A beleza fugaz das rosas são o melhor exemplo da flor da juventude que se dissipa com os tique-taques dos segundos.
Sem aviso, o fulgor da maturidade brinca de se esconder de forma lenta e contínua… sem nada dizer, só se vai entre o choro da chegada, na sala de parto, e o último suspiro da partida na “hora chegada”.
Será que tem que ser assim? Seremos para sempre cravos e rosas risonhas de viço fugaz? Ou será que haverá entre nós quem tenha o vigor, a força e a robustez quase eternos da *Welwítschia?
Se eu disser que sim, você acredita? Não importa! Direi de qualquer forma: sim! É possível!
A decadência senil não é uma catástrofe inevitável. A decrepitude cronológica (ou envelhecimento), não precisa ser uma sequência nefasta de eventos limitadores e degradantes da condição humana. Esse fim terrível é completamente evitável para a maior parte das pessoas, embora elas não saibam.
Nós, seres humanos, nascemos, crescemos e amadurecemos até atingir a plenitude biológica por volta dos 30 anos de idade quando, então, entramos num platô de estabilidade biológica, a fase da vida na qual mantemos a mesma aparência, sem envelhecer, por alguns anos.
Para alguns, essa fase pode ser curta (de 1 a 5 anos), para outros pode durar 10 ou mais anos, esses são considerados super jovens – pessoas cuja aparência e desempenho físicos (que indicam a idade biológica) são compatíveis com os índices de alguém, pelo menos, 10 anos mais jovem.
Ao fim dessa lua de mel com a juventude, começam a surgir os primeiros sinais do envelhecimento. Começa o, quase inevitável, processo de decadência biológica rumo à decrepitude senil. Começamos a envelhecer tanto por dentro quanto por fora. A manutenção da aparência jovem que cada pessoa apresenta depende basicamente do seu passado (somos todos reféns do passado).
A genética é o nosso passado mais remoto. Somos reféns da nossa genética na longevidade familiar, na propensão às doenças, na forma de pensar e de ver o mundo. Tudo isso vai interferir na velocidade e na qualidade da nossa velhice.
Embora sejamos reféns, não somos escravos da genética. Com o avanço da epigenética, sabemos que os nossos genes são mutantes. Podemos mudar nossas expressões orgânicas, podemos ativar e desativar genes dentro de nós, mudando o curso da genética familiar… Isso é um assunto para outra ocasião.
O meio ambiente representa nosso passado ambiental. As principais variáveis do meio ambiente que interferem na qualidade do envelhecimento são os alimentos, o movimento (versus sedentarismo) e a poluição.
O microambiente interno reflete a forma como reagimos com o mundo. Reflete o modo como vemos e sentimos as coisas que nos cercam. Estudos mostram que envelhecem com mais qualidade de vida as pessoas mais otimistas, mais altruístas e caridosas. As pessoas que perdoam mais e são agradecidas adoecem menos do que as pessoas rancorosas e ingratas. As pessoas que se dizem com mais fé resistem mais às doenças e vencem mais as dificuldades do que os céticos e os pessimistas. As pessoas que se dizem com muitos amigos e que compartilham tempo com eles parecem adoecer menos e viver mais que os introspectivos e os solitários. As pessoas casadas vivem mais e adoecem menos que as solteiras. Essa vantagem é atribuída ao cuidado mútuo e ao bem estar gerado pelos bons sentimentos e pelas companhias duradouras. Como se, de certa forma, o estilo de vida emocional fortalecesse o microambiente corporal contra as doenças e contra a decrepitude senil.
Dessa forma, o envelhecimento doloroso e cruel não ocorre de maneira súbita e igualmente a toda gente… ele é, em suma, uma consequência dos eventos nefastos vividos e acumulados ao longo dos anos.
Enquanto o envelhecimento saudável, a chamada envelhecência, é o resultado da soma de fatores prévios (a genética) mais as escolhas corretas (boa alimentação, atividade física regular, espírito alegre, mente proativa, altruísmo de alma e flexibilidade de pensamentos, por exemplo).
Hoje, sabemos que nossa memória tende a melhorar à medida que somamos os anos. O esquecimento, a caduquice, a amnésia é o resultado de doenças do corpo ou da alma… Idosos saudáveis são memoráveis, em todos os sentidos. Por isso, o estilo de vida escolhido na juventude forja o idoso do amanhã.
Agora, pegue papel e caneta e anote a receita para fazer o bolo da juventude que será servido à mesa da “envelhecência saudável”:
- Mantenha o peso ideal: o sobrepeso e a obesidade são inimigos da envelhecência saudável;
- Mantenha-se em movimento: evite o sedentarismo, esse é o fermento sob o qual cresce a maior parte das doenças que hão de surgir na vida tardia. Apaixone-se por um esporte diferente a cada fase da sua vida, de modo que você tenha sempre motivos para manter-se em movimento (parou, enferrujou!);
- Pode comer de quase tudo um pouco: evite comer muito e, principalmente, três alimentos: açúcar, trigo e leite de vaca (é simples, mas não é fácil). Se conseguir, livre-se do açúcar e do excesso de trigo (as farmácias e hospitais hão de lamentar, mas seu futuro agradece);
- Evite excesso de álcool: o álcool social ou uma pequena dose diária protege a saúde, segundo alguns estudos. Porém, beber todas, mesmo esporadicamente, ou tornar-se alcóolatra antecipa a decadência orgânica;
- Faça e mantenha novos amigos: não deixe cair no esquecimento pessoas que valem à pena. Mantenha por perto as pessoas que te fazem rir, que te dão os melhores conselhos e que não falam mal do próximo;
- Reduza a carga de obrigações: reorganize suas despesas para não precisar trabalhar tanto, nem sempre trabalhar é viver. O ócio criativo é necessário pois o excesso de obrigações oxida e mata;
- Perdoe frequentemente e agradeça sempre: mágoa e ingratidão danificam as células;
- Escove os dentes pelo menos duas vezes ao dia e use o fio dental pelo menos antes de dormir: dentes saudáveis fazem muita falta na envelhecência da vida;
- E, por fim, proteja-se do excesso de sol: além do risco de câncer de pele, que pode abreviar sua vida, os raios solares são responsáveis por 80% das rugas faciais embora muita gente ainda culpe a idade;
- Pronto! Esses são os ingredientes para se alcançar um envelhecência saudável, sem a cara de velhice.
Bom proveito!
Um grande abraço.
* Welwitschia – Planta originária do deserto da Namíbia que pode sobreviver por milênios num dos climas mais hostis do mundo.
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(*) Médico, expert em feridas.