“Pedimos, encarecidamente, que as pessoas continuem doando”. O apelo é da presidente estadual da Central Única das Favelas em Sergipe (Cufa) e coordenadora na região Nordeste, Verônica Paiva, para ajudar as pessoas mais necessitadas a enfrentarem o desemprego e a fome, em virtude da pandemia da Covid-19. Ela convida pessoas físicas e jurídicas a continuarem doando cestas básicas ou dinheiro para que diversas famílias em situação de favela possam ser atendidas no Estado.
Desde 2011 atuando na Cufa e a partir de 2014 presidindo a entidade, Verônica Paiva lembra que em março do ano passado foi iniciada a campanha ‘Cufa contra o vírus’ e foi arrecadado R$ 180 milhões, revertidos em cestas básicas, produtos de limpeza e tíquete alimentação. Como a Cufa nacional tem uma parceria com a Rede Globo, a Cufa Sergipe trabalhou junto com a TV Sergipe, afiliada no Estado, e participou do projeto ‘Mãos Amigas’, o que deu bastante visibilidade à instituição.
O trabalho da Cufa Sergipe não se resume, apenas, em arrecadação e doação de cestas básicas, mas numa série de atividades culturais, esportivas e cursos profissionalizantes para dar melhores condições de vida às pessoas carentes. “Montamos os projetos pensando naquele território para levarmos, de fato, o que a comunidade quer. Temos cursos profissionalizantes, que até fevereiro de 2020, nós executamos. Deixamos por conta da pandemia e em breve pretendemos retornar, se não for presencial, vamos nos adaptar para fazermos virtualmente”.
Esta semana, Verônica Paiva, educadora social e “futura pedagoga”, como ela mesma diz, concedeu entrevista ao Só Sergipe e conta sobre a instituição que dirige. Ela também explica como as pessoas podem fazer doações para que eles continuem o trabalho, que é extremamente importante neste tempo de pandemia, e possam ajudar a milhares de desempregados do Estado.
Leia a entrevista, seja solidário e colabore.
SÓ SERGIPE – A pandemia já passa de um ano e neste período, aqui em Sergipe, a Cufa vem tendo um papel importante, ajudando muitas pessoas. A senhora tem como fazer um balanço das atividades da Cufa neste período?
VERÔNICA PAIVA – Nós iniciamos a campanha ‘Cufa contra o vírus’, em março de 2020, justamente pensando nas famílias que atendemos dentro de nossas ações, que são vulneráveis. Algumas vivem em situação de favela. Ao todo foram arrecadados R$ 180 milhões, em cestas básicas, produtos de limpeza, tíquete alimentação, cujo valor varia de R$ 100 a R$ 240. Aqui em Sergipe fechamos o ano com uma média de 85 mil famílias atendidas por um período de seis meses. Outras, entregamos benefícios apenas uma vez e tem famílias que nós conseguimos assistir de março de 2020 até os meses atuais. Quando colocamos isso na balança, ultrapassa 600 toneladas de alimentos doados somente em 2020. Infelizmente, iniciamos 2021 com baixa nas doações, mas com a gana de continuar arrecadando alimentos, por entender que aumentou o número de pessoas que necessitam de ajuda. Temos um perfil de famílias que, antes da pandemia, já viviam com insegurança alimentar, surgiram outras no decorrer do ano porque perderam seus empregos. Aí surgiram, no início deste ano, várias pessoas precisando de ajuda.
SÓ SERGIPE – O que a Cufa pretende fazer para tentar arrecadar mais alimentos para as famílias carentes este ano?
VERÔNICA PAIVA – A arrecadação diminuiu muito, mas, em compensação, nós ganhamos mais pessoas físicas se colocando à disposição para nos ajudar. Estou falando de diversos setores que se reuniram para isso. Um exemplo que dou é de um grupo de amigas, funcionárias da Embrapa, que tiram parte do que têm e montam cestas básicas. Elas entregam mensalmente, uma média de 200 cestas básicas e isso já vem acontecendo desde o ano passado. E aí tem vários outros. Há pessoas que trabalham na Secretaria de Educação, professores, pessoas da capoeira que têm um poder aquisitivo melhor e nos ajudam. Ou seja, um grupo de pessoas físicas que atuam com o intuito de poder ajudar outras famílias. As empresas, este ano, ajudam um pouco menos, mas continuamos recebendo doação. Não na mesma proporção do ano passado, quando procurávamos lugares para guardar as doações. Este ano, um pouco menos, mas não deixamos de assistir as famílias carentes.
SÓ SERGIPE – Antes da pandemia e do projeto ‘Mãos Amigas”, a Cufa já fazia distribuição de cestas básicas?
VERÔNICA PAIVA – A Cufa nunca trabalhou com distribuição de cestas básicas na proporção que vocês vêm acompanhado na mídia. As entregas aconteciam de forma isolada. Uma base no Rio Grande do Sul ou na Bahia que decidia fazer uma campanha e assim por diante. Mas essa proporção, em nível nacional, começou em março de 2020. A Cufa passa a adotar esse eixo de ação humanitária e pretende continuar com as entregas de mantimentos, ao longo dos anos, numa proporção um pouco menor, até porque existem outras ações que agregam e geram oportunidades para as pessoas. Mas, sem deixar esse lado humanitário que, em função da campanha se tornou maior e trouxe visibilidade para nós e conhecimento mais amplo das necessidades básicas das pessoas. Dar continuidade a esse trabalho é uma das atividades que a Cufa adota e pretende continuar por um bom tempo, mas sem abrir mão dos projetos que vem desenvolvendo ao longo destes 20 anos.
SÓ SERGIPE – E quais são esses outros projetos que a Cufa vem desenvolvendo?
VERÔNICA PAIVA – Nós temos a Taça das Favelas, que é um torneio de futebol de campo, voltado para jovens de 14 a 17 anos, temos oficinas culturais e esportivas que acontecem nas escolas no turno oposto ao das aulas, como luta olímpica, muay thai, futsal, além de oficinas de teatro, literatura, reforço escolar. Isso acontece em algumas escolas de Aracaju e também em outros municípios, em parceria com instituições, ou através dos nossos colaboradores. Montamos os projetos pensando naquele território para levarmos, de fato, o que a comunidade quer. Temos cursos profissionalizantes, que até fevereiro de 2020 nós executamos. Deixamos por conta da pandemia e em breve pretendemos retornar, se não for presencial, vamos nos adaptar para fazermos virtualmente.
SÓ SERGIPE – Esse trabalho da Cufa é somente em Aracaju ou se estende para outros municípios sergipanos?
VERÔNICA PAIVA – A base estadual da Cufa, que é a principal, fica localizada em Aracaju. As outras bases fixas que nós temos é em Umbaúba, Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão. Os demais municípios que nós conseguimos atender através das doações foram diversos. Passamos por uma média de 35 municípios, dando prioridade aos povoados, às comunidades quilombolas. Percorremos, também, algumas ocupações. Aí, estou falando de Porto da Folha, Cristinápolis, Itabi, Itabaiana, Carmópolis, no povoado Aguadas onde há famílias que assistimos até este momento. Em 2021, estamos atendendo um pouco menos por conta da redução das doações. Seguimos da comunidade Patioba, que fica em Japaratuba.
SÓ SERGIPE – Como é feita a escolha das comunidades a serem ajudadas?
VERÔNICA PAIVA – Essa triagem nós começamos com os nossos colaboradores. A campanha foi tomando corpo e começamos a identificar outras lideranças que, também, já atuavam nas suas cidades e com o tempo fomos trazendo essas pessoas para montarmos a nossa rede de distribuição. Estou falando de famílias em situação de favelas, mães, o responsável que sobrevive somente com o bolsa família, pessoas que no decorrer da pandemia perderem seus empregos. Esse é o perfil de família que tentamos atender. Existem outras que recebem salário mínimo, mas o número grande de pessoas que reside nessas casas e estão sob a responsabilidade financeira de apenas um, o dinheiro, muitas vezes, não dá para suprir as necessidades. E nós ajudamos por entendemos que passa a ser um complemento alimentar, mas nossa prioridade são mães solo, pessoas em situação de favela. Esse é o nosso público a ser beneficiado.
SÓ SERGIPE – Quantas pessoas atuam na Cufa com a senhora?
VERÔNICA PAIVA – Hoje a Cufa tem 45 voluntários que vão desde a diretoria executiva até as pessoas que trabalham na logística, que atuam na montagem e distribuição das cestas básicas. Temos os mapeadores que fazem a triagem das famílias e dizem para nós o perfil delas. E temos vários outros que vêm e permanecem, outros passam e deixam um pouco de seu legado conosco.
SÓ SERGIPE – Houve a gincana “Mãos Amigas”, da TV Sergipe, e naquela época o trabalho da Cufa ficou bem conhecido. A gincana potencializou bastante o trabalho de vocês?
VERÔNICA PAIVA – A Cufa já tem uma parceria institucional com a Rede Globo e, consequentemente, com as suas afiliadas. Aqui em Sergipe, a TV Sergipe é uma grande parceira, não somente neste ano de pandemia, mas em anos anteriores fazendo a cobertura de todas as ações da Cufa, desde a Taça das Favelas, que é um torneio de futebol, e outras. A Cufa, também, é um ponto de geração de conteúdo para eles. Nós somos parceiros naquilo que se refere a dar visibilidade, vez e voz às pessoas que hoje residem nas favelas ou em situação de favela. É uma parceira que vem de longas datas. Participar do ‘Mãos Amigas’ foi muito importante. A Cufa passou a ter muito mais visibilidade. O nosso trabalho já é conhecido, mas quando você usa uma rede de comunicação que expande a informação você passa a ter mais visibilidade. Tudo que foi arrecadado em dinheiro ficou para a Cufa e nós revertemos em cestas básicas. E as cestas que chegaram foram direto para o Mesa Brasil, que distribui diretamente para as instituições. Foram muitos quilos de alimentos arrecadados. Mesmo depois de ter passado a campanha, muitas outras pessoas e empresas continuaram nos procurando e sempre falando que nos viu participando do ‘Mãos Amigas’.
SÓ SERGIPE – A Cufa já existe em Sergipe há quanto tempo? Vocês são subordinados à Cufa nacional? Existe alguma hierarquia?
VERÔNICA PAIVA – A Cufa aqui em Sergipe já atua há pouco mais de 12 anos. Eu faço parte desde 2011. Antes de mim já existiram outras coordenações, outras pessoas que desenvolveram diversas ações. A hierarquia que existe é a fidelidade. É você ser fiel às diretrizes da instituição. A Cufa tem um lema que é “fazendo do nosso jeito” e desenvolvemos as nossas ações de acordo com a necessidade territorial. Existe o fundador da Cufa que é Celso Athayde, junto com o MV Bill, e outros cofundadores, mas cada Estado, hoje, por questões de organização, tem os coordenadores estaduais. Em alguns locais você vai escutar presidente estadual. E ao lado de cada coordenação existe todo um grupo que dentro do seu conhecimento, contribui para que as ações da Cufa existam. É lógico que seguimos um calendário nacional e precisamos adaptar à nossa realidade, mas existe a liberdade de criar as nossas ações para serem desenvolvidas localmente.
SÓ SERGIPE – Quem é o presidente nacional da Cufa?
VERÔNICA PAIVA – O presidente é Preto Zezé, a vice-presidente é Kaline e há os presidente estaduais. Temos dois coordenadores da região Nordeste, que sou eu e Márcio Lima. Existem algumas representações que se colocam, não na condição de superioridade, mas por estarem à frente organizando as ações. Dentro da Cufa há essa hierarquia como você citou, mas as outras pessoas que ficam ao lado dos coordenadores, são fundamentais para o desenvolvimento das ações, independente da posição em que se encontram no momento. Todos são importantes. Aqui é um elo e quando falta uma engrenagem não vai para frente.
SÓ SERGIPE – Onde fica a sede da Cufa e como as pessoas podem fazer doação de cesta básica ou dinheiro?
VERÔNICA PAIVA – A sede da Cufa fica na rua José Vieira Neto, 95, sala 3, no Porto Danta. Quem quiser trazer os alimentos nós aceitamos ou entre em contato pelo telefone 9.9680.5793, e a nossa equipe vai buscar, principalmente se for em Aracaju ou Grande Aracaju. Para doação em dinheiro acesse o site Mães da Favela ou Cufa.org.br , lá há links com diversas formas de doações e a pessoa escolhe aquela maneira de doar que for mais confortável para ela. Nós também temos os nossos parceiros locais, como alguns supermercados que vendem para a gente por um preço mais em conta e quem quiser entrar em contato facilita. Na página do Instagram da Cufa e no site nacional há os nomes destes supermercados. Esses são os meios que as pessoas têm para fazer suas doações e ficamos muito gratos. Hoje em Aracaju, um pouco mais de 36 famílias vivem em situação de favela, precisando de alimentos, outros que estão desempregados ou vivendo somente com o Bolsa Família. Nós pedimos, encarecidamente, que as pessoas continuem doando. Hoje, olhamos para frente não vemos perspectivas de melhora. Infelizmente são muitas pessoas infectadas, são muitas perdas. E não falo isso externamente. Dentro da Cufa, infelizmente, já perdemos muitos companheiros nessa luta no combate à Covid-19. Mas permanecemos firmes. Todo o trabalho que a Cufa desenvolve hoje é, justamente, para dar vez e voz a estas pessoas em situação de favela. Enquanto houver a necessidade de lutar por esse público, a Cufa vai estar aqui. Não é para fomentar que os espaços da favela permaneçam, mas trabalhar para que ocorra um desenvolvimento territorial e as pessoas tenham mais oportunidade, mais acesso à educação de qualidade, ao esporte, à cultura, essa é a nossa luta. É ser ponte entre o poder público, a comunidade com o intuito de gerar oportunidade para essas pessoas.
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