros problemas mecânicos, o que chegou a se criar a teoria da conspiração sobre sua causa morte.

Sou, particularmente, aficionado por velocidade, tanto que coleciono carros de brinquedo de todo tipo, antigos e novos, da Hot Wheels, e também da Chevrolet e da Lego. Teria muito mais se houvesse espaço em minha biblioteca e sala de TV. Mas, um em especial, ilustra minha memória materializada em arte em miniatura: a réplica da MacLaren MP4/4, San Marino GP 1988, de Ayrton Senna do Brasil. Do ano em que ele foi campeão mundial pela primeira vez para ficar em definitivo na história mundial e no coração das pessoas do mundo inteiro.

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Claudefranklin Monteiro

Professor doutor do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe.

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