Essa parece uma pergunta retórica, não? Porém, ela não é tão retórica assim, principalmente quando falamos de liberdade financeira.
Sabe, todos dizem que querem ser livres financeiramente, mas logo percebem que o caminho não é um simples passeio no parque. Ele está mais para uma trilha tortuosa e cheia de pedras.
Ser livre financeiramente quer dizer que em algum momento da sua vida, você tomou uma decisão e seguiu firme e forte em sua convicção de que deveria se libertar das amarras que limitavam sua vida financeira. Se você já o é ou está a caminho de se tornar, sabe muito bem que as tentações são muitas e, também, a falta de apoio de seus semelhantes tende a fazer você duvidar freqüentemente se está no caminho certo.
A dúvida não é ruim, pois faz com que você sempre possa ajustar seus passos para o melhor no momento. O problema dela é quando te impede de agir, ou cria vieses cada vez mais intricados de o porquê você deveria desistir e se contentar com uma vida de mediocridade. Mas o importante é persistir.
Entre alguns dos vieses mais perigosos temos o da ilusão e o da autossuficiência.
O da ilusão aparece primeiro dizendo que você já fez muito e que aquele objetivo que você buscava alcançar representado por um número é besteira. Logo você pode relaxar e achar que tudo está certo.
Mas aí mora um perigo sério. Quando você relaxa demais perde boas oportunidades, seja de trabalho ou negócio, e também de investimentos. Às vezes descuida do orçamento e tem que comprometer sua reserva, o que te deixa mais distante do sonho de se tornar livre financeiramente.
E a autossuficiência me parece o mais perigoso de todos. Por quê? Bem simples, pois para a pessoa ela conseguirá e não deve se preocupar, ou mesmo se planejar para conquistar, pois ela se tornará financeiramente livre, simplesmente por existir, já que suas ações em suma são perfeitas. E mesmo que sua conta bancária diga o contrário, é só porque o mundo não reconhece as suas qualidades excepcionais.
Sinto dizer, mas isso é uma falácia e a mais preocupante na Educação Financeira, já que essa disciplina por assim dizer pede uma observação constante de você e das mudanças que ocorrem em sua personalidade.
Para demonstrar isso é interessante citar uma pesquisa feita na Noruega com pessoas que haviam se acidentado seriamente de carro. Foi perguntado como elas avaliavam sua perícia ao volante, e 98,3% delas se consideravam motoristas excepcionais, bem acima da média. Bom, não preciso dizer que algo está errado nessas autoavaliações.
No livro Rápido e Devagar, o economista e psicólogo israelense Daniel Kahneman, demonstrou que esse mesmo viés de autossuficiência é visto no mercado financeiro, pois as pessoas superestimam sua capacidade de escolher investimentos, sobretudo na renda variável. Mas também nas decisões financeiras do dia a dia, essas pessoas estão normalmente entre aquelas que acham que não precisam estudar educação financeira ou mesmo investimentos, pois em sua visão elas farão a escolha certa.
Mas é claro que farão, pelo menos para elas; e para o resto do mundo, será que é? Se suas contas estiverem no vermelho, será que é o mundo que está errado e não reconhece suas aplicações corretas e seus gastos perfeitos? Sinto dizer que em um país de endividados como o Brasil, o provável é que a escolha financeira e os investimentos tenham sido errados mesmo.
Os maiores investidores e educadores financeiros que tive a honra de conhecer, sempre se preocupavam com a ilusão da escolha perfeita, pois eles sabiam que podiam errar e ao saber disso, tomaram o cuidado de ver diversos ângulos daquela escolha, conseguindo, assim, ótimos resultados.
Não digo que a autoconfiança seja uma coisa ruim, mas ela deve ser balizada com dados reais que comprovem que aquela é uma boa escolha.
Lembre-se, o caminho para a liberdade financeira é um caminho de escolhas e de responsabilidades. A pessoa que trilha esse caminho não pode culpar o outro ou o mundo por seus erros em relação as suas próprias finanças.
Cuidado com a ilusão! Estude muito e quando achar que já sabe de algo, volte para o início e verá que diversas coisas você deixou passar sem nem notar. E ao perceber isso, estará mais um passo à frente para concretizar sua liberdade financeira.
Portanto, pergunto novamente:
Está pronto para ser livre?
(*) David Rocha escreve semanalmente, às terças-feiras. Ele é assessor de investimentos e educador financeiro, que vive o mercado diariamente, desde 2011, e autor do livro Tesouro Direto – Um Caminho para a liberdade financeira de 2016.
** Esse texto é de responsabilidade exclusiva do autor. Não reflete, necessariamente, a opinião do Só Sergipe.