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“Vacina pouca, minha proteção primeiro”

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Petruska Menezes (*)

Estamos passando por um momento muito singular da história do Brasil, a partir da ótica da provincialização da Europa. Na busca mundial por salvar vidas, os países têm nas vacinas uma opção para diminuir o número de mortos pela COVID-19, a partir da imunização seletiva das pessoas com maior contato com o vírus – o que implicará, em tese, na diminuição da transmissão e do adoecimento/morte das pessoas. Mas para a surpresa de alguns, pessoas com influência política e/ou econômica que não fazem parte do primeiro grupo selecionado para a vacinação estão “furando a fila”.

Este movimento acontece em várias partes do País e não deixa de lembrar filmes apocalípticos nos quais o consenso, o respeito e o cuidado com a sociedade dão espaço para a “salvação” dos bem-afortunados e privilegiados que detêm provisoriamente o poder. A pandemia desencadeou o que existe de mais assustador nos seres humanos: o medo da morte (de si e dos seus entes queridos) e o rompimento do pacto social. Os movimentos narcísicos de salvação fazem com que muitos se esqueçam de que quanto mais gente adoece, mais são as chances de todos adoecerem – o que pode levar ao colapso do Sistema de Saúde.

Freud, em seus textos sociológicos, já apontava, seguindo outros pensadores, para o investimento energético necessário para se manter uma sociedade unida. A necessidade de proteção está em sintonia com o sentimento de pertencimento e são uma parte da motivação que leva o indivíduo a renunciar a sua liberdade e de suas ações, para se submeter a um grupo, com regras e normas para a boa convivência.

Entretanto, em situações imaginárias ou reais de ameaça à vida, muitas pessoas, em busca de sua própria sobrevivência, rompem com os princípios norteadores dos grupos e passam a agir “por sua conta e risco”. A gravidade da ação é que não se pensa mais no todo, no coletivo, na sobrevivência e na melhor qualidade de vida e saúde para todos. Isso ameaça todo o funcionamento social, sua fidelidade e seus preceitos.

Somos sempre dicotômicos entre narcisismo/egoísmo, e no trabalho e ligação com os outros e os grupos. Porém, o que mantém essa ligação é justamente um dos princípios de regras comuns a todos, que inibem as ações de lesão e prejuízo do outro, em nome da harmonia e do equilíbrio de todos.

Prefeito de Itabi, Júnior de Amintas, furou fila

O fato é que dentro das regras sociais existem correções e punições para se manter a ordem. Contudo, no Brasil, temos problemas em fazer com que correções e punições cheguem a quem as cabe de direito e isso afeta a credulidade da nação. Uma nação onde há indivíduos que não acreditam ou desconfiam do Sistema de Justiça abala o equilíbrio e o contrato social que une as pessoas, podendo provocar uma situação que vai gerando, cada vez mais, pessoas que vão tentar fazer suas escolhas e caminhos por fora da legislação, tendo em vista que há inexistência de consequências ou punições para o seu descumprimento.

Cabe ao Governo brasileiro, em suas instâncias legais, organizar o caos que os “fura-filas” criaram, buscando manter a credulidade nas instituições governamentais. Sem isso, corre-se o risco de ampliar a quantidade de pessoas que adoecem ou morrem em consequência do descumprimento de regras, até as mais simples, como ficar em casa, evitar aglomerações ou usar máscaras. O caos pode se instalar, como o já ocorrido em Manaus, agravando o trabalho de quem tenta pôr tudo em ordem. Assim, se prevalecer a “vacina pouca, minha proteção primeiro”, tal atitude poderá provocar que todos acabem adoecendo e milhares venham a óbito. A regra da individualidade, neste caso, vai culminar, fatalmente, no agravamento da pandemia para TODOS!

(*) Profa. Esp. Petruska Passos Menezes é psicóloga e psicanalista, integrante do Círculo Psicanalítico de Sergipe, tem MBA em Gestão e Políticas Públicas pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), Gestão Estratégica de Pessoas (pela Fanese), Neuropsicologia (pela Unit) e em curso Gestão Empresarial pela FGV.

** Esse texto é de responsabilidade exclusiva da autora.  Não reflete, necessariamente, a opinião do Só Sergipe.

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