Embora seja uma doença rara, que responde por 2% de todos os tipos de câncer que acometem o homem, em 2022 o Brasil registrou 1.933 casos de câncer de pênis e 459 pessoas tiveram o órgão sexual amputado em decorrência da doença, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) com base nos sistemas de informação do Ministério da Saúde (DataSus). Os registros da enfermidade são maiores nas regiões Norte e Nordeste do país.
“Além de ser raro, o câncer de pênis é totalmente prevenível. A incidência tem diminuído nos últimos anos, mesmo assim, a doença ainda tem acometido uma quantidade considerável de homens no Brasil. Ano passado, aqui em Sergipe, realizei três amputações de pênis, e este ano já realizei um procedimento do tipo”, informa o médico urologista Rodrigo Tonin, membro da Sociedade Brasileira e da Associação Americana de Urologia, especialista em cálculo renal, doenças da próstata e vasectomia.
Rodrigo Tonin apresentou mais dados sobre a patologia, que foram coletados pela SBU junto ao Ministério da Saúde: no período de 2007 a 2020 faleceram, em decorrência do câncer de pênis, 5.407 pessoas no Brasil. Já de 2007 a novembro de 2022, o Sistema Único de Saúde realizou 7.790 amputações de pênis, uma média de 486 procedimentos por ano.
Ele explica que a incidência de casos fez com que a SBU tenha utilizado o mês de fevereiro, quando é comemorado o Dia Mundial do Câncer (4), para ampliar o trabalho de combate e prevenção à doença através da campanha: “Pênis, cuide, você só tem um”.
Boa higiene é a saída
Rodrigo Tonin afirma que embora representando 2% do total de neoplasias que acometem os homens, os números preocupam muito, porque a prevenção ao câncer de pênis é muito simples e requer, basicamente, água, sabão e a higienização correta do órgão sexual masculino, principalmente após as relações sexuais e a masturbação.
“Saber que cerca de 500 homens têm o pênis amputado nos faz ver que muitas pessoas ainda não têm acesso, infelizmente, a dois bens essenciais: informação e saneamento básico, já que a falta de higiene é a principal causa do problema. Acredito que a privação de acesso ao saneamento básico contribui bastante para esse triste cenário. Na questão do câncer de pênis, os perfis socioeconômico e cultural do paciente são determinantes, pois quanto menor, piores as ocorrências”, lamenta o profissional da saúde.
Rodrigo Tonin defende que as secretarias municipais de saúde realizem, perenemente, campanhas de conscientização sobre o problema. Ele conta que o caso mais recente foi o de um paciente do interior do estado, com 45 anos de idade e baixíssimo nível de escolaridade e instrução. O paciente também era tabagista, outro fator de influência quando se trata de câncer.
“Há maior quantidade de casos da doença a partir dos 50 anos, mas isso não significa que o câncer de pênis não aconteça em jovens, e nesse grupo, um dos fatores preponderantes é a infecção pelo vírus HPV, uma infecção sexualmente transmissível”, informa o médico urologista.
A manifestação da doença
“É triste receber pacientes com câncer de pênis e cujo único tratamento é a amputação, porque estamos falando de uma mutilação. Mas, infelizmente, para muitos essa medida extrema é motivo de alívio, porque, no geral, a condição em que chegam ao consultório é extrema, com muita dor e odor fétido”, relata o médico Rodrigo Tonin.
O câncer de pênis se apresenta como uma ferida no órgão sexual que provoca coceira, queimação, forte odor e que não cicatriza, mesmo com a realização de tratamento tópico. Também pode ser indicativo da doença o espessamento ou mudança na cor da pele do pênis ou prepúcio; presença de tumoração localizada na glande, prepúcio ou corpo do pênis, associada a uma secreção de cor branca.
Além dos fatores já citados pelo urologista, como falta de higiene adequada, infecção por HPV e baixas condições socioeconômicas e culturais, outro fator que aumenta o risco de surgimento da doença é o estreitamento do prepúcio (pele que reveste a glande, conhecida como “cabeça” do pênis) e a não remoção do mesmo por meio da cirurgia de fimose.
“Percebeu qualquer um desses sintomas, ou algo anormal no órgão sexual, procure um médico urologista imediatamente. A taxa de sucesso no combate à doença depende de um diagnóstico rápido e preciso, e quando isso acontece em estágio inicial não é preciso realizar a amputação do pênis”, alerta Rodrigo Tonin.