Na semana passada começamos a ver como selecionar melhor nossos gastos e fazê-lo com consciência, nos ajudaria a simplificar nossa vida e pouparia mais dinheiro. Se você ainda não leu o texto intitulado a Metáfora dos três baldes, recomendo a leitura:
A metáfora dos três baldes de ouro.
Hoje nós nos dedicaremos mais ao segundo Balde, o da Poupança. Mas antes vamos definir o que seria poupar, pois apesar de parecer realmente óbvio não é tanto assim. Poupar é um hábito adquirido após algum esforço consciente. Esse hábito nos possibilita viver com menos do que ganhamos.
Essa explicação se fez necessária, pois o hábito de poupar é muitas vezes confundido com a ideia de alocar dinheiro na caderneta de poupança, sendo essa última uma aplicação financeira.
A pessoa que conseguiu simplificar seu estilo de vida para viver de forma eficiente dentro de suas necessidades de consumo, consegue diminuir o gargalo gerado pelas contas a pagar e assim criar uma reserva financeira. Essa reserva pode ser usada das mais diversas formas e, contanto que seja feita uma análise consciente do gasto em questão, é possível que esse traga bons frutos no futuro.
Para poupar devemos ter atenção a dois detalhes: o primeiro é saber que os gastos em excesso são um terrível inimigo que só aumenta nosso padrão de vida e as contas que teremos que pagar; já o segundo é aquele que guarda tudo quanto chega às suas mãos e tenderá a gastá-lo de maneira impensada e\ou passar necessidade com o dinheiro no banco. Logo, nem é bom gastar de maneira prodigiosa, e nem sofrer da “Síndrome do Tio Patinhas”. O verdadeiro poder de alcançar a liberdade financeira está no equilíbrio.
É certo que vivemos em uma sociedade ligada ao consumo e aprendemos desde cedo a amar o consumo. Quando crianças, víamos nossos pais comprarem as coisas que precisavam e muitas vezes as que desejavam. Tivemos durante os anos de 2008 e 2014 um incentivo ao consumo nunca antes visto no Brasil, financiado com o credito fácil que veio a gerar alguns problemas sérios, como por exemplo, uma grande quantidade de inadimplentes, chegando a superar 25% da população brasileira.
É lógico que por associação, as crianças e os jovens adquiriram o hábito de gastar, muitas vezes sem ter o dinheiro para isso, e poucos tiveram acesso ao exemplo de poupar vindo de seus pais ou das pessoas mais próximas. Podemos mapear essa deficiência do hábito de poupar, na época da hiperinflação, já que não adiantava realmente poupar e era até perigoso perder o dinheiro poupado, pois amanhã ele poderia não ter poder nenhum de compra.
Com isso gerou no brasileiro uma ideia que vem passando de geração em geração: é melhor gastar hoje, e amanhã vemos como pagamos. Isso até funcionou por um tempo, mas nos dias atuais a coisa é diferente, já que não temos mais falta do básico. Passamos a gastar cada vez mais em produtos de luxo e de maior valor agregado, com a mesma visão da década de 90 e com o crédito facilitado das décadas de 00 e 10 do novo milênio.
Com isso geramos um sério problema de juros altos e pessoas endividadas. Esse problema se tornou mais sério com o crédito o que acarretou um esfriamento da economia que travou e gera desempregos. E, apesar de a roda esta começando a se mover no lado econômico, vai demorar um tempo até que ela passe a acelerar de verdade. Até lá, cabe a nós como sociedade mudar o hábito de gastar e amanhã vejo como pago. Mas sim, poupar e comprar quando temos o dinheiro para isso.
Não será fácil, e também não devemos nos preocupar se os outros estão poupando. Vamos começar por nós mesmos, cada um por si, já que é unicamente do interesse da vida financeira de cada pessoa o fato dela poupar ou não.
Claro, muitos podem argumentar que simplificar os gastos e passar a poupar regulamente é difícil. Sim, é verdade esse argumento, mas não criamos um hábito de um dia para o outro. É necessário esforço de nossa parte que dará o exemplo à nova geração, e talvez a próxima geração como um todo poupe mais recursos financeiros e ambientais do que a nossa, sendo assim já seria uma vantagem.
Para desenvolver o hábito de poupar, devemos primeiro nos ater a nossa receita e separar dela 10% no mínimo para guardar e ajustar o padrão de gastos para essa nova receita. Chamamos isso de viver um degrau abaixo de nossa renda. Ao gerar a poupança durante alguns meses e lutar contra o hábito de gastar aquilo que de início estamos juntando, iremos fortalecer nosso músculo poupador.
Para resistir ao nosso impulso de gastar, devemos criar um objetivo concretizável em poucos meses, de onde vamos gastar esse dinheiro, por exemplo: em uma viagem. Esse objetivo deve ser importante para a pessoa que poupa. Se considerar realizada e criar na sua mente a possibilidade de viver o que deseja sem ficar endividado para isso.
Na próxima semana nos aprofundaremos mais nesse assunto, que é deveras importante, até lá deixo a reflexão: Qual o método que você pode usar hoje, para começar a poupar?
(*) David Rocha escreve semanalmente, às terças-feiras. Ele é assessor de investimentos e educador financeiro, que vive o mercado diariamente, desde 2011, e autor do livro Tesouro Direto – Um Caminho para a liberdade financeira de 2016.